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Mário Ferreira estava pronto a cobrir valor que faltava para comprar TVI

Patrão da Douro Azul estava disponível para investir mais no aumento de capital da Cofina para comprar TVI. Ao Jornal Económico, diz-se “surpreendido” pelo cancelamento do negócio. Media Capital procura “novos caminhos”.
13 Março 2020, 09h39

A Cofina ficou a cerca de três milhões de euros de conseguir concluir o aumento de capital de 85 milhões de euros necessário para financiar a compra da Media Capital. Esta situação, que surpreendeu o mercado na madrugada da passada quarta-feira, está a dar origem a um braço de ferro com a Prisa e com o empresário Mário Ferreira. O patrão da Douro Azul acusa a Cofina de ter cancelado a operação de forma unilateral e dá a entender que estava disponível para entrar com os 2,9 milhões de euros que faltavam para subscrever a totalidade do aumento de capital.

Em declarações ao Jornal Económico, no dia em que o negócio de compra da dona da TVI foi cancelado, Mário Ferreira disse que estava disponível para comprar as ações que “facultaram para subscrever”, dando a entender que estava disposto a investir um montante superior. “Da minha parte cumpri com aquilo a que me comprometi, subscrevi todo o montante do capital que me pediram e me facultaram para subscrever” afirmou ao Jornal Económico. “De facto, foi para mim uma grande surpresa”, acrescentou, numa referência ao comunicado que a Cofina enviou à CMVM a dar conta do fracasso da operação.

Nos termos do acordo com a Cofina, Mário Ferreira ficaria como segundo maior acionista do grupo, com uma participação de 15% do capital. Mas se Mário Ferreira investisse mais 2,9 milhões de euros, a sua participação na Cofina seria superior aos 20,13% que seriam detidos por Paulo Fernandes após a conclusão da fusão.

O aumento de capital de 85 milhões era condição suspensiva para a oferta pública de aquisição (OPA) que a Cofina teria de lançar depois de comprar os 95% da Media Capital à Prisa. No entanto, o anúncio preliminar da OPA à dona da TVI detalha que essa condição “apenas se terá por não verificada no caso de o aumento de capital não ser aprovado por razões não imputáveis ao oferente ou aos acionistas qualificados da oferente, que apresentaram compromissos de subscrição de novas ações a emitir”.

O insucesso do aumento de capital de 85 milhões de euros da Cofina surpreendeu, sobretudo porque o negócio já tinha garantido todas as autorizações regulatórias necessárias. Contactada, fonte oficial da Cofina não quis comentar e remeteu a posição do grupo de media para os comunicados já veiculados pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. Da mesma forma, fonte oficial da Media Capital remeteu para o comunicado da Prisa, mas adiantou que “perante novos cenários há que encontrar novos caminhos”.

Uma outra fonte de mercado explicou que um desses caminhos poderá ser um posicionamento conjunto de Mário Ferreira e do Abanca, numa eventual aquisição da dona da TVI.

Dúvidas e conjuntura
A inviabilidade da operação de aquisição da Media Capital pela Cofina deixou ambos os players insatisfeitos. Segundo uma fonte de mercado, um reatamento das relações que leve a uma nova operação de aquisição não é impossível, mas teria de acontecer noutros moldes. A mesma fonte diz que o cenário dependeria mais dos espanhóis da Prisa, que controlam a dona da TVI através da holding Vértix.

A Cofina tencionava garantir os 85 milhões de euros através de uma oferta pública de subscrição. A operação, que previa a emissão de 188.888.889 novas ações, era “reservada a acionistas no exercício do direito de preferência e demais investidores que adquiram direitos de subscrição” e o preço de subscrição foi fixado em 0,45 euros. Ao todo, o grupo liderado por Paulo Fernandes só conseguiu captar 82,1 milhões, dos quais cerca de 60 milhões de euros foram garantidos pelos atuais acionistas da Cofina e pela Pluris Investments, sociedade detida pelo dono da Douro Azul, que fora convidado a participar na operação por Paulo Fernandes.

Além da decisão de Paulo Fernandes, acresceram as dúvidas dos demais investidores, alimentadas pelos resultados negativos da Media Capital em 2019 (54,7 milhões de euros) e a conseguinte depreciação dos títulos da Cofina, enquanto a oferta pública de subscrição decorria, “tendo especialmente em consideração a recente e significativa deterioração das condições de mercado”, lê-se no comunicado da Cofina que anunciou a desistência da compra da dona da TVI.

Isto é, depois da divulgação dos prejuízos, os títulos da Cofina ficaram a cotar a 0,40 euros, cinco cêntimos abaixo do preço de subscrição para entrar no aumento de capital. O Jornal Económico sabe que os responsáveis da Cofina não ficaram satisfeitos com a divulgação dos resultados negativos da Media Capital. A isto somou-se a conjuntura das bolsas em todo o mundo, que sofrem monumentais perdas à boleia da propagação do novo coronavírus (Covid-19).

Uma outra fonte de mercado acredita que o insucesso do negócio se deveu a uma questão de timing, uma vez que o contexto mudou.

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