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Livro: “Campo Santo”

Nestes longos passeios solitários pela Córsega, W. G. Sebald, apresenta-nos uma visão do mundo que combina ficção, história, autobiografia e até fotografia, abordando alguns dos temas mais profundos da literatura contemporânea: a memória, a perda e o exílio.
14 Setembro 2021, 10h45

 

“Observei uma quantidade incrível de andorinhas-das-barreiras desenhando círculos por cima dos penhascos cor de fogo, do lado da luz para a sombra e da sombra de novo para a luz, e a certa altura dessa tarde que para mim se encheu de uma sensação de liberdade, nadei para o largo com espantosa leveza, tão longe que pensei que podia simplesmente deixar-me ir à deriva, entrar no ocaso e depois na noite.”

Agora que a Boomsbury publicou uma há muito esperada biografia do autor alemão – “Speak, Silence”, de Carole Angier –, nascido na Baviera em 1944 e falecido em 2001, num acidente de viação, temos uma excelente razão para regressar à obra de Winfried Georg Maximilian Sebald.

Há um tempo já aqui referimos que, num ensaio publicado no ano 2000, no “Times Literary Supplement”, Susan Sontag perguntava-se se a grandeza literária ainda seria possível, concluindo que uma das poucas respostas afirmativas era a obra de W. G. Sebald. Para a nova-iorquina, Sebald convertia a viagem em motivo de grandeza e encanto.

De facto, os seus livros são difíceis de qualificar, pois, mais do que relatos de viagem, apresentam-nos uma visão/descrição do mundo que combina ficção, história, autobiografia e até fotografia, abordando alguns dos temas mais profundos da literatura contemporânea: o peso do Holocausto, a memória, a perda e o exílio.

Ao estudar a natureza mutável da memória e do tempo, Sebald demonstra como a literatura pode compensar as injustiças do mundo e, ao mesmo tempo, como teve tanta influência na sua vida; e nos seus livros, encontramos vários ensaios sobre os autores que mais o marcaram.

Publicado logo após o acidente que vitimou Sebald, “Campo Santo” reúne textos sobre uma estadia na Córsega. Aí, uma vez instalado num pequeno hotel, à semelhança do ‘método’ utilizado noutras obras para aceder aos caminhos da memória coletiva e individual, o autor dá longos passeios solitários pela ilha. Estas são, assim, as notas de um viajante do tempo que narra o sentido profundo da História.

A este conjunto de textos sobre a Córsega, segue-se uma série de pequenos ensaios literários sobre Nabokov, Peter Handke e Chatwin, entre outros, alguns dos tais autores que influenciaram sobremaneira a sua obra e a sua vida. Destaque-se, em particular, o texto “Via Suíça para o bordel”, sobre os cadernos de viagem de Kafka, onde descreve a sua ida de Praga para Paris pelo país helvético e o norte de Itália, acompanhado de Max Brod. A edição é da Quetzal e a tradução de Telma Costa.

Esta é a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.

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