[weglot_switcher]

Lula da Silva protagoniza oposição a Trump na ONU

O presidente do Brasil soltou um sonoro Grito do Ipiranga contra as arbitrariedades da administração Trump e contra as ingerências da Casa Branca no seu próprio país.
28 Setembro 2025, 18h00

Como é costume, coube ao Brasil a primeira intervenção na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, a 80ª, mas, ao contrário do acontece quase sempre, e apesar dos cuidados linguísticos, Inácio Lula da Silva decidiu produzir um discurso de combate, mesmo de revolta, que, sem o nomear, tinha por destinatário o seu homólogo norte-americano, Donald Trump. Demonstrando coragem política e sentido de oportunidade – a AG da ONU é o maior palco político do mundo – Lula da Silva deixou clara não só a sua posição diante das medidas do presidente Donald Trump para interferir no julgamento e condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, como também de que lado está face à pouca confiabilidade que emana da Casa Branca.

Brasil contra Trump
Para Lula, as sanções e tarifas dos Estados Unidos contra o Brasil são uma ameaça à soberania, mas o país optou por, contra o poder da força do norte, defender as instituições e resistir a pressões: “o Brasil optou por resistir e defender a sua democracia”, disse. “O Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas” – frase que não deixava margem para dúvidas sobre o destinatário.
Lula da Silva fez uma defesa enérgica da democracia brasileira no meio dos ataques da administração Trump e condenou a inação das maiores economias do mundo frente ao “genocídio na Faixa de Gaza”. Sem citar o presidente norte-americano ou os Estados Unidos diretamente, Lula disse que “o autoritarismo fortalece-se quando nos omitimos frente a arbitrariedades”; “em todo o mundo, forças antidemocráticas tentam subjugar as instituições e sufocar as liberdades”. E uma vez mais sem citar nomes, defendeu o julgamento que condenou o ex-presidente Bolsonaro a 27 anos de prisão: “mesmo sob ataque sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender a sua democracia, reconquistada há 40 anos pelo seu povo, depois de duas décadas de governos ditatoriais”, afirmou, referindo-se ao facto de Trump ter dito explicitamente que a tarifa imposta ao Brasil (50%) tinha diretamente a ver com o julgamento de Bolsonaro. “Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam: a nossa democracia e a nossa soberania são inegociáveis. Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela”, frisou.
Para Lula da Silva, “a ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema-direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias. Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade.”

Trump contra a Europa
Do seu lado, Donald Trump escolheu a Europa como o ‘bombo da festa’. Assim, disse, sobre a imigração, “vocês [europeus] estão a destruir os vossos países. Estão a ser destruídos. A Europa está em sérios apuros, foi invadida por uma força de imigrantes ilegais como ninguém jamais viu. Imigrantes ilegais estão a invadir a Europa”. “Os vossos países estão a ir para o inferno”. Mas afirmou também que “nem mesmo os países [europeus] da NATO cortaram grande parte do fornecimento de energia e produtos energéticos russos. Eles estão a financiar a guerra contra si mesmos. Estão a comprar petróleo e gás da Rússia enquanto lutam contra ela. É constrangedor”. Já sobre as alterações climáticas, que voltou a negar, Trump disse que” estamos a livrar-nos das energias renováveis. Elas são uma piada”: “A Europa, por outro lado, tem um longo caminho a percorrer, com muitos países à beira da destruição por causa da agenda da energia verde”.
A ONU também esteve sob a mira do veneno discursivo de Trump, que qualificou aquela organização como inoperante, desleixada e ‘viciada’ na perseguição de alguns países – estando por certo a referir-se a Israel. Pior ainda (presume-se), a ONU descartou a oferta de um investimento imobiliário proposto por Donald Trump, coisa que o presidente dos Estados Unidos aparentemente não consegue perdoar à organização. Para todos os efeitos, a abertura da AG da ONU ficou marcada pela captura da agenda por parte da Palestina – Estado reconhecido na altura por mais dez países (serão já mais de 155) – o que ficará marcado na sua própria história como uma estrondosa derrota das iniciativas políticas de Israel.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.