Emmanuel Macron começa hoje uma visita inédita de três dias a Marselha onde morreram nos últimos dois meses 12 pessoas devido à escalada de violência entre gangues e onde se localizam os bairros mais pobres de França.
“Ele vem dar mil milhões de euros às escolas de Marselha, que estão abandonadas, especialmente nos bairros mais pobres onde chove e há ratos. Vem trazer dinheiro para os transportes, para criar uma nova linha de metro e vem também com dinheiro para a reabilitação urbana”, explicou Jorge Mendes Constante, advogado em Marselha e delegado para a Provença-Alpes-Costa Azul da Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa, em declarações à agência Lusa.
Nos meios de comunicação franceses, esta visita está a ser veiculada como “inédita”, já que o Presidente francês vai passar três dias na cidade, algo que não costuma acontecer nas deslocações internas do chefe de Estado devido à apertada agenda do governante.
No entanto, os números começam a inquietar o Eliseu. Desde o início do ano foram assassinadas em Marselha 15 pessoas, apanhadas no meio da violência dos gangues, com 12 destas mortes a decorrerem nos últimos dois meses.
Uma das vítimas mortais foi um jovem de 14 anos atingido com tiros de metralhadora. No mesmo ataque ficou também ferida uma criança de oito anos.
Assolada por uma disputa sobre o controlo do tráfico de drogas após várias operações policiais que desmantelaram algumas das organizações criminosas na cidade, Marselha alberga alguns dos bairros mais pobres de França, onde cerca de 50% da população vive abaixo do limiar da pobreza, cerca de 1.000 euros.
Esta pobreza e a criminalidade nos bairros a norte da cidade explicam-se, segundo Jorge Mendes Constante, pelo desinvestimento público que isolou estas populações nos últimos 50 anos.
“Há um problema estrutural de transportes em Marselha. Os bairros mais pobres estão fechados ao mundo, para se ir do centro da cidade a um bairro no Norte não há nem metro, nem comboio urbano e muito dificilmente se vai de carro ou autocarro”, explicou o lusodescendente.
Marselha tem apenas duas linhas de metro, embora seja a segunda maior cidade de França e tenha cerca de 800 mil habitantes. Em comparação, Paris tem 14 linhas de metro e Lyon, terceira maior cidade francesa, tem quatro.
O plano de Macron, chamado “Marseille en Grand” ou Marselha em grande, em português, vai atacar desde logo a rede de transportes, disponibilizando verbas para o prolongamento das linhas de metro e de elétrico, assim como renovação dos autocarros e mais pistas cicláveis.
O Presidente escolheu ainda a cidade para assinalar um dos momentos altos do ano, o regresso às aulas, que acontece na quinta-feira.
Emmanuel Macron vai anunciar a remodelação de 200 das cerca de 400 escolas da cidade. O presidente da Câmara de Marselha, Benoît Payan, estimou recentemente que esta renovação tenha um custo de 1,2 mil milhões de euros e que as escola atualmente “são indignas da República” devido ao seu estado de degradação.
O restante investimento será consagrado à reabilitação urbana, já que os bairros sociais dominados pelo tráfico de droga, e onde a polícia tem dificuldade em entrar, começaram a ser construídos nos anos 50 e muitos nunca receberam obras.
A esperança é que este investimento público atraia agora mais investimento privado e também trabalho para a cidade.
“Não há investimento nem trabalho. Há uma fronteira económica entre esses bairros e o resto da cidade”, considerou Jorge Mendes Constante.
Com a proximidade do mar, Emmanuel Macron vai ainda dar destaque aos oceanos e à preservação do ambiente, participando no Congresso Mundial da Natureza, e vai ainda avaliar o impacto da pandemia na região, que tem sido fustigada pelas diversas vagas de covid-19 em França.
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