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Livro: “A América e os Americanos”

Podemos conhecer-nos melhor conhecendo melhor os Americanos? Provavelmente encontraremos umas quantas respostas nestas crónicas de John Steinbeck, que se vê a si e aos seus conterrâneos como um “povo imoderado”. E explica porquê.
14 Abril 2022, 10h20

 

Depois de uns séculos de influência francesa, Portugal e muitos outros países do mundo abriram os braços à cultura anglo-saxónica – sobretudo, a proveniente do outro lado do Atlântico. Seja nas leis, na língua, nos valores, entre tantos outros aspetos, hoje, a maior parte das referências e muita da nossa forma de pensar encontra o seu gérmen nos Estados Unidos da América.

Segundo John Steinbeck, escritor comprometido e Prémio Nobel da Literatura em 1962, “na maior parte do tempo, somos um povo imoderado: comemos de mais quando podemos, bebemos de mais, satisfazemos demasiado os nossos sentidos. Mesmo nas nossas chamadas virtudes somos imoderados: um abstémio não se contenta apenas em não beber – tem de acabar com toda a bebida do mundo; um vegetariano entre nós proibiria o consumo de carne, se pudesse. Trabalhamos de mais, e muitos morrem devido à pressão excessiva; e depois, para o compensar, divertimo-nos com uma violência igualmente suicida”.

O texto de onde este excerto foi retirado, “Paradoxo e Sonho”, faz parte do livro “A América e os Americanos e outros textos”, agora reeditado pelos Livros do Brasil, cuja leitura nos permite um mergulho mais profundo no pensamento do autor de “Vinhas da Ira”, provavelmente o seu título mais conhecido (nem que seja graças à versão cinematográfica de John Ford, com Henry Fonda no principal papel).

São mais de cinquenta textos curtos de não ficção, publicados em jornais e revistas no seu país e no estrangeiro, sobre temas de cariz jornalístico, como a Grande Depressão, a Segunda Guerra Mundial, a guerra do Vietname, a pobreza ou o racismo, mas também correspondência, a sua própria escrita, confidências sobre amigos e conhecidos e recordações dos lugares onde viveu.

A título de exemplo, refira-se a crónica dedicada à história de uma canção que, apesar de não falar sobre a guerra, se tornou “a” canção do conflito de 1939-45, sendo apreciada pelos dois lados beligerantes. “Lili Marlene” mostra como “a política pode ser dominada e nacionalizada, mas as canções têm uma forma própria de transpor fronteiras”.

A crónica, tal como a escrita memorialística, permitem ao leitor um contacto mais próximo com a personalidade dos escritores e o seu pensamento, precisamente pelo seu carácter mais instantâneo, mesmo quando – ao contrário do que se passa na atualidade – o autor não está tão pressionado pela necessidade de publicar com elevada frequência. Em português, estão ainda publicados outros livros da obra de não ficção de John Steinbeck, como “Correspondente de Guerra”, “Um Diário Russo” ou “Viagens com o Charley”.

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