Rui Pinto é a única fonte dos documentos do Luanda Leaks. O alegado hacker terá entregue os mais de 700 mil documentos ao seu advogado William Bourdon e à Plataforma para a Proteção de Denunciantes em África (PPLAAF), organização da qual o advogado é diretor.
“A fonte dos Luanda Leaks é o denunciante Rui Pinto”, avançou esta segunda-feira em comunicado a PPLAAF, que garante que a revelação dos documentos “não teve uma motivação política”.
“A PPLAAF está satisfeita que mais uma vez um denunciante está a revelar ao mundo ações que vão contra o interesse público internacional. Como no caso dos Football Leaks estas revelações deverão permitir que sejam lançadas novas investigações, ajudando assim no combate contra a impunidade para os crimes financeiros em Angola e no mundo”, disse William Bourdon no comunicado da PPLAAF.
Também o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) veio hoje a público elogiar o trabalho de Rui Pinto: “Os documentos tiveram origem num cidadão preocupado, alguém que tomou a atitude certa pelo interesse público”, segundo o diretor do ICIJ, Gerald Ryle.
A Plataforma PPLAAF aponta que desde a publicação dos Luanda Leaks, a “consultora PWC anunciou que uma investigação interna está a ser conduzida e que deixou de trabalhar com certos indivíduos e empresas relacionadas como o esquema. EuroBic, um banco sediado em Lisboa com Isabel dos Santos como a maior acionista, disse a 20 de janeiro que estava a terminar a sua “relação comercial” com ela”.
“Apesar de ter extensos recursos naturais e uma economia em rápido crescimento, Angola permanece um dos países mais pobres no mundo, com elevadas taxas de desigualdade e corrupção alargada”, disse a PPLAAF.
“José Eduardo dos Santos foi presidente de Angola de 1979 a 2017. Durante a sua presidência, a corrupção foi endémica, e ele foi regularmente acusado de enriquecer a sua família, incluindo através de nepotismo. A sua filha foi apontada presidente da Sonangol, a petrolífera angolana, e o seu filho presidente do fundo soberano de Angola”, acrescenta.
A investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) fez várias revelações sobre os negócios da empresária angolana, a partir de 715 mil documentos. Esta operação contou com a participação de 6 meios de comunicação social de 20 países, incluindo o jornal Expresso e a televisão SIC em Portugal.
O diretor do ICIJ aponta que a “revelação deste material à PPLAAF, que por sua vez o entregou aos parceiros do ICIJ, providenciou provas indisputáveis de miséria desnecessária que foi infligida ao povo de Angola, e aos facilitadores que ficaram ricos ao ajudar”, segundo Gerard Ryle.
PJ acredita que Rui Pinto denunciou Luanda Leaks
Já o jornal Público tinha revelado no sábado que a Polícia Judiciária acredita que Rui Pinto é o denunciante na origem dos Luanda Leaks, que revelaram os 715 mil documentos que expuseram muitos negócios da empresária Isabel dos Santos.
A PJ aponta que muitos dos documentos que têm estado a ser divulgados fazem parte do processo que está em julgamento assim como de outros inquéritos que continuam em investigação. Estes documentos estavam guardados em discos rígidos, pens e computadores apreendidos ao pirata português quando foi detido na Hungria.
As autoridades portuguesas já começaram a aceder aos mesmos, mas muita informação continua inacessível, pois a maior parte dos discos rígidos estava encriptada com um software que muito dificilmente poderá ser aberto, aponta o Público.
10 demissões no espaço de uma semana
No espaço de uma semana, as revelações feitas pela investigação jornalística Luanda Leaks já provocaram várias demissões em empresas participadas por Isabel dos Santos, como a NOS, Efacec e EuroBic. Em Angola, as revelações também estão a provocar réplicas em empresas como o Banco de Fomento de Angola (BFA) ou a operadora de telecomunicações Unitel.
O Luanda Leaks provocou assim um total 10 demissões no espaço de uma semana: Mário Leite da Silva e Jorge Brito Pereira deixam de ser presidentes do conselho de administração e da assembleia geral da Efacec; Jorge Brito Pereira saiu da sociedade de advogados Uría Menéndez-Proença de Carvalho; O presidente do Conselho de Administração do Banco de Fomento Angola (BFA) renunciou ao cargo nesta instituição, Mário Leite Silva; Três administradores não executivos da operadora de telecomunicações NOS envolvidos no Luanda Leaks renunciaram na quinta-feira aos seus cargos: Mário Leite da Silva, Paula Oliveira e Jorge Brito Pereira, do cargo de presidente do conselho de administração; o líder de fiscalidade da PWC em Portugal, Jaime Esteves, deixou o seu cargo.
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