[weglot_switcher]

Metalgest tinha EBITDA negativo e volume de negócios de 50 mil euros e recebeu um crédito de 50 milhões. Porquê? Perguntem à CGD

Pedi dinheiro para comprar ações e “não deu certo. Não sou o único”, disse Berardo. Já inicialmente o advogado de Berardo, André Luiz Gomes tinha dito que a Caixa tinha penhor sobre as ações do BCP com mandato para vender. “Se a Caixa tivesse usado essa prerrogativa, e vendido quando as ações deixaram de cobrir valor dos empréstimos, não teria registado perdas”, disse.
10 Maio 2019, 18h34

“Nunca tive contactos com decisores políticos. Quem manda nos bancos são os administradores”, disse Joe Berardo na ronda de questões do deputado comunista Duarte Alves.

“Como é que a Metalgest, que tinha 50 mil euros de volume de negócios e um EBTIDA negativo contraiu um crédito de 50 milhões de euros”? Perguntou o deputado e a resposta foi: “Perguntem à Caixa”, respondeu o dono da Metalgest, Joe Berardo.

Esse empréstimo foi “para comprar ações cotadas na bolsa, maior parte para o BCP”,  disse Berardo. Isto foi em 2006.

“Deve falar é com as pessoas que autorizaram essas coisas. Acha que eu sou dono do banco?”, rematou Berardo.

Pedi dinheiro para comprar ações e “não deu certo. Não sou o único”, disse Berardo. Já inicialmente o advogado de Berardo, André Luiz Gomes tinha dito que a CGD tinha penhor sobre as ações do BCP com mandato para vender. “Se a Caixa tivesse usado essa prerrogativa, e vendido quando as ações deixaram de cobrir valor dos empréstimos, não teria registado perdas”, disse.

Berardo falou da queda das ações do BCP, recordando que o empréstimo tinha uma cláusula “stop loss”, para a venda assim que as ações caíssem até um determinado valor. Mas “bancos disseram espere, espere”. “Então e o contrato?”, diz Berardo que perguntou. “Isso depois vê-se”, terá respondido a CGD.

A Associação Coleção Berardo está dada como penhora aos bancos, mas não a coleção de arte, lembrara antes Cecília Meireles do CDS.

“Quem manda na associação é administração. Sou eu que escolho a administração. Eu é que mando na associação. Eles que façam a penhora dos títulos”, disse o comendador. Cecília Meireles disse que, se houver uma execução, deixa de mandar na associação se os bancos executarem a associação. “Ah-ah-ah”, foi a resposta de Joe Berardo (presidente vitalício da associação).

Em causa está aquilo que foi dado como garantia no empréstimo da Fundação junto da Caixa: foram os títulos da associação e não a coleção de arte.

E é por isso que os bancos têm dificuldades em executar a garantia. A deputada falava da ação lançada pelos três bancos credores (a CGD o BES e o BCP).

Os bancos não conseguem aceder às obras de arte da Coleção Berardo, uma vez que o empresário tem um acordo com o Estado que determina que as obras de arte estejam em exposição no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, até 2022, e não podem ser vendidas.

Depois, numa resposta ao deputado do PSD, Duarte Marques, Joe Berardo disse que uma avaliação da coleção ia custar “uma pipa de massa”, tal como previa o contrato de penhor. Ao que o deputado contrapôs: a Caixa é que “está a custar uma pipa de massa a muita gente”. Joe Berardo não se ficou: “A mim não”.

A deputada Cecília Meireles antes quis saber se os bancos sabiam que não podiam executar a coleção de arte quando deram os empréstimos. “Como é que podem executar as obras se estão em exposição através de contrato [com o Estado]?”, questionou Joe Berardo, explicando a razão da sua reação.

Cecília Meireles lembrou que até 2017 havia um contrato, que depois foi renovado? “Sim. Os bancos sabiam disso”, revelou Joe Berardo.

“Quais são os ativos da Associação Coleção Berardo, que deu como penhor para dois contratos de 300 milhões de euros em dívida à Caixa?”, perguntara inicialmente Mariana Mortágua. “O que os bancos têm é títulos da associação, sempre souberam isso, e foram eles que avaliaram, não sei qual foi a avaliação que fizeram dos títulos. Perguntem à instituição financeira”, diz Berardo.

A CGD “sabia que não estava a dar como penhor as obras. Eles sabiam e aceitaram os títulos  da associação”.

“Não sei se os bancos venderam estas garantias aos fundos abutre (fundos de reestruturação)”, disse Berardo a propósito do aumento de capital que diluiu posição dos bancos na associação dona do coleção de arte que inicialmente era de 75%.

Joe Berardo diz que só convocando uma assembleia geral, é que se vê. “Não sei se os bancos venderam estas garantias. Não sei se ainda têm os nossos títulos”, adiantou.

Os bancos como credores com penhor têm direito de voto na assembleia-geral da Associação da Coleção Berardo, lembra Mortágua. Berado diz que está nos estatutos da associação entregues quando foi assinado o acordo de reestruturação que deu o penhor aos bancos, “se não exerceram esses direitos, não é culpa minha. Têm o direito ou não? Podem ter, mas não se apresentam”.

Cecília Meireles do CDS questionou Berardo sobre uma assembleia geral da Associação Coleção Berardo para mudar os estatutos em 2016 em que não convocou os bancos credores. E porque não convocou? Não tinha de o fazer, respondeu. E mudou os estatutos para quê? “Para defender os meus interesses”. E depois corrige para defender os interesses da associação.

Depois de ter dito que pessoalmente não tinha dívidas, foi questionado: “Quinta da Bacalhôa é sua?” E a resposta foi “Não tenho nada”.

No inicio da sessão Berardo foi confrontado por um deputado do PSD, que ironicamente lhe disse: “Sendo você um homem de negócios, de honra”, quando vão ser devolvidos os empréstimos da Fundação e Metalgest? A resposta foi “estamos a negociar com os bancos e veremos se chegamos a uma conclusão em breve”.

Joe Berardo respondeu que deu as ações da Quinta da Bacalhôa e da Empresa Madeirense de Tabacos a BCP. “Ao BES dei prédios próprios no Funchal”, completou. A CGD ficou com 40% da Associação Coleção Berardo.

Outro dos bancos que concedeu crédito a Joe Berardo foi o Santander Totta, mas este banco exerceu os mecanismos que permitiram travar as perdas e recuperar o dinheiro.

“O mais prejudicado aqui fui eu”, disse.

Os três bancos reclamam mais de 960 milhões de euros a Berardo, essencialmente por dívidas da Fundação Berardo e da empresa Metalgest.

Segundo a EY, Joe Berardo devia à Caixa Geral de Depósitos (CGD) 321 milhões de euros no final de 2015, metade dos quais o banco público dava como perdidos.

 

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.