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Maria Teresa Horta, voz ‘libertadora’, morre aos 87 anos

Maria Teresa Horta ficou conhecida por ser uma das autoras das “Novas Cartas Portuguesas”, obra de 1972. Foi alvo de um processo judicial e censurada pela PIDE. Em dezembro, foi escolhida pela BBC para integrar as 100 mulheres mais influentes e inspiradoras de todo o mundo.
4 Fevereiro 2025, 10h46
Em atualização

Voz inconfundível da literatura portuguesa, Maria Teresa Horta morreu, esta manhã, em Lisboa, aos 87 anos. “Uma perda de dimensões incalculáveis para a literatura portuguesa, para a poesia, o jornalismo e o feminismo, a quem Maria Teresa Horta dedicou, orgulhosamente, grande parte da sua vida”, nas palavras da Dom Quixote, a sua editora.

A escritora, que ainda muito recentemente foi eleita, pela BBC, uma das “100 mulheres mais influentes e inspiradoras de todo o mundo”, nasceu a 20 de maio de 1937 em Lisboa. Maria Teresa de Mascarenhas Horta Barros frequentou a Faculdade de Letras de Lisboa, foi dirigente do ABC Cine-Clube e militante ativa nos movimentos de emancipação feminina. Ficcionista, dramaturga, poeta e jornalista de profissão, integrou a redação do jornal “A Capital”, dirigiu a revista “Mulheres” e dedicou-se ao movimento cineclubista português.

Maria Teresa Horta, em conjunto com Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno – que ficariam para a história como as “Três Marias” – denunciaram na obra “Novas Cartas Portuguesas”, reprimida pela censura e largamente difundida a nível internacional, as hipocrisias e repressões do mundo social.

O seu nome como autora ficará para sempre ligada a um registo de exaltação do corpo, de libertação feminina e de denúncia dos espartilhos sociais, e a diversos registos, desde o poético e memorial, ao epistolar e narrativo. A indagação sobre a condição feminina, em que cabe também a atualização do tema da paixão avassaladora, como no romance “A Paixão Segundo Constança H.”.

Dentre os seus livros de poesia, destaque para “As Palavras do Corpo – Antologia de Poesia Erótica”, de 2012, “A Dama e o Unicórnio” (2013), “Anunciações” (2016), vencedor do Prémio Autores SPA/Melhor Livro de Poesia 2017, “Poesis” (2017), “Estranhezas” (2018) e a antologia “Eu sou a Minha Poesia” (2019), o seu mais recente livro.

António Ramos Rosa referiu-se a Maria Teresa Horta, no âmbito da coletânea “Poesia” 61, na qual participou com Tatuagem, que “cada poema seu é um ato de desnudação que põe em causa as convenções da vida social e está para além das barreiras protetoras da dignidade e do pudor. (…) Contra a pobreza do mundo social, contra uma realidade ressequida e descarnada, o poeta realiza a transmutação vital que é uma verdadeira transformação orgânica e física do corpo humano (…). Seja direta, seja metafórica, a sua linguagem tem a ardência vital do corpo e a sua violência sensual é, em toda a sua irracionalidade, libertadora e subversiva.”

A sua editora, em comunicado, “lamenta o desaparecimento de uma das personalidades mais notáveis e admiráveis do nosso tempo, reconhecida defensora dos direitos das mulheres e da liberdade, numa altura em que nem sempre era fácil assumi-lo, autora de uma obra que ficará para sempre na memória de várias gerações de leitores (…) Os livros de Maria Teresa Horta, esses, mantêm-se vivos e continuarão a ter o merecido lugar de destaque no catálogo da Dom Quixote”.

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