[weglot_switcher]

Massacre de Srebrenica: Mladić homenageado como “herói” na sua terra natal

O Massacre de Srebrenica teve como protagonista principal o general sérvio Ratko Mladić, que na próxima semana volta à barra do Tribunal Penal Internacional acusado de genocídio e crimes de guerra.
19 Novembro 2017, 11h00

A Europa encontrava-se ainda a recuperar dos horrores da Segunda Guerra Mundial, quando foi perturbada com um novo evento igualmente sanguinário. O Massacre de Srebrenica, que viria a ser considerado o maior assassinato em massa do pós-guerra, teve como protagonista principal o general Ratko Mladić, que na próxima semana volta à barra dos tribunais acusado de genocídio e crimes de guerra. Mas se por um lado há quem o considere um criminoso, há também quem o considere um “herói” e, na cidade de Božanovići, é honrado como “filho favorito” da nação.

“[Ratko Mladić] não fez essas coisas de que o acusam. Outros o fizeram. O general Mladić é um colosso, um grande e bom homem”, afirma Zoran Mladić, um dos habitantes de Božanovići, no nordeste da Bósnia e Herzegovina, de onde é natural o general que comandou as tropas do exército sérvio-bósnio na invasão e consequente massacre de Srebrenica.

Nesta pequena vila, grande parte dos habitantes partilham laços sanguíneos com o antigo general. Destacam-lhe a ambição e o empenho que o levaram a conquistar a consideração de um dos homens mais importantes da antiga Jugoslávia, Radovan Karadžić, que viria a ser também condenado pelo Tribunal Penal Internacional pela prática de centenas de crimes hediondos.

Nos cafés da vila, imagens de Ratko Mladić dominam as paredes e uma das principais ruas de Božanovići foi batizada com o nome do “amado general”, acusado de mandar matar centenas de muçulmanos e croatas. “Ele não matou essas pessoas. Durante a guerra, ele reuniu os nossos vizinhos muçulmanos de uma aldeia próxima e avisou-os a tempo para poderem fugir”, afirma Dusko Mladić, companheiro de infância do general.

“Eu ficaria mais feliz se [Ratko Mladić] morresse antes do julgamento”, declara outra prima do general, Mile Mladić. “Assim, levantaríamos um grande monumento para ele na aldeia e escreveremos a verdade. Tudo isso de que ele é acusado não é a verdade. É uma mentira. O general não é culpado”.

Ratko Mladić vai ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional, em Haia, depois do tribunal de crimes de guerra de Belgrado ter decidido transferir o processo para as mãos da Organização das Nações Unidas (ONU). O processo instaurado contra o ex-general por responsabilidades no Massacre de Srebrenica teve início em dezembro do ano passado. Ratko Mladić é acusado de ter causado a morte a cerca de 8 mil muçulmanos e pode arriscar-se a uma pena até 20 anos de prisão.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.