Mário Centeno alerta que BCE não pode tolerar inflação abaixo dos 2% durante muito tempo

“O Banco Central Europeu pode tolerar uma inflação abaixo dos 2% durante algum tempo, mas terá de tomar medidas se as pressões sobre os preços continuarem aquém da meta de forma sustentável e as expectativas começarem a baixar”, quem o diz é Mário Centeno, ainda Governador do Banco de Portugal, em entrevista à Bloomberg.

Uma leitura da inflação em 2028 — a acrescentar às projeções de dezembro do BCE — ficará quase certamente abaixo dos 2%, disse o presidente do banco central português numa entrevista em Copenhaga, onde participa pela última vez numa reunião de responsáveis ​​financeiros europeus.

O membro cessante do Conselho do BCE, Mario Centeno, afirmou que os riscos para a perspetiva dos preços são negativos e que a próxima medida do BCE será provavelmente um corte.

Centeno acredita que a inflação irá em breve descer abaixo da meta do BCE e manter-se-á nesse nível durante algum tempo, e que é mais provável que o BCE tenha de flexibilizar ainda mais a política monetária.

“Podemos esperar uma inflação abaixo do objetivo durante alguns trimestres, mas, a dada altura, teremos de fazer alguma coisa, também para evitar uma desancoragem das expectativas de inflação se esta ficar muito tempo abaixo do objetivo”, disse. “Manter a inflação sustentavelmente abaixo do objetivo não é o nosso objetivo e não estaria em linha com o nosso mandato.”

O BCE manteve a sua taxa de depósito em 2% na semana passada.

A presidente Christine Lagarde defendeu que a política monetária está numa “boa posição” para manter os preços estáveis, embora uma actualização das projecções económicas tenha mostrado uma inflação ligeiramente abaixo do objectivo em 2027.

Centeno enfatizou que a previsão para 2027 é de apenas 1,9% devido aos efeitos do Sistema Europeu de Comércio de Licenças de Emissão 2.

“Mas politicamente não há certezas se isso realmente acontecerá e será apenas um evento pontual”, disse. “Portanto, nos cenários atuais, vejo uma inflação abaixo dos 2% em 2028, que é o médio prazo a partir das projeções de dezembro.”