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Lula da Silva diz que Mercosul e União Europeia podem acabar sem acordo

Ao cabo de duas décadas e da assinatura de um acordo geral que aparentemente não conseguiu ser aprofundado, o presidente brasileiro parece ter desistido de esperar.
3 Dezembro 2023, 15h14

O presidente brasileiro, Inácio Lula da Silva, admitiu que as negociações para um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE) podem fracassar e, caso isso aconteça, não será por falta de vontade dos países sul-americanos. “Se não houver acordo, paciência. Não foi por falta de vontade”, disse Lula da Silva, citado pela Lusa, numa conferência de imprensa no Dubai, antes de embarcar para Berlim, onde iniciará uma visita oficial. “A única coisa que tem que ficar clara é que eles devem parar de dizer que a culpa é do Brasil e da América do Sul”, disse.

Segundo o presidente brasileiro, os responsáveis pelo fracasso do acordo são os países ricos que não querem fazer concessões e querem sempre ganhar mais. Lula da Silva referia-se à França, já que o presidente Emmanuel Macron disse, numa conferência de imprensa no sábado no âmbito da cimeira do clima (COP28), ser contra o acordo, declarações com as quais praticamente fechou as possibilidades de haver luz verde sobre o assunto.

Lula da Silva reiterou à imprensa que a França é um país protecionista que quer que os “milhões” de pequenos produtores que tem possam vender os seus produtos e, por isso, “criou um obstáculo” ao acordo.

“E nós não somos mais colonizados. Somos independentes. E queremos ser tratados com o respeito dos países independentes que têm coisas para vender”, afirmou. O presidente brasileiro referiu que os produtos dos países do Mercosul também têm um preço e o que se busca é “um certo equilíbrio”. “Se não houver acordo, pelo menos ficará claro quem foi o culpado pela falta de acordo”, frisou.

Após duas décadas de conversações, em 2019, a UE e o Mercosul chegaram a um acordo político geral para selar o pacto, deixando pendente a resolução de alguns aspetos técnicos. No entanto, essa discussão foi complicada pelo surgimento de novas exigências de ambos os lados da mesa, em particular as relacionadas com as questões ambientais da União Europeia.

Há muito que alguns países da União Europeia foram identificados como estando pouco interessados em desenvolver um acordo que, dizem traria grandes vantagens para os países da América do Sul, sem que a contraparte ganhasse o mesmo tipo de benefícios.

O Mercosul vai realizar a sua cimeira bianual a 6 e 7 de dezembro, no Rio de Janeiro, e esperava anunciar nessa altura a conclusão positiva das negociações com a UE. Mas o mais provável é que isso não venha a suceder.

Recorde-se que em julho passado e oito anos depois realizou-se uma cimeira entre a União Europeia e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). Foram oito anos em que a principal notícia vinda da região CELAC foi que a China chegou: Pequim é o maior parceiro comercial da esmagadora maioria dos países da América Central e do Sul.

O distanciamento entre a União e a CELAC deu-se também pelas enormes dificuldades na conclusão de um acordo abrangente entre os 27 e o Mercosul – acordo que andou em bolandas durante duas décadas e foi ‘bombardeado’ pelas mais diversas entidades.

Na abertura do encontro de julho – onde, entre outros, estava o presidente do Brasil e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, esta anunciou um grande investimento da União Europeia nos países da América Latina e das Caraíbas. “A UE vai investir muito nos países da América Latina e das Caraíbas”, anunciou (citada pela Lusa) no final de uma reunião com Lula da Silva, à margem da cimeira.

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