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Livros para devorar ou saborear com calma em dias quentes

Ninguém quer pensar em maratonas, sejam elas literais ou de leitura. O momento é de descontração, puro deleite, à sombra e bem acompanhado. De um livro, por exemplo. Ou mais de um, porque dois nunca é multidão… nem maratona.
23 Julho 2022, 08h12

Não vamos partir do princípio que toda a gente já se encontra em “modo veraneio”, com os pés dentro de água e horizontes infinitos pela frente. Ou com vista para a serra, onde impera o verde seco, para estragar um pouco o quadro idílico – convém não esquecer que vivemos tempos de seca grave e que será boa ideia adotar comportamentos responsáveis.

Mas já tergiversamos quando a ideia é deixar algumas sugestões de leitura, enquanto o leitor decide se vai a banhos ou saboreia antes uma bebida fresca, se vai afundar-se naquela poltrona confortável lá de casa e deixar-se levar pelas histórias que os livros prometem. E, felizmente, muitos cumprem.

Para não dizer que não tem cúmplices de viagem nos próximos dias, começamos por uma incursão ao futuro.

 

“O Homem Ilustrado”, de Ray Bradbury | Cavalo de Ferro

“O Homem Ilustrado” é um dos livros mais famosos de Ray Bradbury e já foi  adaptado com sucesso ao cinema, à rádio e à televisão. O protagonista é uma figura errante e enigmática, tem o corpo coberto por ilustrações e, alguém diria, talvez em voz sussurrada, que mais parece uma aberração. Ao ponto de, na sua busca de trabalho, tais “adornos” afugentarem tudo e todos. “O Homem Ilustrado” mergulha na psicologia e nas emoções mais íntimas do ser humano que habita em mundos futuros, mas assustadoramente parecidos com o nosso.

Bradbury conta no currículo com o Prémio Pulitzer e o National Book Foundation’s Medal for Distinguished Contribution to American Letters, sendo que “O Homem lustrado” é considerado por muito como uma das suas obras visionárias.

 

“Persuasão”, de Jane Austen | Guerra & Paz

Poucos meses depois da morte de Jane Austen, em julho de 1817, o mundo foi brindado com a edição póstuma de “Persuasão”, o último romance da escritora britânica. A obra, escrita na ressaca das Guerras Napoleónicas, versa sobre o embate entre dois mundos: o da aristocracia, saudosista dos tempos passados, nas mãos de quem (ainda) estão todos os privilégios, e o de uma nova classe que começa a ascender na sociedade, assente nas patentes militares e nas recompensas pela sua participação no esforço de guerra.

 

“O meu irmão Serge”, Yasmina Reza | Quetzal

O mais recente romance da francesa Yasmina Reza conta-nos a história de uma família judaica, os Poppers. Temas sérios são aqui abordados com uma boa pitada de humor, ao ponto de os Poppers saltarem aos olhos como gente umas vezes insuportável, outras inteligente, amiúde ambas as coisas. Humana, acima de tudo.

Roubando informação à sinopse, em “O Meu Irmão Serge”, a autora centra a narrativa em redor de três irmãos, agora na casa dos cinquenta, e numa viagem que fazem juntos a Auschwitz. Serge, a personagem mais flamejante da família, é o irmão mais velho, mulherengo e hipocondríaco; Nana, outrora a menina dos olhos do pai, destinada a um futuro glorioso em altas esferas, acaba casada com um espanhol esquerdista e sem dinheiro; Jean, o irmão mais novo, é um homem sem grandes encantos e a quem ninguém presta muita atenção – embora seja ele quem cuida da paz entre os irmãos.

 

“Portugal Lendário”, de José Viale Moutinho | Temas e Debates

O autor, José Viale Moutinho, não se coibiu de dizer, a propósito deste livro, que “um país sem lendas é um aborrecimento, é capaz de nem existir.” Aborrecido seria e levar-nos-ia, seguramente, a questionar a sua existência. Para evitar-nos tal angústia, “Portugal Lendário” convida a viajar por aldeias, vilas e cidades de Portugal de todas as regiões de Portugal continental e ilhas.

Jornalista e escritor, Viale Moutinho tem desbravado outras áreas de interesse na escrita, nomeadamente a literatura infantil e a poesia, mas, não menos importante, tem levado por diante trabalhos de investigação na área da Literatura Popular. Este não é o corolário dessa demanda, mas será mais uma etapa nesse gosto de recuperar marcas identitárias que possam vir a perder-se na voragem do tempo.

 

“A Nova Ordem Mundial”, de H. G. Wells | Dom Quixote

A reedição deste clássico de ciência política, publicado originalmente em 1940, “A Nova Ordem Mundial”, de H. G. Wells, remete o leitor para o contexto dessa década. Nessa altura, Wells apresentou propostas concretas parra uma nova geopolítica, que inspiraram a criação da ONU e da União Europeia. Em tempos de perigo, de liberdade ameaçada e da (sempre) relevante chamada de atenção para os movimentos históricos, o livro não só marcou uma época, como veio a tornar-se uma ‘cartilha’ sobre o futuro do mundo.

Autodidata incansável, licenciou-se em Ciências pela Universidade de Londres. Para além das suas obras na área da ciência política, ficou para a história como um dos pioneiros da ficção científica. Destacam-se, de entre os numerosos livros que publicou, The Time Machine (“A Máquina do Tempo”, 1895), The Island of Doctor Moreau (“A Ilha do Doutor Moreau”, 1896) e The War of the Worlds (“A Guerra dos Mundos”, 1897).

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