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Ébano: Misto de reportagem e arte

História de África, nas décadas de 1960 e 1970, foi rica em acontecimentos, nomeadamente no que respeita à descolonização e consequente independência de diversos países e territórios, e o jornalista polaco Ryszard Kapuscinski (1932-2007) foi uma das grandes testemunhas das várias convulsões vividas no imenso continente africano.
22 Setembro 2017, 11h20

Inclusivamente, foi o único jornalista presente em Angola durante os meses entre a saída dos portugueses e o início das hostilidades que levariam à guerra civil. Retrato extraordinário de um imenso continente, “Ébano” foi reeditado em português pela ressuscitada editora Livros do Brasil, agora uma chancela da Porto Editora, facto que deve ser devidamente assinalado.

Sobre Kapuscinski, Salman Rushdie afirmaria que “vale mais do que a histeria de mil jornalistas fantasiosos e, através da sua mistura extraordinária de reportagem e arte, chegamos tão perto quanto é possível, através da leitura, do que ele chama a imagem incomunicável da guerra. O nosso século é dos mais indecifráveis, a sua verdadeira natureza um segredo sombrio. Kapuscinski é o tipo de decifrador de que precisamos.” Ele foi, de facto, um mestre nesta mistura de reportagem e arte, que viria a ser cunhada de jornalismo literário. Os seus textos partem, com frequência, dos encontros com o cidadão comum, enquanto pernoitava na casa de agricultores na savana tropical ou se deslocava de camião pelo deserto, medindo as distâncias em dias e não em quilómetros, dadas as condições das estradas e dos veículos ou mesmo a imprevisibilidade de arranjar transporte.

Polaco, nascido numa cidade que hoje pertence à Bielorrússia, cedo na sua carreira começou a viajar para reportar os eventos em locais como Kiev, Índia, Afeganistão e África, para onde se deslocou em trabalho pela primeira vez em 1957. Passa seis meses como correspondente na China, e regressa a África sempre que pode, por entre viagens à América Latina e Médio Oriente. Sobre África, afirma ser “um continente demasiado grande para poder ser descrito. É um verdadeiro oceano, um planeta independente, um cosmos variado e rico”. E “Ébano”, coletânea de textos diversos sobre vários países, do Gana à Eritreia, é um espelho dessas múltiplas identidades africanas, através de retratos de pessoas a quem Kapuscinski confere grande dignidade.

Kapuscinski, que andava sempre com as “Histórias”, de Heródoto debaixo do braço, é um excelente companheiro de viagem aonde quer que vamos.
A sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante

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