Há três regras essenciais para uma comunicação de crise eficaz: acima de tudo, preparação, franqueza e rapidez. Para além disto, requer bons porta-vozes, credíveis, preparados, inteligentes, em lugar de obstinados.
Vamos supor que o Governo atual acreditava realmente no modelo económico que o levou para S. Bento em novembro. Para recordar: um modelo económico assente no consumo interno e na retoma do investimento público, alinhado com os compromissos assumidos com Bruxelas, ainda que reduzindo o ritmo de consolidação. Depois de um período de ajustamento tão exigente como o que Portugal foi obrigado a suportar por ter pedido um resgate, até a direita menos caciquista e que evoluiu nos seus dogmas financeiros tinha, no mínimo, curiosidade em perceber a tal terceira via.
Os números são como o algodão: não enganam. O consumo privado desanimou, a dívida está a aumentar outra vez e, sem PIB a acompanhar, há, novamente, sinais de alarme. Sabemos que a estratégia anterior não fez Portugal crescer mas deu-nos boa fama. E, à mulher de César, interessa parecer além de ser. Sobretudo se a mulher de César tiver fama de ter boca de rico e bolso de pobre como Portugal.
Perante isto, retomo as regras da comunicação de crise.
- Preparação: 10 meses de Governação do atual Governo e Portugal já foi pelo menos três vezes capa do Financial Times pelos piores motivos. Sim, devemos temer o Financial Times porque é o jornal mais influente do mundo e uma ferramenta de decisão de investidores em dívida pública. Ao invés, hostilizámos obrigacionistas do Novo Banco, expropriando-os dos seus direitos. Fazemos política interna com dinheiro que não temos e nem sequer nos damos ao trabalho de ter um plano de contingência para quando nos fazem perguntas, como fez o jornal.
- Franqueza: nunca um ministro das Finanças foi tão desastroso a explicar a estratégia das contas do país e da banca pública. A cada conferência de imprensa de Mário Centeno, aumenta a desconfiança sobre a sua obstinação num modelo académico e arriscado que não regista casos de sucesso em países com as características que Portugal tem. Marcelo vem à dobra de António Costa mas não chega. Os números não batem certo.
- Rapidez (na resposta): O mote do segundo resgate foi dado pelo Financial Times. Os olhos do mundo estão postos no Orçamento do Estado que vamos conhecer dentro de um mês. Esta é a única resposta que quem nos vê de fora quer ouvir. E é bom que convença.