Nuno Prego Ramos, o “mago” da CellmAbs, revela ao Jornal Económico que está a criar uma nova empresa na área da biotecnologia em Portugal. Valvian, assim se designa, vai procurar respostas para duas questões críticas da sociedade contemporânea – o cancro e o envelhecimento. Investigação para o tratamento de tipos de cancro sem soluções terapêuticas eficazes e desenvolvimento de novas moléculas para oncologia e longevidade com o apoio da Inteligência Artificial (IA).
A empresa é apresentada esta quinta-feira em Nova Iorque, na Grande Conferência de Investidores da Costa Este dos EUA, organizada pela Johnson & Johnson Innovation. “O objetivo é colocar Portugal no mapa das Ciências da Vida, transformando o país num centro de biotecnologia de referência a nível internacional”, afirma o empreendedor ao JE A ambição passa pela criação de um Centro de Excelência que pretende ser o marco fundador da biotecnologia como pilar do desenvolvimento futuro de Portugal.
Valvian vai dedicar-se à investigação e desenvolvimento, mas também à produção e translação clínica e está disponível para a criação de sinergias com todos os parceiros em Portugal. Criará emprego altamente qualificado, ajudando a reter talento em Portugal, mas também recrutará lá fora, atraindo ao país expertise e know how fundamentais para cumprir o desiderato subjacente ao projeto. A velocidade da contratação vai depender de fatores, como a montagem da infraestrutura, mas Nuno Prego Ramos acredita que nos próximos três a seis meses poderá vir a empregar entre 10 a 20 pessoas altamente especializadas.
“Queremos aproximar Portugal do que de melhor se faz lá fora, mas para nós é ponto assente: queremos que seja Portugal o centro da operação. Acreditamos que esta é uma boa forma de atrair talento Internacional”, adianta ao JE.
Neste projeto, Nuno Prego Ramos segue em dupla com Paula Videira, professora e investigadora da Universidade NOVA de Lisboa, com quem em janeiro último protagonizou o maior acordo das ciências da vida no país com a venda à BioNTech de um conjunto de terapias inovadoras para o tratamento do cancro desenvolvidas pela biotecnológica CellmAbs. A bordo, estão também, segundo nos revela, investidores portugueses, a que mais adiante se deverão juntar investidores estrangeiros.
“Para nós é muito importante conseguirmos investimento português e não apenas investimento estrangeiro. Se queremos efetivamente alterar, aqui, o ecossistema, temos que ter investidores nacionais e encontrámo-los, de facto”, adianta. O financiamento inicial será destinado ao desenvolvimento de terapêuticas em fase pré-clínica – candidatas a medicamentos -, e de uma nova tecnologia para descoberta e desenvolvimento de novos alvos terapêuticos.
“Queremos que seja Portugal o centro da operação”
Está sozinho ou acompanhado neste projeto?
Não estou sozinho neste projeto. Convidei a professora Paula Videira, que esteve comigo na CellmAbs e convidei mais alguns dos maiores especialistas em diversas outras áreas científicas, Inteligência Artificial.
Pode avançar nomes?
Falamos sobre isso mais à frente. Contamos divulgar os nomes dos membros do conselho consultivo bem como os consultores científicos dentro de cerca de um mês e meio.
A apresentação da empresa em Nova Iorque, numa grande conferência de investidores, significa que procura capital?
Já assegurámos investimento português, uma etapa crucial para a nossa missão de fortalecer o ecossistema local. Este projeto não se limita à investigação; planeamos também criar um Centro de Excelência para fomentar o desenvolvimento de novas tecnologias em diversas áreas das Ciências da Vida.
Esta quinta-feira participa na Grande Conferência de Investidores da Costa Este dos EUA, organizada pela Johnson & Johnson Innovation.
Estamos presentes nesta conferência, hoje dia 2 de maio, a convite da Johnson & Johnson Innovation com o propósito de apresentar a Valvian mas acima de tudo, destacar Portugal no campo das Ciências da Vida e atrair investidores internacionais que possam contribuir para posicionar Portugal como uma referência em biotecnologia nos próximos anos.
A ambição vai além da investigação e do desenvolvimento?
Sim. A nossa ambição transcende a simples investigação e desenvolvimento. Estamos comprometidos com projetos em oncologia e longevidade, incorporando inteligência artificial para estruturar a nossa operação de forma vertical e integrada. Além de desenvolvermos uma infraestrutura biotecnológica que retém e atrai talentos de todo o mundo, vamos estabelecer uma unidade de produção de biofármacos que não só beneficiará a Valvian, mas também outros parceiros nacionais que necessitem de alternativas neste campo. Este plano ambicioso visa expandir e fornecer serviços a nível europeu. No âmbito científico, focamo-nos em Medicina de Precisão e na análise de biomarcadores, apoiados por um conselho científico de renome mundial. Este grupo de especialistas, com vasta experiência clínica, irá potenciar a investigação clínica em Portugal. Pretendemos também melhorar a prática clínica, otimizando a forma como os cuidados de saúde são prestados no país.
Resumindo.
Ou seja, não queremos estar a produzir medicamentos e, de alguma forma, a usá-los na clínica, não é esse o objetivo. O objetivo é utilizar a tecnologia ou o know how que temos e esses grupos de investigadores e cientistas e médicos muito reputados destas universidades internacionais têm e aplicar esse conhecimento no state of the art, digamos assim, em modelos e protocolos de utilização clínica. É também esse o nosso objetivo. Vamos tentar reduzir ao máximo este gap, a distância que existe entre o conhecimento que temos sobre as terapêuticas atuais e a forma como as guidelines são utilizadas pelo médico.
Onde vai ser a sede da Valvian?
Queremos que seja Portugal o centro da operação. Acreditamos que esta é uma boa forma de atrair talento internacional e também de reter talento nacional, que não terá de ir para fora em busca de oportunidades.
Já está decidida a localização?
Não.
No arranque, qual a dimensão da equipa?
Diria que nos próximos três a seis meses contamos ter aí umas 20 pessoas altamente especializadas. A velocidade da contratação vai depender de fatores, como a forma como conseguimos montar a infraestrutura.
O Centro de Excelência é uma peça para ajudar Portugal a ser uma referência em biotecnologia. É possível dar esse salto?
O Centro de Excelência tem o objetivo de transformar Portugal numa referência em biotecnologia. A academia portuguesa está repleta de tecnologia inovadora que, com a devida gestão, pode transcender a sua função original. A experiência na CellmAbs mostrou-nos que a tecnologia pode evoluir de diagnósticos para tratamentos eficazes. Motivados pelo sucesso anterior, estamos empenhados em não só preservar o talento em Portugal, mas também em demonstrar o valor do que pode ser alcançado aqui. Com o apoio político atual e uma clara abertura à inovação, estamos bem posicionados para realizar este projeto ambicioso, que beneficiará todos colaborativamente e melhorará significativamente a biotecnologia nacional.
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