“Ahmad Shah Massud estava sentado na relva e falava de fuga. Os inimigos apertavam o cerco à sua volta, como, aliás, tinham feito a maior parte da sua vida. Ficara sem território, embora também isto dificilmente fosse notícia. O seu exército de pé descalço sobrevivia à base de soldados-crianças e de velhos helicópteros soviéticos. Os talibãs, um pouco mais abaixo naquela mesma estrada, chegariam em breve.”
Este excerto pertence a um artigo escrito em 1999, dois anos do ataque às Torres Gémeas, cujo vigésimo aniversário se assinalou há dias. O próprio Massud, conhecido como o Leão do Panshir e o mais carismático dos comandantes dos guerrilheiros afegãos, seria morto dois dias antes do 11 de Setembro de 2001, num atentado à bomba. Vinte e dois anos depois, o Afeganistão volta a ser subjugado pelos talibãs.
Infelizmente, a ideia de que a História se repete parece confirmar-se com a terrível situação afegã – que, recentemente, tão depressa inundou manchetes de jornais e aberturas de telejornais, quão depressa desapareceu completamente das páginas dos periódicos e dos alinhamentos informativos televisivos em Portugal. Durante uns dias, analistas políticos e especialistas em assuntos militares procuraram explicar aos atónitos cidadãos ocidentais a rapidez com que aquele país voltou a cair num tempo de trevas e barbárie. Ao fim de quarenta e dois anos em guerra, os afegãos continuam a tentar sobreviver e o futuro continua tão incerto como quando da invasão soviética.
Publicado em 2008, “Guerra sem Fim. Reportagens no Afeganistão e no Iraque”, que junta diversos artigos escritos para o “Los Angeles Times” e para “The New York Times”, a partir de 1998, ajuda a explicar como tal foi possível. O autor de, Dexter Filkins, foi correspondente do “New York Times” nestes dois países. O seu trabalho no Afeganistão e no Paquistão, em conjunto com outros repórteres, valeu-lhe o Prémio Pulitzer, em 2009.
Existem diversos livros sobre as guerras do Afeganistão e do Iraque e sobre a guerra contra o terrorismo, mas nesta narrativa o contexto não se desenrola só à volta da ação militar, mas também na interrelação dos factos com as personagens do conflito, capturando com um imediatismo cortante a experiência humana e consequente tragédia da guerra. De um realismo atroz e palpável, “Guerra sem Fim” tem, todavia, o mérito da imparcialidade pois conta o que viu e ouviu dos personagens que viveram o drama, mas deixa ao leitor a tarefa de tirar conclusões.
Editado pela Casa das Letras, o livro tem prefácio da jornalista Cândida Pinto.
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