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Vindimas 2020: Na Península de Setúbal, uma campanha desafiante com bons vinhos na adega

Amanhã, prosseguiremos esta viagem pelas vindimas de 2020 com os testemunhos dos produtores do Douro, desde a centenária Real Companhia Velha até à Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, pertencente à Amorim Family Estates, do Grupo Amorim, passando por casas como a Quinta do Crasto, Colinas do Douro, Parceiros na Criação, Quinta dos Murças (da Herdade do Esporão), A & D Wines, Wine & Soul e Maçanita Irmãos & Enólogos. 
Benoit Tessier/Reuters
22 Outubro 2020, 07h40

As vindimas deste ano foram atípicas, devido à intensificação das alterações climáticas, com chuvas e calores a despropósito, e consequente ataque de pragas, a que se somou a pandemia de Covid-19. Mas as expectativas apontam para uma produção de superior qualidade, mesmo que haja quebras de produção em algumas regiões.

Leia o balanço de dezenas de produtores de norte a sul do país, incluindo os Açores e a Madeira, e de sete presidentes de Comissões Vitivinícolas Regionais. E espreite o que se está a passar em Champagne, com a Moët et Chandon.

Para os mais apaixonados pelo tema, interessados nas questões de cariz técnico, o Jornal Económico disponibiliza ainda os relatórios de vindima deste ano de duas casas com séculos de tradição na produção de vinhos no Douro, em particular de vinhos do Porto, com os testemunhos pessoais de Charles Symington, diretor de produção e vice-CEO da Symington Family Estates, que comercializa as referências Graham’s, Dow’s, Warre’s, Cockburn’s, Quinta do Vesúvio, Quinta do Ataíde, Altano, P+S e Quinta da Fonte Souto; e de David Guimaraens, diretor de enologia da The Fladgate Partnership, que comercializa as marcas Taylor’s, Fonseca e Croft, entre outras.

Em conjunto, estas duas casas já representam mais de 500 anos de produção de vinhos de mesa e do Porto no Douro (a Fladgate já celebrou o 430º aniversário, enquanto a Symington tem mais de 130 anos de história) e os relatórios da vindima de 2020 demonstram que as alterações climáticas são cada vez mais uma realidade incontornável no setor vitivinícola nacional.

Hoje, será dada voz aos produtores da Península de Setúbal, desde António Maria Soares Franco, administrador da José Maria da Fonseca, até Leonor Freitas, sócia-gerente da Casa Ermelinda Freitas, passando por Ângelo Machado, presidente do conselho de administração da Adega Cooperativa de Palmela; e por Carlos Trindade, administrador da Herdade da Barrosinha.

Amanhã, prosseguiremos esta viagem pelas vindimas de 2020 com os testemunhos dos produtores do Douro, desde a centenária Real Companhia Velha até à Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, pertencente à Amorim Family Estates, do Grupo Amorim, passando por casas como a Quinta do Crasto, Colinas do Douro, Parceiros na Criação, Quinta dos Murças (da Herdade do Esporão), A & D Wines, Wine & Soul e Maçanita Irmãos & Enólogos.

António Maria Soares Franco, administrador da José Maria da Fonseca, uma das maiores e mais antigas produtoras da região e do país, diz ao Jornal Económico que “o ano agrícola da José Maria da Fonseca decorreu de uma forma desafiante devido à precipitação mais constante do que o normal, ocorrida entre março e maio, tendo sido um ano exigente a nível da prevenção do míldio e oídio”.

“O verão teve temperaturas dentro da normalidade (excetuando alguns dias mais extremes) nas várias regiões onde operamos. Contudo, com o trabalho profissional da equipa de viticultura, conseguiu-se obter qualidade nas uvas com boas maturações e tudo indica que vamos continuar a produzir vinhos com a qualidade que nos é reconhecida”, acredita este responsável.

Outro grande produtor nacional implantado na Península de Setúbal é Casa Ermelinda Freitas. Leonor Freitas, sócia-gerente a manter na família e no feminino as rédeas deste grupo, como referência maior da quarta geração, que “em 2020, a quantidade foi semelhante à do ano de 2019, que foi um ano com boa produção”.

No capítulo da qualidade, “foi igual ao ano de 2019, ou seja, alta qualidade, tanto nos vinhos brancos, como nos vinhos tintos”.

Sobre o impacto da Covid na vindima, Leonor Freitas garante que, “para nós, felizmente, o impacto Covid-19 não foi sentido”.

“Tudo correu bem, devido a todos os planos de contingência e ajustes implementados. Desde cedo ficou definido que na Casa Ermelinda Freitas cada um dos funcionários deveria ser um elemento ativo da saúde, divulgando e implementando todas as normas de segurança e proteção assumidas na empresa. Toda a nossa preocupação foi virada para as pessoas, de modo a que não existisse nenhum caso”, assegura esta responsável.

Segundo Leonor Freitas, “uma das medidas aplicadas foi a criação de turnos, dividindo a equipa em grupos, de modo a que os mesmos não se encontrassem, limitando as interações, os contactos e o potencial de contágio”.

“Estas medidas de contingência foram implementadas logo de início da pandemia, permitindo, assim, que todos os trabalhos continuassem. Isto permitiu que todo o processo das vindimas fosse levado a cabo no mais curto espaço de tempo possível, em segurança e com todas as medidas a serem cumpridas com o maior rigor”, anuncia a sócia gerente da Casa Ermelinda Freitas.

Leonor Freitas reforça que “a nossa maior preocupação são as pessoas, pois são elas que garantem a qualidade reconhecida dos vinhos da Casa Ermelinda Freitas, de forma continuada, a nível nacional e internacional”.

Por seu turno, Ângelo Machado, presidente do conselho de administração da Adega Cooperativa de Palmela, falou ao jornal Económico quando ainda se estava “a ultimar a receção da produção de uva dos nossos associados”.

Por isso, “o balanço da vindima de 2020 é provisório, mas animador nos aspetos qualitativos”.

“Foi um ano que se caracterizou com uma boa maturação e um bom estado sanitário, em virtude de não se ter verificado precipitação durante grande parte da vindima, adivinhando-se assim um bom ano de qualidade. Relativamente à quantidade, verificou-se novamente uma ligeira quebra, primeiramente em parte devido a um escaldão que se verificou antes do pintor e também pelas chuvas que se fizeram sentir pela altura da floração”, relata Ângelo Machado.

“Em ano de Covid, fomos mais cautelosos e assertivos na colheita da uva, assim como em anos anteriores, mas desta vez de forma mais rigorosa, para que as entregas se efetuassem com marcação, por forma a não termos um aglomerado de sócios”, garante o preisdente do conselho de administração da Adega Cooperativa de Palmela.

Para Ângelo Machado, “foi positivo, pois fizemos a vindima de forma calma e sem contratempos”.

“Foi também criando um código de boas práticas, obrigando os sócios ao uso da máscara na descarga das uvas e disponibilizado o álcool gel”, adianta este responsável.

Carlos Trindade, administrador da Herdade da Barrosinha acentua que, este ano, a vindima “foi prolongada”.

“Iniciámos a 5 de agosto e estivemos mais de um mês a vindimar. Acompanhando sistematicamente a evolução da maturação das uvas, por casta e talhão, foi possível intervir no ponto ideal, de forma a equilibrar açúcares, ácidos e aromas. Do ponto de vista qualitativo, uma boa vindima e os bons vinhos estão na adega”, assinala o administrador da Herdade da Barrosinha.

De acordo com este responsável, “tivemos o cuidado de precaver um maior escalonamento que foi muito favorável para a execução dos trabalhos ao permitir que não houvesse necessidade de muitas pessoas e que a prevenção de contágios fosse mais fácil”.

“Não houve necessidade de contratar mão de obra extra, minimizaram-se os contactos entre os colaboradores e separou-se o pessoal da vinha e da adega. Os ‘novos normais’ como distanciamento, o uso de máscara a regular desinfeção das mãos, passaram a ser prática usual na Barrosinha”, explica Carlos Trindade.

No entender do administrador da Herdade da Barrosinha, “no geral creio que conseguimos ultrapassar os constrangimentos deste contexto que vivemos, ficando apenas a recuperação do mercado do vinho como o maior de todos os impactos negativos”.

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