Passou quase uma década desde a grande crise financeira mundial e, uma vez ultrapassada a onda de choque, a economia global iniciou um percurso de recuperação, que se tem mostrado resiliente. Agora que nos aproximamos do final do ciclo económico, muitos investidores temem um novo colapso no mercado de ações.
Um colapso não é, no entanto, o cenário que projetamos, até porque os mercados costumam antecipar com eficiência os altos e baixos da economia, sendo tendencialmente mais afetados por decisões políticas ou bolhas imprevistas. Nesta etapa de maturidade do ciclo, concordamos que o crescimento deverá abrandar, até porque as economias não podem crescer eternamente ao mesmo ritmo.
Dentro deste enquadramento mais desafiante, importa considerar que há diferenças entre as economias e mercados da zona euro e dos EUA, nomeadamente as que decorrem da Europa ter entrado mais tarde na recessão e ter demorado mais a sair dela. Neste sentido, o ciclo económico dos EUA estende-se claramente em relação ao seu histórico e é provável que esteja próximo do momento em que a atividade começa a refrear. Já a economia europeia tem condições para manter a sua trajetória de crescimento lento – porventura ainda mais lento – por mais um ou dois anos.
Um dos temas transversais aos dois mercados e de maior impacto potencial continua a ser o aperto da política monetária. Nos EUA, a Fed tem vindo a subir as taxas de juro e muitos investidores receiam que futuros aumentos travem a atividade económica; na Europa, o chamado alívio quantitativo (QE) está mais perto do fim sem que o crescimento tenha deixado a sua trajetória lenta. O QE europeu permitiu aos bancos centrais melhorarem os seus balanços, o que poderá ter prevenido um longo ciclo deflacionário, mas com o alívio a transformar-se em aperto quantitativo é expectável uma redução de liquidez que coloca um novo desafio ao mercado de ações.
Na Europa, há ainda outros desafios a considerar, nomeadamente os políticos, como os que advêm da saída do Reino Unido da UE e das controvérsias em torno da migração, que têm dificultado a estabilidade de elencos governamentais em vários países.
Mas o desafio mais óbvio para as ações globais é, sem dúvida, a deterioração das relações comerciais internacionais, com o Presidente Trump a impor tarifas aduaneiras a um vasto leque de indústrias e as inevitáveis respostas da China e, em menor escala, da Europa. O clima de negociações “olho por olho, dente por dente” dificulta uma perspetiva clara sobre o impacto destas tensões e caso não se alcance um acordo rapidamente, os mercados serão naturalmente afetados, em especial pela via do sentimento dos investidores.
Apesar deste enquadramento mais desafiante, parece-nos que os atuais fundamentais estão já a ser refletidos nas avaliações globais das ações e, em termos de valorização, a zona euro continua a parecer atrativa face a outras regiões.
Conseguir identificar as empresas mais atrativas neste contexto torna-se ainda mais relevante para os investidores, já que a geração de um retorno satisfatório passa a depender menos do acréscimo da atividade e da sua correlação com os lucros, e mais da capacidade para compreender quais as empresas que estão a implementar estratégias que lhes permitam melhorar desempenhos. É isso que fazemos, apoiados pela nossa análise de fundamentais e pela capacidade de selecionar, uma a uma, as empresas que se encontram baratas e com condições para superar o mercado.