Portugal sempre foi um país de extremos. Infelizmente, estamos quase sempre na parte errada do extremo.

Somos, no seio da União Europeia, dos mais pobres, dos menos instruídos, dos que temos mais abandono escolar, dos menos produtivos, dos mais envelhecidos, dos menos férteis, dos que tem maior desigualdade ao nível da distribuição de rendimento, dos mais precários, dos mais endividados, dos mais burocráticos, dos mais pessimistas.

Mas nem tudo é tão negro ou não fossemos um país abençoado por um clima maravilhoso. Somos dos mais procurados pelos turistas, dos mais simpáticos e acolhedores, dos mais tolerantes, dos que têm uma maior variedade da paisagem num espaço tão pequeno, dos melhores ao nível vinícola e gastronómico, dos mais seguros, dos que apresentam uma melhor ligação intergeracional, dos que têm uma maior esperança de vida e uma menor taxa de mortalidade infantil.

Somos, agora, também, dos que têm um governo mais numeroso, com um Primeiro-Ministro, 19 Ministros e 50 Secretários de Estado. No total, 70 governantes para 10 milhões de habitantes. Só para possuirmos um termo de comparação, a Alemanha tem 50 governantes para 82 milhões de habitantes e a França 38 governantes para 67 milhões de habitantes. Assim, em termos de representatividade, Portugal tem um governante por cada 142 mil habitantes, a Alemanha um governante por 1,6 milhões de habitantes e a França um governante por cada 1,7 milhões de habitantes.

Dir-se-ia, à primeira vista, que um governo mais numeroso pode apresentar vantagens, como a que resulta de uma maior proximidade entre governantes e governados, mas, ao contrário do que se poderia pensar, também aqui prevalece a lógica dos poucos, mas bons.

A classe política portuguesa é cada vez mais fraca, está cada vez mais enredada em jogos de poder e em teias de interesses, a promiscuidade entre a política e a finança é cada vez mais acentuada. Claro está que alguns existem que estão na Assembleia da República e no Governo pelo simples desejo de servir o país, abdicando, muitas vezes, de vidas mais pacatas e financeiramente mais desafogadas para se dedicarem à causa pública.

Mas por cada um desses verdadeiros patriotas existem um sem número de outros que são movidos por intenções bem menos nobres. Tanto assim é que o povo se sente cada vez mais afastado da atividade política, nem sequer se sentindo motivado para participar em atos eleitorais que podem afetar o seu destino. “São todos iguais”, é frase que se houve diariamente quando se pergunta aos cidadãos sobre os políticos que os deviam representar.

Estas e outras razões explicam que os portugueses tenham considerado Salazar como o maior português de todos os tempos, que partidos radicais, que fazem da contestação a sua bandeira, estejam eles à direita ou à esquerda do espectro político, acolham cada vez mais descontentes, ganhando uma representatividade que outrora seria difícil de imaginar.

Um governo composto por 70 membros, num país pobre, que ainda há muito pouco tempo saiu de uma crise financeira de dimensões gigantescas, é entendido pelos portugueses como uma espécie de feira de vaidades, que assegura emprego a milhares de amigos e conhecidos nos diferentes gabinetes governamentais repletos de adjuntos, assessores, técnicos, motoristas e auxiliares, num número que certamente superará as duas mil pessoas.

É caso para dizer, citando uma célebre popular, que em Portugal existem cada vez mais chefes e cada vez menos índios, razão pela qual a nossa produtividade e a nossa riqueza nos colocam na cauda da Europa.