Voz inconfundível da literatura portuguesa, Maria Teresa Horta morreu, esta manhã, em Lisboa, aos 87 anos. “Uma perda de dimensões incalculáveis para a literatura portuguesa, para a poesia, o jornalismo e o feminismo, a quem Maria Teresa Horta dedicou, orgulhosamente, grande parte da sua vida”, nas palavras da Dom Quixote, a sua editora.
A escritora, que ainda muito recentemente foi eleita, pela BBC, uma das “100 mulheres mais influentes e inspiradoras de todo o mundo”, nasceu a 20 de maio de 1937 em Lisboa. Maria Teresa de Mascarenhas Horta Barros frequentou a Faculdade de Letras de Lisboa, foi dirigente do ABC Cine-Clube e militante ativa nos movimentos de emancipação feminina. Ficcionista, dramaturga, poeta e jornalista de profissão, integrou a redação do jornal “A Capital”, dirigiu a revista “Mulheres” e dedicou-se ao movimento cineclubista português.
Maria Teresa Horta, em conjunto com Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno – que ficariam para a história como as “Três Marias” – denunciaram na obra “Novas Cartas Portuguesas”, reprimida pela censura e largamente difundida a nível internacional, as hipocrisias e repressões do mundo social.
O seu nome como autora ficará para sempre ligada a um registo de exaltação do corpo, de libertação feminina e de denúncia dos espartilhos sociais, e a diversos registos, desde o poético e memorial, ao epistolar e narrativo. A indagação sobre a condição feminina, em que cabe também a atualização do tema da paixão avassaladora, como no romance “A Paixão Segundo Constança H.”.
Dentre os seus livros de poesia, destaque para “As Palavras do Corpo – Antologia de Poesia Erótica”, de 2012, “A Dama e o Unicórnio” (2013), “Anunciações” (2016), vencedor do Prémio Autores SPA/Melhor Livro de Poesia 2017, “Poesis” (2017), “Estranhezas” (2018) e a antologia “Eu sou a Minha Poesia” (2019), o seu mais recente livro.
António Ramos Rosa referiu-se a Maria Teresa Horta, no âmbito da coletânea “Poesia” 61, na qual participou com Tatuagem, que “cada poema seu é um ato de desnudação que põe em causa as convenções da vida social e está para além das barreiras protetoras da dignidade e do pudor. (…) Contra a pobreza do mundo social, contra uma realidade ressequida e descarnada, o poeta realiza a transmutação vital que é uma verdadeira transformação orgânica e física do corpo humano (…). Seja direta, seja metafórica, a sua linguagem tem a ardência vital do corpo e a sua violência sensual é, em toda a sua irracionalidade, libertadora e subversiva.”
A sua editora, em comunicado, “lamenta o desaparecimento de uma das personalidades mais notáveis e admiráveis do nosso tempo, reconhecida defensora dos direitos das mulheres e da liberdade, numa altura em que nem sempre era fácil assumi-lo, autora de uma obra que ficará para sempre na memória de várias gerações de leitores (…) Os livros de Maria Teresa Horta, esses, mantêm-se vivos e continuarão a ter o merecido lugar de destaque no catálogo da Dom Quixote”.
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