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Marques Mendes acusa Parlamento de “oportunismo” por querer impedir Centeno de ser governador do BdP

Luís Marques Mendes criticou o momento da saída de Mário Centeno do ministério das Finanças numa altura de crise económica e referiu que a prioridade do ministro demissionário é agora o Banco de Portugal. Os partidos querem impedir Centeno de ser o próximo governador com uma lei feita à pressa e à medida de Centeno. “É uma vergonha”, disse Marques Mendes.
14 Junho 2020, 21h55

“Eu aqui devo dizer que isto que o Parlamento se prepara para fazer é uma vergonha”. Foi com estas palavras que Luís Marques Mendes condenou a atuação dos deputados quando, na semana passada, aprovaram na generalidade o projeto-lei apresentado pelo PAN que prevê um período de nojo de cinco anos para ex-governantes ocuparem o cargo de governador do Banco de Portugal ou cargos na administração do regulador da banca.

No seu espaço de comentário semanal na SIC, Marques Mendes considerou que o Parlamento está a levar a cabo um “exercício de oportunismo”.

“É um exercício de oportunismo dos partidos criarem uma lei que cria uma incompatibilidade para Centeno ir para o Banco de Portugal. Não é esse o papel do Parlamento. Se o Parlamento quisesse ter uma atitude séria, teria aprovado há mais tempo. O PSD então é o partido que tem menos autoridade para fazer isto. No passado, o PSD colocou três pessoas que, em meses, transitaram do Governo para o Banco de Portugal”.

Questionado sobre o momento do anúncio da saída de Mário Centeno do Governo, Marques Mendes desafiou o ex-governante a explicar aos portugueses porque resolveu abandonar o Terreiro do Paço. Mas o comentador apontou a resposta para o BdP. “Eu acho que o que fez sair agora neste timing foi o BdP”. “A prioridade é o BdP, eu acho que provavelmente vai, todos os sinais apontam nesse sentido, vincou.

“Ele interrompeu um ciclo, devia dar uma explicação. A generalidade dos portugueses sabe por que é que ele sai? Eu acho que ele foi irresponsável. Ele tem de dar uma explicação, é o mínimo que tem de fazer por respeito aos portugueses”, disse Marques Mendes.

António Costa reforça influência nas finanças

Marques Mendes mostrou-se muito “crítico” sobre saída de Centeno das Finanças. “Um ministro das Finanças sair de uma crise económica como esta, maior que a crise da Troika, é uma irresponsabilidade. Um ministro das Finanças com sentido de Estado, neste momento dá a cara, não foge”, afirmou.

O comentador prestou uma breve homenagem ao ministro das Finanças demissionário, a quem lhe reconheceu “competência” a capacidade de “gerar resultados”, sendo o homem que ficou conhecido por ter alcançado um excedente orçamental, mas criticou a saída de Centeno do Governo. “Tem obra, credibilidade e gerou resultados. Deu rigor e credibilidade ao PS. Criou equilíbrio nas contas e um excedente orçamental.

Mas para Marques Mendes, o ministro das Finanças demissionário tem dois lados. “Mário Centeno tem um lado bom, que é a sua competência e os resultados. Mas tem um lado mau, tem um umbigo do tamanho do mundo”, disse.

Marques Mendes prosseguiu referindo que a substituição de Centeno por João Leão disse que a sua substituição por João Leão era “natural” e “permite ao Governo dar uma imagem de continuidade no rigor orçamental”.

No entanto, nesta dança de cadeiras, há um membro do Governo que vai reforçar a sua influência no Terreiro do Paço: o primeiro-ministro, António Costa.

“Há uma diferença enorme: o peso político. Mário Centeno tinha imenso peso político, e João Leão não tem, nem terá. O ministro das Finanças agora é António Costa”, salientou o comentador político. E adiantou que “António Costa mandava pouco no ministério das Finanças. A partir de agora, António Costa vai mandar muito mais, o que lhe vai dar mais liberdade de movimentos, mas também mais exposto, porque já não tem o escudo de Mário Centeno.

Governo provoca Parlamento com parecer jurídico

Luís Marques Mendes deu uma novidade sobre o Orçamento Suplementar, que foi proposto pelo Governo na semana passada e cujo debate se inicia esta terça-feira na Assembleia da República.

Desde sexta-feira que a Assembleia da República tem nas mãos um parecer jurídico — o documento ainda não foi tornado público — que foi elaborado elo Centro de Competências de Jurídicas do Estado, no qual o Executivo informou os deputados que não podem apresentar propostas para diminuir a receita ou aumentar a despesa.

“Do ponto de vista político isto é uma atitude provocatória contra a Assembleia da República, parece o Governo dizer o que a Assembleia pode ou não pode fazer. O Governo não pode enviar um parecer assim ao Parlamento, tratando-o como se fosse uma direção-geral. Acho que isto é uma atitude provocatória. Os partidos vão ficar com os cabelos em pé”, concluiu Marques Mendes.

 

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