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Mercado espera Fed prudente perante incerteza criada pelas políticas de Trump

Os constantes avanços e recuos das ameaças de Trump dificultam as perspectivas de empresas e consumidores, que antecipam mais inflação e mais probabilidade de recessão. Apesar de os indicadores ainda serem favoráveis, o cenário está a deteriorar-se rapidamente – mas a Fed terá de esperar para ver.
19 Março 2025, 07h00

A Reserva Federal norte-americana reúne esta semana e não deve mexer nos juros diretores, tentando navegar a incerteza criada pelos sucessivos avanços e recuos na política económica da administração Trump. Precisamente devido à incerteza acrescida, o foco dos investidores estará na atualização das projeções macro do banco central, onde se inclui a expectativa em relação aos juros nos próximos anos.

Com as taxas de referência entre 4,25% e 4,5%, a Fed não deve alterar a política monetária, dada a força que a maior economia do mundo continua a demonstrar. A inflação de fevereiro não subiu, ao contrário do que muitos temiam, caindo até mais do que se esperava: de 3% em janeiro, o indicador de preços recuou para 2,8% em fevereiro, abaixo dos 2,9% esperados. A inflação subjacente também caiu mais do que se projetava, para 3,1%, um mínimo desde abril de 2021 e um sinal animador para o banco central.

À primeira vista, a economia norte-americana continua robusta. Fevereiro viu a criação de 151 mil postos de trabalho, próximo dos 160 mil esperados, e o desemprego, apesar de ter subido marginalmente, continua em níveis historicamente baixos, com 4,1%. Os dados do índice de gestor de compras (PMI) continuam a apontar para crescimentos do lado dos serviços e da indústria.

No entanto, os medos de uma recessão cresceram significativamente e vários indicadores prospetivos deterioraram-se. As expectativas de inflação dos consumidores subiram consideravelmente com a guerra comercial aberta por Trump, e a confiança dos empresários caiu a pique, com as empresas a tentarem navegar a incerteza da política “errática” da Casa Branca, como classifica Paolo Zanghieri, economista sénior da Generali Investments.

“Os inquéritos mostram que empresas e consumidores esperam uma subida da inflação em função das tarifas, e há evidências de que os preços estão a subir em antecipação das mesmas. Por outro lado, a queda nas yields de longo prazo mostra os medos crescentes com uma possível recessão”, lê-se na nota da Generali.

Como tal, o analista espera, sobretudo, que o presidente da Fed privilegie a precaução na conferência de imprensa que se seguirá ao anúncio da decisão de política monetária, antecipando que o ‘dot-plot’ das previsões macro dos membros do banco aponte para duas descidas dos juros este ano.

Já Michael Krautzberger, diretor de Investimento Global em Obrigações da Allianz Global Investors, destaca as oscilações nas previsões de mercado quanto à evolução dos juros. Se à entrada para o último trimestre do ano passado os investidores antecipavam múltiplos cortes até ao final deste ano, a expectativa rapidamente se ajustou para apenas uma descida – cenário que, entretanto, já se alterou significativamente.

“No início deste ano, apenas foi precificado um corte da taxa da Fed em 2025 nos mercados de taxas de juro de curto prazo; nas últimas semanas, os preços avançaram para três cortes nas taxas”, destaca, sublinhando a incerteza em torno da evolução da economia norte-americana.

Também a Ebury antecipa uma alteração nas expectativas dos responsáveis da Fed para dois cortes este ano, “o que daria aos responsáveis flexibilidade para abrandar ou acelerar o ciclo de flexibilização, dependendo das condições económicas”. “Na nossa opinião, tanto as preocupações com a recessão como a recente reavaliação das expetativas em relação às taxas da Fed foram excessivas, o que pode abrir a porta a uma recuperação do dólar em relação aos níveis atuais”, lê-se ainda na sua nota de research.

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