[weglot_switcher]

Mais de 70% dos investidores já perderam dinheiro no mercado de capitais

O Inquérito Online ao Perfil do Investidor, elaborado pela CMVM, concluiu que as s perdas estão associadas às vicissitudes do mercado (54,5%), à pouca experiência (29,8%) e à falta de conhecimento técnico sobre o mercado (22,7%).
  • Cristina Bernardo
18 Junho 2019, 17h43

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários CMVM) publicou esta terça-feira os resultados do Inquérito Online ao Investidor 2018, nos quais se conclui que 75% dos investidores consideram que já perderam dinheiro com investimentos realizados nos mercados de valores mobiliários.

As perdas estão associadas, segundo o inquérito, às vicissitudes do mercado (54,5%), à pouca experiência (29,8%) e à falta de conhecimento técnico sobre o mercado (22,7%). Sendo que apenas 11,9% referem o mau aconselhamento como uma causa para a perda de dinheiro com investimentos e 4,6% atribuem as perdas à falta de sorte.

No questionário, que recolheu respostas entre 18 junho 2018 e 6 agosto 2018, um pouco mais de metade (52%) dos respondentes eram investidores atuais nos mercados financeiros. Os investidores eram maioritariamente do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 25 e os 54 anos, trabalhadores por conta de outrem e concluíram pelo menos a licenciatura. Cerca de quatro em cada dez pertencem a agregados familiares que auferem entre 1.000 e 2.500 euros de rendimento mensal disponível.

Segundo o estudo, para mais de metade dos inquiridos a carteira de investimentos representa um peso não superior a 25% do património total, mas 21,4% aplicam mais de 50% do respetivo património em investimentos financeiros.

A associação existente entre o rendimento mensal disponível e o peso da carteira no património é de natureza não linear, conclui a CMVM. Nas classes de rendimento até 1.000 euros/mês as carteiras que representam menos de 10% do património total são as mais frequentes; nas classes de rendimento mensal entre 1.001 euros e 2.500 euros e de mais de 4.000 euros predominam os investimentos com um peso entre 25% e 50% do património, e na classe de 2.501 euros a 4.000 euros, as carteiras mais frequentes representam entre 10% a 25% do património.

Na amostra de investidores que foi considerada nesta secção “constata-se que 18,7% das carteiras incluem apenas um tipo de ativo, 22,4% possuem dois tipos de ativos, 24,7% são constituídas por três tipos de ativos, 17,9% investiram em 4 tipos de ativos e as restantes 16,3% possuem 5 ou mais tipos de ativos”, diz o regulador.

Das 223 carteiras com apenas um tipo de ativo, em 31,8% dos casos esse ativo é um PPR, 27,4% detém ações e 19,3% apenas incluem dívida pública.

Considerando as 267 carteiras com 2 tipos de ativos, as ações e os PPR estão incluídos em 17% das carteiras, a dívida pública e os PPR encontram-se em 16% das carteiras, PPR e unidades de participação em fundos de investimento estão incluídos em 11% das carteiras e ações e unidades de participação em fundos de investimento em outras 10%.

A amostra é de 1.192 investidores que possuíam em carteira pelo menos um dos seguintes tipos de ativos: dívida pública (certificados de aforro, certificados do Tesouro, obrigações do Tesouro); ações; obrigações de empresas; papel comercial; unidades de participação em fundos de investimento; produtos financeiros complexos; PPR; investimentos em crowdfunding; moedas digitais.

Os ativos menos representados (papel comercial, bitcoins, ICOs e outras moedas digitais, investimentos em crowdfunding, por exemplo) fazem parte de carteiras diversificadas com 5 ou mais ativos. Nenhum dos inquiridos possui apenas papel comercial e um número reduzido de investidores possui como único ativo em carteira bitcoins, ICOs e outras moedas digitais (seis respondentes) ou investimentos em crowdfunding (um respondente).

No que respeita à importância que cada ativo tem na respetiva carteira de investimentos, o peso médio não ponderado é superior em dívida pública, ações e unidades de participação em fundos de investimento.

A CMVM relata que os investidores consideram ter conhecimentos tecnológicos superiores à média da população e atribuem mais relevância à informação recolhida na internet por oposição à informação obtida através das redes sociais.

Comparativamente com os não investidores, os investidores aparentam efetuar uma ligeira sobreavaliação dos seus conhecimentos. O significado de capital garantido de um investimento na data de vencimento reúne a menor percentagem de respostas corretas, quer o inquirido seja investidor ou não investidor. Adicionalmente, em média os investidores são menos avessos ao risco.

Os dados recolhidos apontam para algumas diferenças na presença de desvios comportamentais entre investidores e não investidores.

Por um lado, os não investidores têm maior aversão à perda, são mais propensos a percecionar eventos independentes como sendo (inter)dependentes (isto é, “falácia do jogador”) e apresentam maior tendência para venderem demasiado depressa ativos que valorizaram desde a compra (isto é, “efeito disposição nos ganhos”). Por outro lado, os investidores apresentam uma maior tendência para não venderem atempadamente títulos que nesse momento valem menos do que na altura da sua compra (isto é, “efeito disposição nas perdas”).

Finalmente, quer os investidores quer os não investidores consultam as suas carteiras de investimentos com praticamente a mesma frequência, independentemente de os preços estarem a subir ou a descer (isto é, observa-se a ausência do “efeito avestruz” para ambos os tipos de participantes), diz o estudo da CMVM.

Os comportamentos relacionados com o processo de decisão de investimento revelam que os investidores são mais autónomos, valorizando mais a sua própria experiência do que o aconselhamento externo. Os investidores dão particular importância ao entendimento dos rendimentos, níveis de risco e vantagens associadas a uma decisão de investimento, bem como aos preçários praticados por cada intermediário financeiro, mostrando-se mais propensos do que os não investidores a efetuar a comparação prévia das taxas de juro ou de rentabilidade dos produtos. Por sua vez, os não investidores atribuem mais peso às características dos emitentes (notoriedade, nacionalidade, Estado). Em contrapartida, a maioria dos inquiridos classifica como muito ou extremamente importantes todos os fatores de risco, com especial relevância para os riscos de conflitos de interesses e de crédito.

Cerca de três em cada cinco investidores efetua alguma diversificação dos seus investimentos, ao deterem em carteira três ou mais tipos de ativos financeiros. Esta carteira de investimentos representa menos de 25% do património total.

Os ativos mais presentes nas carteiras de investimento são os PPR, as ações, os fundos de investimento e a dívida pública, “existindo igualmente algum otimismo no desempenho previsto da carteira e do mercado no próximo ano”, diz a CMVM.

Apesar dos investidores perspetivarem evoluções diferenciadas para a rentabilidade da respetiva carteira e a do mercado, quatro em cada cinco esperam ser melhor sucedidos que o mercado, números que não parecem ser suportados no sucesso obtido no ano anterior. Mais de metade dos investidores atribuem a mesma expetativa de rentabilidade à carteira e ao mercado, mas 36,5% avaliaram a expetativa de retorno da respetiva carteira superior à expetativa de evolução do mercado (uma percentagem bastante superior à dos 7,5% que acham que a sua carteira vai evoluir no próximo ano pior do que o mercado).

Na amostra de investidores considerada nesta secção constata-se que 18,7% das carteiras incluem apenas um tipo de ativo, 22,4% possuem dois tipos de ativos, 24,7% são constituídas por três tipos de ativos, 17,9% investiram em 4 tipos de ativos e as restantes 16,3% possuem 5 ou mais tipos de ativos.

Entre os principais fatores de risco apresentados, os inquiridos atribuem maior relevância ao risco de crédito do emitente, com 68,0% a classificarem este risco como extremamente importante no momento de investir em valores mobiliários

No investimento em ações, 41,7% dos inquiridos afirmam ser totalmente autónomos, enquanto no caso das obrigações de empresas ou dos fundos de investimento apenas um em cada três respondentes dispensam auxílio no processo de investimento.

Os inquiridos revelam menor autonomia na compra de bitcoins ou outras moedas digitais e de produtos financeiros complexos: nestes casos, a maioria prefere encontrar-se sempre com o gestor para obter ajuda na decisão ou mesmo deixar que o gestor trate de tudo por si.

O Inquérito Online ao Perfil do Investidor contou com a participação de 2.381 pessoas. Após a remoção de 70 respostas consideradas inválidas, a amostra de conveniência final inclui as respostas de 2.311 participantes, dos quais 81,8% são do sexo masculino. Deste total de inquiridos, 1.192 (52%) são classificados como investidores (pois possuíam em carteira pelo menos um ativo financeiro) e os restantes 1.119 (48%) como não investidores. O estudo insere-se na prossecução da missão do regulador de promover a proteção dos investidores e a defesa da integridade dos mercados financeiros, com vista ao seu desenvolvimento.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.