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Logística: ensino superior está a formar para um setor em expansão

Gerou emprego e criou oportunidades para a formação nos últimos anos. Universidades, politécnicos e escolas profissionais reforçam oferta para responder às necessidades que as empresas têm de recrutar profissionais qualificados.
7 Junho 2020, 12h00

Diretor de operações, supervisor de logística, responsável de compras… as funções são muitas. A logística existe em todos os setores de atividade, desde os serviços, à indústria, da construção aos transportes. Todos são diferentes, mas todos geram oportunidades de emprego, que precisam de recursos humanos qualificados.

“A logística faz parte do core business da organização, por isso os seus profissionais devem ter uma visão mais financeira, mais estratégica, analítica e global, para além da visão operacional, para que sejam bem-sucedidos neste setor”, explica Filipe Forte, associate manager da Michael Page, ao Jornal Económico. Segundo o responsável pela área de Engineering, Logistics & Supply Chain desta empresa de executive search, não há um perfil desenhado a régua e esquadro para quem queira vingar profissionalmente nesta área, até porque – justifica – “o que hoje pode ser uma característica importante, amanhã poderá ser secundário”.

Portugal chegou com algum atraso a esta corrida e só mais recentemente a logística começou a ser vista como um dos pilares fundamentais das empresas, que começaram a dinamizar o mercado de recrutamento. Neste domínio, Filipe Forte assinala, nos últimos anos, “uma grande procura por parte das organizações”, com a procura, por vezes, já a superar a oferta.

A tendência irá, ao que tudo indica, manter-se, e até agravar-se, ultrapassada a crise provocada pela pandemia de Covid-19, uma vez que os profissionais existentes ou que, entretanto, venham a sair das escolas não deverão chegar para as encomendas. “Face à necessidade que existe ao dia de hoje, poderá não ser suficiente nos próximos anos”, adianta Filipe Forte ao JE. As oportunidades cobrem todo o espetro, desde “juniores cheios de potencial” até “seniores com vasto conhecimento do mercado”.

O associate manager da Michael Page na área de Engineering, Logistics & Supply Chain diz ainda que, neste seu foco para “fortalecer os departamentos de logística e transportes”, as empresas e organizações que operam em Portugal apostam em profissionais com fortes competências técnicas, analíticas e operacionais. Formações como engenharia e gestão industrial, logística, transportes, engenharias ou gestão são valorizadas para funções de ‘middle’ e ‘top management’. Também para cargos de supervisão ou de segunda linha se verifica alguma procura por formações avançadas, mas, para já, não são um fator fundamental na tomada de decisão. “Ajudam”, realça este responsável.

“A logística e os transportes estão a seguir a tendência de outros departamentos, visto serem áreas cada vez mais importantes dentro de uma estrutura, pelo que a formação será cada vez mais importante no percurso profissional de um colaborador”, destaca Filipe Forte.

O que se pode aprender
Estará o sistema de ensino a conseguir dar resposta às necessidades das empresas? “Não tenho qualquer dúvida”, diz Luís Picado Santos, professor catedrático de Transportes e Vias de Comunicação do Instituto Superior Técnico e presidente do CERIS (Civil Engineering Research and Innovation for Sustainability) ao Jornal Económico.

Este especialista em transportes e logística, que conhece a oferta formativa, em geral, e a do Técnico, em particular, junta os resultados à chancela de qualidade. “Os profissionais formados para o ambiente empresarial têm sido muito significativos como o demonstra a empregabilidade e participação ativa no setor dos que saíram formados. Também em vários tipos e plataformas de colaboração, as empresas do setor têm-se associado ao Técnico e vice-versa, para a promoção de formação específica”.

A maior escola de Engenharia do país tem oferta para todos os públicos-alvo. Além da integração de alguns conteúdos em mestrados mais tradicionais, como Engenharia Civil, vai oferecer em 2021-2022 o Mestrado em Sistemas de Transportes (2º ciclo), herdeiro de um curso similar existente desde os anos 1980. Luís Picado Santos destaca ainda o Programa Internacional de Doutoramento em Sistemas de Transportes (3.º ciclo), oferecido durante dez anos, em coordenação com o programa de colaboração internacional MIT Portugal, com a participação do MIT e de duas outras universidades portuguesas, que já formou mais de 100 doutorados, nacionais e estrangeiros, com empregabilidade total. Do ponto de vista da formação mais focada em cursos de curta duração, a oferta em transportes e logística da instituição é diversificada e pode ser avaliada em iniciativas da FUNDEC.

As escolas de administração são outro lugar onde se pode obter formação em logística. O ISCAL – Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa, por exemplo, tem uma licenciatura em Comércio e Negócios Internacionais, em que a preocupação é “capacitar os alunos para intervenções complexas em âmbito da logística internacional”.

Fernando Miguel Seabra, diretor do curso, explica ao Jornal Económico que “a necessidade de aproximar os alunos da realidade prática das operações” levou a escola, nos últimos meses, a assinar “diversos protocolos de colaboração, quer com empresas com grande destaque no panorama empresarial, quer com associações”. Estão no caso a APOL – Associação Portuguesa de Operadores Logísticos, a APAT – Associação dos Transitários de Portugal e a AGEPOR – Associação dos Agentes de Navegação de Portugal. Mais recentemente também foi celebrado um protocolo de colaboração com a ODO – Ordem dos Despachantes Oficiais. “Destas colaborações, assim como de outras que temos vindo a constituir, resultará um mais claro entendimento das necessidades de formação e de capacitação de profissionais de elevado desempenho operacional, estratégico e ético”, salienta Fernando Miguel Seabra.

ESTG: 244 candidatos para 20 vagas
Na região Norte de Portugal, o Instituto Politécnico do Porto também está a apostar forte na logística. O elevado potencial de empregabilidade presidiu à decisão da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) desta instituição de lançar no ano letivo 2018/2019 a licenciatura em Gestão Industrial e Logística. A aposta foi reforçada este ano com um CTeSP: o Curso Técnico Superior Profissional em Gestão Industrial 4.0.

A primeira fornada de diplomados chegará ao mercado em 2021. Marisa Ferreira, diretora do curso de licenciatura em Gestão Industrial e Logística, está confiante quanto aos resultados. “É nossa convicção que os recém-diplomados nestas áreas são absorvidos pelo mercado de trabalho e que as necessidades das empresas não estão totalmente colmatadas com as atuais competências existentes no mercado”, diz ao Jornal Económico. Assim é no Tâmega e Sousa, uma região fortemente industrializada, em cujo desenvolvimento esta escola desempenha um papel essencial, pois é a única instituição de ensino superior público aí localizada.

A necessidade das empresas por profissionais desta área é visível também pela elevada procura registada na licenciatura em Gestão Industrial e Logística da ESTG: 244 candidatos disputaram as 20 vagas na última edição do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior.

“Trata-se de uma área que reconfigura novas abordagens, que apela à maturidade na intervenção organizacional e que revela um grande poder de atratividade”, conclui Marisa Ferreira.

Na logística, como em qualquer outra área de registo mais técnico, a formação de boa qualidade é indispensável. Fora do universo do ensino superior encontram-se as escolas de formação profissional, muitas delas com forte ligação às empresas. Damos um exemplo: ATEC – Academia de Formação. Promovida pela Volkswagen Autoeuropa, Siemens, Bosch Termotecnologia e Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã, esta escola forma para o consórcio, mas também para o mercado, estando aberta a empresas e particulares. Disponibiliza cursos específicos que vão de Conhecimentos Básicos da Cadeia de Abastecimento, até Gestão de Armazéns, passando por Gestão de Clientes à distância (Online Training) e Logística Estratégica e Modos de Transporte, no total de uma dezena de cursos.

Com o presente ano letivo já na reta final, a logística poderá ser o futuro para alguns jovens portugueses, aos quais Filipe Forte deixa um conselho: “A logística vai continuar a crescer, pelo que caso goste, se dedique e esteja aberto a aprender, terá porventura um percurso profissional de sucesso nos próximos anos, pois este setor estará cada vez mais próximo dos poderes de decisão e será mais importante dentro da organização”.

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