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Livro: “Ida e Volta. À Procura de Babbitt”

Misto de crónicas de viagem, correspondência e diário, onde o leitor encontra as impressões de uma viajante sensível, observadora e lúcida, “Ida e Volta” é o resultado de uma viagem pelos EUA nos anos 60. Aparentemente, há coisas que não mudam…
15 Abril 2023, 11h29

“Conheci Dixie. Como uma ventania, precipitou-se para dentro da sala, falando depressa, gesticulando, tão depressa a rir como a lamentar-se. (…) Tem marido e três filhos, trata sozinha de todos os trabalhos de casa, pilota um avião, escreve ‘short-stories’ e, como boa católica, nunca falta à missa. Onde arranjará tempo para isso tudo?”

“Ida e Volta. À Procura de Babbitt”, publicado em 1960, dois anos depois de Ilse Losa ter feito uma viagem aos Estados Unidos, é um misto de crónicas de viagem, correspondência e diário, onde o leitor encontra as impressões de uma viajante sensível, observadora e lúcida, que transforma em vida interior toda a experiência recolhida: as pessoas observadas, os pequenos factos consciencializados, a paisagem humana.

A autora dá particular atenção ao que vê como profundos problemas da sociedade norte-americana, nomeadamente, o preconceito racial e a injustiça contra os negros.

Numa segunda edição, de 1993, pelas Edições Afrontamento, Ilse Losa aproveitou para depurar o texto, algo que lhe era habitual. Revia, cortava, reescrevia, daí resultando uma obra mais cuidada, mas mantendo o essencial – e as questões dos direitos humanos sempre foram uma das suas grandes preocupações.

Ilse Losa nasceu perto da cidade de Hanôver, na Alemanha, a 20 de março de 1913. Frequentou o liceu em Osnabruck e Hildesheim e, mais tarde, um instituto comercial em Hanôver. Em 1930, passou um ano em Inglaterra como au pair. Filha de judeus alemães, cedo começou a sentir o anti-semitismo que alastrava pelo país, acabando por sair da Alemanha, com a mãe.

Chega a Portugal em 1934, para se juntar ao irmão, Fritz, que vivia no Porto. No ano seguinte, casa com o arquiteto Arménio Taveira Losa, e adquire a nacionalidade portuguesa. É também nesse ano que se junta à recém-criada Associação Feminina Portuguesa para a Paz, de cariz apolítico e não religioso, um espaço para o desenvolvimento da cidadania das mulheres, acolhimento de refugiados (primeiro devido à Guerra Civil de Espanha e, depois, à Segunda Guerra Mundial) – que aceitava homens como membros – e que seria dissolvida pelo Estado Novo em 1952 (dela fizeram parte, por exemplo, Maria Barroso, Maria Lamas, Irene Lisboa, Vitorino Nemésio, Teixeira de Pascoaes, Júlio Pomar ou Lima de Freitas).

Em 1949, sai o seu primeiro livro, “O Mundo em Que Vivi”, sobre a sua vida na Alemanha até ao exílio. A partir daí, dedicou-se à literatura infanto-juvenil e à tradução, tendo recebido por duas vezes o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique. Morreu aos 92 anos, na cidade do Porto.

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