Há livros de memórias que são muito mais do que apenas recordações pessoais do autor ou autora – o que, dependendo de quem escreve, até pode ser muito interessante. Há pessoas que, ao narrarem a sua vida, nos dão a conhecer, de forma profunda, o lugar e a época em que viveram, pintando, assim, um quadro mais abrangente (e o verbo ‘pintar’ é mesmo o mais adequado, como se verá).
“No Fio Inconstante dos Dias: Memórias de Uma Vida Flutuante”, livro único de Shen Fu, funcionário público chinês, que nasceu no final de 1763 e morreu, presumivelmente, em 1825, é um bom exemplo disso mesmo. Fu viveu durante a Dinastia Qing (também conhecida por Manchu, dada a sua origem, na Manchúria), a última dinastia imperial chinesa e, apesar das suas obrigações profissionais – como secretário particular, vivia ao sabor dos favores dos senhores locais e ao empenho de amigos influentes.
Ao longo da vida, Fu manteve-se fiel aos três amores da sua vida: a sua mulher, Yun (com quem casou em 1780, com 17 anos), a literatura e a pintura. Para além de autobiografia e história de amor, delicada como uma haste de bambu, o livro, cujo título evoca um poema de Li Bai (“Ah, esta vida flutuante como um sonho… A verdadeira felicidade é tão rara!”), é um documento social fascinante, sobretudo graças às descrições que faz das suas viagens pela China, então um país intrigante para os ocidentais.
A edição portuguesa é da Guerra & Paz, numa versão de Eugénia de Vasconcellos e Manuel S. Fonseca, que assina também a Introdução.
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