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Marcas mantêm aposta no carro elétrico apesar da pandemia

Marcas automóveis acreditam que a caminhada rumo a uma maior mobilidade elétrica da sociedade é imparável, mas defendem que o setor precisa de apoios para retomar vendas e superar crise.
14 Junho 2020, 16h30

O setor automóvel garante que vai manter a sua aposta no carro elétrico, apesar das quebras nas vendas devido à pandemia de Covid-19, mas exige mais apoios ao Governo para compra do carro elétrico. As marcas automóveis consideram que o crescimento do peso da mobilidade elétrica no mercado nacional não vai parar, apesar da crise que se abateu sobre todo o setor.

Em 2019, as vendas de carros elétricos dispararam 69% em Portugal para um total de 6.883 unidades, uma subida que contrariou a queda de 2% do mercado automóvel nacional como um todo.

Já este ano, durante a pandemia da Covid-19, as vendas no mercado automóvel sofreram quedas de 85% em abril e de 75% em maio. Apesar de também ter sido atingido negativamente, o mercado de carros elétricos caiu a um ritmo menor, com quebras de 44% em abril e de 43% em maio.

Perante a pandemia de Covid-19 e o forte impacto negativo que provocou no mercado automóvel, a Associação Automóvel de Portugal (ACAP) considera que este é um bom momento para o Executivo promover a mobilidade sustentável.

Uma das medidas apresentadas pela ACAP ao Governo para tentar mitigar a crise no setor em Portugal foi precisamente a duplicação imediata da linha de apoio à compra de veículos elétricos, que tem atualmente um valor de três milhões de euros.

“O que o setor precisa neste momento é de incentivos à procura. Defendemos um incentivo à procura para veículos com motores de combustão, motores elétricos, híbridos plug-in, para todos os segmentos de mercado”, disse ao Jornal Económico o secretário-geral da ACAP.

“França, Espanha e Alemanha já anunciaram medidas de apoio ao setor para retomar a procura. A ACAP já pediu ao Governo português, mas infelizmente ainda não teve qualquer resposta sobre esta matéria”, destacou Hélder Barata Pedro.

Como é que as marcas se estão a reinventar perante a Covid-19?
Perante a crise, e a queda nas vendas, as marcas procuraram reinventar-se para tentar chegar novamente ao consumidor. O canal de vendas digital foi apontando por várias marcas como uma das soluções para as empresas tentarem chegar aos consumidores.

A SIVA – importadora da Volkswagem, Audi ou Skoda – aponta para uma aceleração do uso de canal de vendas digital. “Neste contexto, podemos falar de alguma aceleração digital na atividade comercial, já que pusemos em prática plataformas de venda online e aperfeiçoámos a digitalização de processos de venda o que permitiu aos nossos concessionários continuar a desenvolver relações comerciais com os seus clientes e a vender automóveis”, explicou Ricardo Tomaz, diretor de Marketing Estratégico e Relações Externas da SIVA.

Em termos de investimento, o grupo Volkswagen prevê lançar “mais de 50 modelos totalmente elétricos até 2025, no quadro de um investimento em descarbonização que totaliza 33 mil milhões de euros nos próximos cinco anos”, segundo este responsável: “Tal estratégia é de tal forma estruturante do futuro que não pode ser posta em causa mesmo pelos terríveis efeitos da pandemia atual”.

Também a Nissan destacou a importância do canal de vendas online para a recuperação do setor. “Para que o mercado recupere é necessário restabelecer a confiança dos consumidores e, para isso, são necessários incentivos, por exemplo ao abate de automóveis mais antigos e campanhas de marca. Acabámos de lançar a Nissan WebStore que em apenas sete cliques colocam um Nissan na casa do cliente e estamos a preparar mais algumas iniciativas”, segundo António Pereira Joaquim, diretor da comunicação da Nissan Portugal.

Por sua vez, a marca alemã BMW que produz o elétrico i3, aponta que vai dar “continuidade ao seu compromisso de disponibilizar versões cada vez mais ecológicas com o lançamento, já em 2023, de 25 novos modelos eletrificados”.
Já a Renault, a produtora do elétrico Zoe, vai manter em “vigor as campanhas que já existiam antes da pandemia, com um acento forte no financiamento e em mensalidades atrativas”.

Marcas exigem mais apoios para o carro elétrico
As várias marcas com quem o Jornal Económico falou também defendem a necessidade de o Governo aumentar o número de apoios para as vendas voltarem a acelerar.

“É necessário capitalizar esse momento através de mais incentivos por parte do Estado à compra de carros elétricos, até porque os apoios que o Governo tinha anunciado para 2020 já se estão a esgotar, por via do aumento da procura”, analisou Ricardo Tomaz da SIVA.

O mercado de vendas de carros elétricos em 2019 foi liderado pela Nissan, com o seu modelo Leaf. A marca nipónica defende a extensão dos incentivos à compra destes veículos.

“Os incentivos ao abate de automóveis mais antigos poderia dinamizar o mercado automóvel em geral. Concretamente em relação aos automóveis elétricos, uma extensão dos incentivos à compra atribuídos pelo Governo seria também importante”, segundo o seu diretor de comunicação para Portugal.

Por sua vez, a BMW defende que os incentivos para a compra do carro elétrico deveriam ser tão abrangentes para os consumidores particulares, como são para as empresas.

“Em Portugal a maior parte das medidas de incentivo à utilização de veículos elétricos é dirigido às empresas”, de acordo com o diretor geral da BMW Portugal, apontando para a isenção de tributação autónoma e a dedução do valor do IVA da aquisição.

“Acreditamos que, se estas medidas forem estendidas aos clientes particulares, poderemos assistir a um maior crescimento da venda de veículos elétricos neste segmento”, segundo Massimo Senatore.
A Kia Portugal, por seu turno, defende um incentivo ao abate para promover a retoma do mercado automóvel nacional.

“A medida que achamos poderia ter mais impacto e que demonstraria a verdadeira vontade do Governo em baixar as emissões de CO2 da responsabilidade da mobilidade humana seria um programa de apoio ao abate de viaturas com mais de 10 ou 15 anos”, disse João Seabra, diretor-geral da Kia Portugal. “E não necessariamente apenas para os trocar por carros elétricos ou PHEV [híbrido plug-in] ou apenas HEV [híbridos] mas para qualquer carro novo que cumpra as atuais normas EuroVI pois qualquer destes veículos com motorização convencional, diesel ou gasolina, emite 20 a 50 vezes menos que os veículos em circulação com mais de 10 anos”, defende este responsável.

Covid-19 não vai travar crescimento da mobilidade elétrica, mas há trabalho a fazer
As marcas automóveis consideram que a pandemia do coronavírus não vai impedir o crescimento do mercado de carros elétricos em Portugal.

Para a Renault, um dos pontos críticos para a continuação do crescimento é precisamente as boas condições da rede de carregamento.

“A dimensão, e sobretudo o estado de operacionalidade, da rede de carregamento tem sido vista como um entrave ao desenvolvimento deste mercado. Essa questão, que consideramos importante, parece estar em vias de ser solucionada o que consideramos um ponto muito positivo”, destacou Ricardo Oliveira, diretor de comunicação da Renault em Portugal. O responsável da marca gaulesa apontou que as vendas de automóveis elétricos estão a resistir melhor a esta crise económica.

“Em acumulado a final de maio, o mercado de automóveis elétricos continua, inclusivamente, com um crescimento de 4,3% face ao mesmo período de 2019. No final de maio, os automóveis elétricos pesam praticamente 6% do mercado total de automóveis de passageiros, ou seja, mais do dobro do peso que tinham no mesmo período de 2019”.

Ricardo Oliveira não tem dúvidas sobre a capacidade de recuperação das vendas. “Pensamos que a recuperação do mercado de automóveis elétricos se fará, inclusivamente, a um ritmo mais acelerado que o do mercado automóvel global”.

Também a Nissan defende que uma vasta implementação de uma rede de postos de carregamentos rápidos a nível europeu é essencial para impulsionar o mercado.

“Uma medida importante seria a aposta na disseminação da infraestrutura de carga rápida, essencial para que as viagens deixem definitivamente de constituir um fator de ansiedade para os condutores”, afirmou António Pereira Joaquim.

Já a BMW aponta que consumidores mais atentos aos problemas ambientais são essenciais para o crescimento da mobilidade verde.

“A consciencialização dos consumidores para as questões ambientais saiu reforçada desta crise e isto poderá claramente acelerar a mobilidade sustentável”, analisou o diretor-geral da BMW Portugal.

“As várias medidas e incentivos, levados a cabo pelos governos europeus, contribuíram para que haja cada vez mais carros ecológicos nas estradas. No entanto, acreditamos que é necessário implementar mais medidas para aumentar a utilização do veículo elétrico, tal como assegurar uma boa rede de carregamento, dar vantagens ao nível das portagens nas autoestradas, estacionamento e a harmonização dos apoios fiscais à aquisição de veículos eletrificados”, defendeu Massimo Senatore.

Também a SIVA aponta que os consumidores estão mais conscientes ambientalmente, e que as vendas de carros elétricos deverão até aumentar este ano em Portugal.

“É possível – pelo menos, alguns estudos assim apontam – que a consciência dos consumidores sobre a sustentabilidade ambiental saia reforçada desta crise, o que aumenta o interesse pela mobilidade elétrica e pode impulsionar a procura de carros elétricos. Se a isto juntarmos o aumento da oferta de novos veículos 100% elétricos (BEV) por parte das diversas marcas, deveremos assistir a um incremento das vendas em 2020”, prevê Ricardo Tomaz. A Volkswagen produz os 100% elétricos up! ou a versão elétrica do Golf, enquanto que a Audi produz o e-tron.

O responsável de marketing e comunicação destas duas marcas alemãs em Portugal não tem dúvidas sobre o futuro: “A Covid-19 não pode interromper o percurso irreversível da indústria em direção à mobilidade elétrica”.

Para a marca coreana Kia, os incentivos fiscais são essenciais para promover as vendas a nível europeu.
“Para que os carros elétricos possam representar uma maior quota nas vendas globais de automóveis é preciso que o seu preço se comece a aproximar mais do que custa hoje um carro equivalente a diesel ou gasolina”, segundo João Seabra.

“Para isso ou haverá incentivos fiscais nos vários países que reduzam o preço de aquisição destes carros ou uma ajuda aos fabricantes para os comercializaram a mais baixo preço. Por outro lado, é preciso um forte investimento na Europa na infraestrutura de carregamento (rápido) do parque circulante para que isso não seja um entrave à mobilidade elétrica”, de acordo com o responsável da Kia Portugal, que produz o e-Niro.

Por seu turno, a Associação Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE) registou um aumento do interesse por parte dos consumidores. “Várias pessoas que não estavam a pensar comprar um veículo elétrico de todo, mas que neste momento estão a colocar essa questão por várias razões dirigiram-se à UVE. Houve até pessoas que invocaram a questão de terem garagem e poderem carregar o carro em casa, sem terem necessidade de irem abastecer a uma estação de serviço e terem de pegar em equipamentos e interagir com outras pessoas”, afirmou o presidente da UVE, Henrique Sanchéz.

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