Mais de 90% das maiores empresas em Portugal publicaram relatórios de sustentabilidade em 2024, de acordo com o mais recente inquérito sobre o reporte em sustentabilidade e ESG da KPMG.
Numa altura em que a obrigatoriedade de apresentação de relatórios de sustentabilidade se aproxima, a KPMG realiza um inquérito às maiores empresas do mundo, que inclui uma análise portuguesa.
Em 2024, 91% das empresas que integram o índice N100 em Portugal publicaram relatórios de sustentabilidade, um aumento de seis pontos percentuais em relação aos 85% de 2022.
Este valor posiciona Portugal acima da média europeia, demonstrando progressos sólidos na integração de práticas de sustentabilidade nos negócios, revela a KPMG.
Pedro Cruz, ESG Coordinator Partner da KPMG Portugal considera que “o mundo enfrenta questões complexas e desafiantes de âmbito climático, social e geopolítico, pelo que é uma prioridade atual abordar os temas ESG”.
“Este estudo mostra-nos que as maiores empresas a nível mundial e nacional estão efetivamente a reforçar o seu compromisso com as metas de redução de carbono e outras metas de natureza ambiental e social. Paralelamente, o facto de haver mais diretores de sustentabilidade e de ESG nas equipas é uma evidência clara de que estamos a fazer progressos sólidos e a garantir uma maior transparência na abordagem às questões ambientais, sociais e de governação”, acrescenta o responsável.
A esta crescente relevância dos temas ESG para as empresas não será alheio o facto de cada vez mais os investidores levarem os dados não financeiros tão a sério como os dados financeiros.
O estudo da KPMG faz assim uma análise sobre o reporte em sustentabilidade, com a participação de empresas localizadas em 58 países, incluindo Portugal, e nele conclui que 95% das 250 maiores empresas do mundo publicam atualmente objetivos em matéria de descarbonização (quando em 2022 eram 80%).
Destas, mais de metade (56%) têm um Diretor de Sustentabilidade (quando em 2022 só 45%).
Em 2024, quase um terço (30%) das 100 maiores empresas têm em consideração a sustentabilidade para a remuneração da sua liderança (em 2022 era só 24%).
Há assim um aumento significativo de empresas que já publicam proativamente reportes e dados de sustentabilidade e ESG, incluindo objetivos de redução de carbono.
Os resultados do estudo Reporte em Sustentabilidade de 2024 indicam seis principais tendências. Por um lado a elaboração de relatórios sobre sustentabilidade e a fixação de objetivos em matéria de emissões de carbono passaram a fazer parte do business as usual das empresas.
Tanto os relatórios de sustentabilidade como as metas de descarbonização foram adotados por quase todas as empresas do grupo mundial G250, por quatro quintos dos grupos N100 e por 91% das empresas do N100 a atuar em Portugal, conclui o estudo.
A diretiva europeia dirigida a um grupo inicial de empresas, aplica-se a relatórios sobre exercícios financeiros que terminem de 31 de dezembro de 2024 em diante, tendo, algumas empresas, até 2029 como prazo, para publicar os seus primeiros relatórios. “No entanto, algumas empresas, principalmente as sediadas ou com atividades na Europa, já estão a preparar-se para a CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive), reportando materiais em conformidade com as ESRS (European Sustainability Reporting Standards)”, revela a análise.
Por outro lado, quase metade das empresas europeias abrangidas por este estudo já utiliza a taxonomia da UE. A nível nacional 68% das empresas utilizam a taxonomia da UE e 24% das empresas guiam-se pelas ESRS.
O estudo diz ainda que “os processos de dupla materialidade, exigidos pela CSRD, são atualmente utilizados por metade das maiores empresas inquiridas. Cerca de quatro quintos das empresas dos índices G250 e N100, utilizam avaliações de materialidade”.
A dupla materialidade “é a forma mais completa de avaliação da materialidade e é uma etapa intermédia para o cumprimento da CSRD da UE, pelo que é provável que algumas das empresas que a adotam o façam para se prepararem para a sua obrigatoriedade”, defende a KPMG.
As maiores empresas do G250 têm maior probabilidade de utilizar processos de dupla materialidade que avaliam tanto os impactos na sociedade e no ambiente, como a forma como estes afetam o seu desempenho financeiro.
A GRI (Global Reporting Initiative) continua a ser a norma mais popular, com três quartos das empresas do G250 a utilizarem-na e uma percentagem quase tão elevada nas N100. conclui o estudo.
O estudo revela que “nos últimos dois anos, registaram-se maiores aumentos na utilização das orientações do SASB (Sustainability Accounting Standards Board) e da bolsa de valores, sendo que a sua adoção varia significativamente consoante o país ou a região, com, por exemplo, todas as empresas inquiridas da Arábia Saudita a utilizarem as orientações da bolsa, e dois terços das empresas das Américas a utilizarem o SASB”.
Os relatórios sobre biodiversidade continuam igualmente a aumentar, segundo a mesma fonte. Cerca de metade das instituições que integram os índices G250 e N100 já reportam sobre a biodiversidade – há quatro anos era de apenas um quarto – embora o crescimento tenha sido mais lento nos últimos dois anos.
Há, portanto, um aumento significativo nas taxas de adoção do reporte em biodiversidade comparativamente há dois anos – com empresas no Médio Oriente e em África a aproximarem-se da média global.
A adoção das recomendações do TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures) também continua a aumentar. São quase três quartos das empresas do G250 que já reportam sobre os riscos climáticos em linha com o TCFD.
A KPMG prevê que o ano 2025 seja decisivo para o reporte em sustentabilidade. “Este estudo mostra-nos que as empresas estão a enfrentar os desafios e a antecipar as novas regras regulatórias. Estão a ser feitos progressos visíveis no âmbito dos relatórios de ESG de uma forma que apoia os objetivos empresariais a curto e a longo prazo”.
“Com anos de análise documentada, estamos a construir uma base de evidências forte e consolidada que mostra como um ecossistema de relatórios de sustentabilidade ajuda as empresas não só a medir o progresso na execução da sua estratégia ESG, mas também a gerar valor ao mesmo tempo que mobiliza o mercado de capitais para apoiar o desenvolvimento de soluções cada vez mais sustentáveis”, conclui a consultora.
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