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Mário Centeno “reúne todos os requisitos” para voltar a ser governador, diz o primeiro-ministro

Luís Montenegro admitiu este domingo, pela primeira vez, que o atual governador “reúne todos os requisitos”, deixando no ar a possibilidade de o manter no cargo de governador do Banco de Portugal. Decisão será anunciada na próxima quinta-feira, revelou ainda o primeiro-ministro. Mário Centeno terminou o mandato este sábado, 19 de julho.
21 Julho 2025, 07h00

O Governo vai anunciar na próxima quinta-feira, 24 de julho, o nome do novo governador do Banco de Portugal (BdP), após Mário Centeno ter terminado o mandato este sábado, dia 19. Luís Montenegro admite, pela primeira vez, que o atual governador “reúne todos os requisitos” o que deixa no ar a possibilidade de manter Centeno no cargo.

Este domingo, na Madeira, em resposta a uma questão da RTP, o primeiro-ministro afirmou: “A decisão do Governo pode ser manter o atual governador ou substituí-lo – essa é a decisão que vamos anunciar na próxima quinta-feira”. E para que não restassem dúvidas, perante a insistência do jornalista se Mário Centeno poderia continuar, esclareceu: “O dr. Mário Centeno reúne todos os requisitos para ser governador do Banco de Portugal. Isso não está em causa”.

Horas antes, no Chão da Lagoa, onde anunciou que a decisão será revelada ao país após o Conselho de Ministros da próxima quinta-feira, Montenegro satisfez a curiosidade do jornalista sobre o perfil do governador, referindo que as caraterísticas não mudam com o tempo. “É sempre o mesmo. Terá de ser uma pessoa competente e que garanta tudo aquilo que são o cumprimento das funções de um banco central”.

No Funchal, onde participou este fim de semana na tradicional festa do PSD no Chão da Lagoa, Montenegro tinha já elencado na véspera e com poucos detalhes em que será baseada a escolha. “É preciso ser uma pessoa independente”, sem avançar com pormenores.

Nas últimas semanas, vários nomes foram apontados para substituir Mário Centeno, que já era dado como o único governador não reconduzido no cargo em 25 anos. Entre os mais falados figuram os antigos ministros de Pedro Passos Coelho: Álvaro Santos Costa e Vítor Gaspar e o professor de Economia na London School of Economics, Ricardo Reis.

O processo está a ser conduzido no círculo mais restrito do primeiro-ministro que tem guardado a sete chaves o nome do próximo governador do Banco de Portugal, tendo sido dado como certo nas últimas semanas que Centeno não deverá ser reconduzido no cargo apesar de em diversas ocasiões ter sinalizado a sua disponibilidade. Mas neste domingo, 20 de julho, o primeiro-ministro abriu, pela primeira vez, a porta à possibilidade do antigo ministro das Finanças do PS poder vir a permanecer a liderar os destinos do BdP.

Caso não seja essa a decisão, de Centeno suceder a Centeno, a opção deverá recair fora do atual rol de candidatos que têm vindo a ser apontados como o do antigo ministro das Finanças Vítor Gaspar, atual diretor do departamento de finanças públicas do Fundo Monetário Internacional (FMI), cujo cargo deverá deixar em novembro ao fim de 11 anos. Também o economista Ricardo Reis tem sido apontado para suceder a Centeno, mas o professor da London School of Economics poderá estar também fora das opções de Montenegro.

Álvaro Santos Pereira é outro dos três nomes mais fortes que foram apontados como possibilidades, nos últimos meses, tendo o antigo ministro da Economia, assegurado numa entrevista ao Expresso estar “muito feliz” como economista-chefe da OCDE, sinalizando que estaria fora da corrida.

Tal como noticiado pelo JE a 28 de junho, fontes do setor financeiro avançaram outros nomes como o de João Cabral dos Santos, quadro da Reserva Federal (Fed) de Nova Iorque, bem como o de Sérgio Rebelo, doutorado em Economia na Universidade de Rochester, consultor do Banco Mundial, da Comissão Europeia, do FMI, do BCE, do McKinsey Global Institute, do Global Markets Institute da Goldman Sachs, e de Luís Cabral, professor na Universidade de Nova Iorque.

No role de sugestões referidas pelo JE está ainda António Ramalho, que deixará de ter incompatibilidade a partir de 1 de agosto, após ter sido presidente executivo do Novobanco.

Já Centeno tem repetido a sua disponibilidade para continuar à frente da instituição, remetendo para o Executivo a responsabilidade sobre a decisão de o reconduzir. Mas a relação entre o Banco de Portugal e o Governo foi tensa, particularmente com o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento. A troca de recados sobre o equilíbrio das contas públicas foi uma constante. A mais recente foi quando alertou para a possibilidade de um regresso aos défices orçamentais já no próximo ano, ecoando preocupações partilhadas com o Conselho de Finanças Públicas (CFP.)

Em entrevista à RTP em janeiro, quando questionado sobre um segundo mandato garantiu: “Nunca desempenhei as minhas funções para passar com dez. O foco é esse“. Porém, reconheceu que a sua “expectativa é irrelevante para o tema”, já que não está nas suas mãos.

Centeno participa ainda em reuniões do BCE

Mário Centeno que terminou o seu mandato a 19 de julho, cinco anos após ter sido a escolha do governo socialista para liderar os destinos do regulador financeiro, mas deverá permanecer em funções até ao arranque da próxima sessão legislativa.

Com Mário Centeno a terminar neste fim-de-semana e sem uma rápida nomeação do novo governador, o ex-ministro das Finanças português deverá participar nas próximas decisões do Banco Central Europeu (BCE), já na próxima semana, 23 e 24 de julho em Frankfurt, podendo ainda participar na reunião do BCE para 10 e 11 de setembro. Isto porque, apesar de o nome do governador ser designado pelo Governo, sob proposta do ministro das Finanças, o novo governador terá de ser ouvido pela comissão parlamentar competente (a de Orçamento e Finanças), que dará o seu “parecer fundamentado”. Com entrada para férias parlamentares, os trabalhos da Assembleia da República só serão retomados a dia 9 de setembro

Mário Centeno manter-se-á em funções, com os poderes de governador intactos, até à tomada de posse do seu sucessor, que poderá ser ele mesmo. Faltam apenas três dias para que o tabu seja desfeito.

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