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Macron quer Europa a financiar ciência para o oceano perante recuo dos EUA

Num discurso de mais de 20 minutos, o chefe de Estado francês reiterou a ideia de que, enquanto alguns países procuram explorar Marte, a Europa deve focar-se em Neptuno como “a boa aventura que permitirá mobilizar os investigadores”.
Emmanuel Macron
French President Emmanuel Macron looks on during an official welcome ceremony for the President of Angola, Lourenco, at the Hotel des Invalides in Paris, France, 16 January 2025.  EPA/LUDOVIC MARIN / POOL MAXPPP OUT
31 Março 2025, 18h25

O Presidente francês defendeu hoje a responsabilidade europeia em apostar na ciência para proteger os oceanos, quando os Estados Unidos estão a cortar o financiamento de investigação científica com a palavra biodiversidade.

“Não há mais financiamento americano quando essas palavras [biodiversidade] surgem num programa de investigação. Por isso temos uma responsabilidade europeia (…) de verdadeiramente manter o financiamento de uma investigação académica livre para o bem comum”, disse Emmanuel Macron na cerimónia de encerramento da iniciativa SOS Oceano, que terminou hoje em Paris.

Num discurso de mais de 20 minutos, o chefe de Estado francês reiterou a ideia de que, enquanto alguns países procuram explorar Marte, a Europa deve focar-se em Neptuno como “a boa aventura que permitirá mobilizar os investigadores”.

Segundo Macron, Marte pode “fazer acreditar que existe um planeta de substituição, mas não existe planeta B”, pelo que é preciso tornar a Terra um planeta habitável.

Num evento organizado pela República francesa e pela Fundação Oceano Azul para preparar a terceira Conferência do Oceano das Nações Unidas (UNOC3, na sigla em inglês), que ocorre em junho em Nice, o Presidente francês apresentou as oito metas que definiu para essa reunião de alto nível.

A oitava meta é precisamente a defesa da ciência, disse Macron, referindo que antes a UNOC3 terá lugar, entre 3 e 6 de junho, o Congresso Científico Um Oceano, para a qual todas as instituições científicas serão mobilizadas.

No total, este congresso reunirá 2.000 cientistas representando uma centena de países.

O primeiro dos oito objetivos enunciados por Macron para a UNOC3 é a ratificação por pelo menos 60 países do Tratado de Alto Mar, que pretende proteger a parte do oceano que não pertence a qualquer país.

“É 64% da superfície do oceano global, mais de metade da superfície do planeta, e este oceano não pode ficar uma zona sem direito”, disse.

Acrescentou que 110 Estados já assinaram o tratado, mas apenas 21 o ratificaram, pelo que “há muito trabalho a fazer” para alvcançar os 60 que permiritão que o diploma entre em vigor.

O segundo é ter uma pesca sustentável, nomeadamente avançando na luta contra a pesca ilegal, ilícita e não declarada, que representa entre 10 e 20% da produção de peixe, o que é “evidentemente inaceitável”, disse.

O terceiro objetivo é continuar a trabalhar para proteger 30% dos oceanos até 2030, um objetivo definido em 2022 pelo Quadro de Biodiversidade Global de Kunming-Montreal, mas que ainda está longe de ser alcançado.

“Estamos hoje em 8,5%. Apelamos aos países que anunciem em Nice novas áreas marinhas protegidas. Fixemos o objetivo de atingir 12% de proteção das zonas económicas exclusivas, quem sabe 15% até à UNOC3”, apelou.

O quarto objetivo é a descarbonização do transporte marítimo e o quinto a luta contra a poluição pelo plástico, esperando Macron que a UNOC3 dê um impulso para que o tema possa ser alvo de um acordo em agosto em Genebra.

A sexta meta de Macron para Nice é a mobilização de novos financiamentos, incluindo filantrópicos, para construir uma economia azul sustentável e está prevista a realização de um grande fórum no Mónaco que juntará o mundo das finanças ao serviço da economia azul, disse Macron.

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