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Manifesto defende eucalipto para atingir neutralidade carbónica em 2050

O ‘Manifesto por uma Floresta não Discriminada’ critica a “onda de demagogia que se tem vindo a avolumar nos últimos meses” e “o ataque que se tem registado contra o eucalipto”.
20 Novembro 2018, 07h35

A Celpa – Associação da Indústria Papeleira e os mais de 100 outros signatários do ‘Manifesto por uma Floresta Não Discriminada’, divulgado publicamente na semana passada, consideram que “atacar o eucalipto é atacar a espécie florestal que mais contribui, a uma larga distância, para a absorção de CO2 [dióxido de carbono] em Portugal, comummente aceite como a batalha essencial para mitigar os nefastos impactos das alterações climáticas”.

“Tal não deixa de ser paradoxal dado que estas constituem uma das causas diretas do aumento da magnitude dos incêndios em Portugal e no resto do Mundo”, critica o referido manifesto.

“A floresta representa cerca de um terço do território português e é, a par dos oceanos, um dos mais eficazes sumidouros de CO2 de que dispomos. Relembramos que uma floresta saudável e com uma área estável ou crescente é essencial para cumprir o objetivo de atingir a neutralidade carbónica em 2050. Enquanto país, teremos de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa de cerca de 70 milhões de toneladas de CO2 para 10 milhões de toneladas de CO2, e, por ser esta a capacidade de absorção do nosso ecossistema, proveniente principalmente das florestas de Portugal Continental”, destaca o referido manifesto.

Os signatários deste documento defendem ainda a certificação da gestão florestal, sob o escrutínio de reconhecidas entidades internacionais, como a FSC ou a PEFC, “no sentido de estender as boas práticas de gestão, sustentáveis, a toda a floresta” e relembram que “a floresta de eucalipto é, aliás, o maior dinamizador da certificação da gestão florestal em Portugal”.

“Não existe outro setor ou atividade económica em Portugal com este tipo de impacto, nem se vislumbra possível durante as próximas décadas outra ocupação de parte significativa do território nacional que seja tão social e regionalmente inclusiva ou tão rentável para o país. É um setor que produz bens transacionáveis, exportando para mais de 130 países, estando em permanente e intensa concorrência com os mais diversos operadores internacionais. Infelizmente, as penalizações e os custos extraordinários que têm sido impostos à fileira no passado recente (ou venham a ser no futuro) não podem ser passados aos seus clientes internacionais, tendo de ser absorvidos por toda a cadeia de valor, desde os produtores florestais e prestadores de serviços até à indústria e comercialização do papel, cartão e outros produtos finais”, recomenda o manifesto em causa.

O documento critica a “onda de demagogia que se tem vindo a avolumar nos últimos meses” e “o ataque que se tem registado contra o eucalipto”.

No entender dos signatários, a primeira “ameaça pôr em risco a médio prazo fileiras silvo-industriais com enorme importância para o emprego, para o ambiente e para a economia nacional”; o segundo “promove a desertificação do interior e das zonas, colocando em risco grande parte dos postos de trabalho diretos e indiretos existente na fileira florestal, distribuídos por pequenos produtores, prestadores de serviços, empresas de logística e industriais, etc”.

“As fileiras que utilizam produtos de base florestal como fonte de materia-prima são responsáveis por 2% do PIB e 9% das exportações do país, asseguram cerca de 100 mil empregos diretos e indiretos e envolvem mais de 400 mil proprietários florestais, numa atividade que contribui para o desenvolvimento de todo o país, de norte a sul, no litoral e no interior”, recorda o manifesto.

Citando dados do ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e da Floresta e estudos da CTI – Comissão Técnica Independente, criada pela Assembleia da República na sequência dos incêndios do ano passado em Pedrógão Grande e em Góis, o documento em análise rejeita que o eucalipto seja o principal causador de fogoso florestais, assinalando que apenas 17% da área ardida em Portugal entre 2013 e 2017 foi de eucaliptos e que os grande incêndios ocorridos nos últimos anos, tanto em Portugal, como em diferentes outros países de vários continentes, tiveram pouca incidência em eucaliptais.

O manifesto recorre também a estudos do ISA – Instituto Superior de Agronomia, da UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e do WWF – World Wild Fund que, no entender dos signatários, aponta para causas concretas dos incêndios factores o abandono de partes do território (ou da floresta), comportamentos de risco (queimadas efetuadas sem prudência nem conhecimento), alterações climáticas e uma inexistente ou deficiente gestão florestal.

“(…) Mais de 80% da área ardida em Portugal [nos últimos 15 anos] não é o eucalipto”, garante o manifesto, remetendo esse papel outros agentes, como os matos e herbáceas.

“A floresta industrial ou de produção (de eucalipto ou de outra espécie), tal como a floresta de conservação ou lazer, contribui igualmente para a formação de solo (por enraizamento e retenção de biomassa no terreno), para o combate à erosão (sobretudo em zonas de maior declive),  para o aproveitamento útil da água da chuva (prevenindo os efeitos das chuvas torrenciais e promovendo a infiltração), para a purificação e humidificação do ar, para a redução das amplitudes térmicas, para a manutenção de espécies prestadoras de serviços de ecossistemas, como, por exemplo, os polinizadores, e para a manutenção de áreas de alto valor de conservação”, advogam os signatários deste documento.

“Reafirma-se que o ataque injustificado que se tem vindo a fazer contra o eucalipto não tem adesão aos factos nem sustentação académica ou científica”, insiste o manifesto, adiantando que “o combate a esta espécie florestal poderá ser devido à incapacidade de enfrentar as verdadeiras causas dos problemas que afetam a floresta nacional”.

“É preocupante saber-se que Portugal é o único país da Europa em que se tem verificado uma redução da área florestal. Trabalhar para reverter esta situação deve-nos preocupar enquanto sociedade”, conclui o ‘Manifesto por uma Floresta Não Discriminada”.

O manifesto, assumido pelo presidente da Celp Diogo da Silveira, simultaneamente CEO da The Navigator Company (ex-Portucel),  é subscrito por 37 académicos, oito empresas e associações da indústria ligada à floresta, oito autarquias, onze antigos governantes antigas personalidades e 47 empresas e produtores florestais.

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