Andrés Manuel López Obrador vai tomar posse este sábado como novo presidente do México, depois de ter vencido as eleições à primeira volta com mais de 53% dos votos. Descrito como “populista de esquerda”, conquistou também a maioria dos lugares na Câmara dos Deputados e no Senado, num continente que, nos últimos anos, virou à direita.
Aos 64 anos, o esquerdista foi o candidato mais velho na corrida às presidenciais de 1 de julho e o único que conseguiu obter maioria no Congresso, algo que já não acontecia há 18 anos. Esta não foi, no entanto, a primeira vez que AMLO, como é conhecido no país e além-fronteiras, concorreu à presidência do país. Fê-lo em 2006 e repetiu-o em 2012.
Na primeira candidatura a Los Pinos, Obrador liderou as preferências dos eleitores nas sondagens, mas acabou por perder com uma margem mínima de 0,58% de diferença do primeiro candidato mais votado. Obrador questionou o resultado eleitoral junto do Tribunal Eleitoral, que ordenou uma recontagem dos votos e veio dar razão aos números anteriormente lançados. O ano de 2012 não foi melhor para AMLO. Nomeado pelo Partido da Revolução Democrática (PRD), Obrador acabaria por perder para Enrique Peña Nieto, candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI) e atual líder do país.
AMLO criou então, em 2014, um partido à sua imagem e semelhança, a que chamou de Movimento de Regeneração Nacional (Morena). Depois da Independência, da Reforma e da Revolução, o partido propõe-se a lançar uma quarta revolução: a “transformação democrática do país”. Obrador compromete-se a defender os direitos humanos, a liberdade, a justiça e a dignidade de todos os mexicanos e promete lutar contra “o regime de opressão, corrupção e privilégios do Estado mafioso, construído pela minoria que concentra o poder económico e político do México”.
No seu discurso de vitória, AMLO afirmou que as mudanças da política do país serão “profundas”, mas garante que “dar-se-ão com respeito à ordem legal estabelecida”. “Haverá liberdade empresarial, de expressão, de associação e de crença. Estarão garantidas todas as liberdades individuais e sociais, assim como os direitos consagrados na Constituição”, afirmou.
As promessas vão ao encontro da vontade do povo mexicano e dão-lhe algum conforto numa altura de grande instabilidade no país. Os escândalos de corrupção, que abalaram o círculo próximo do atual presidente, trouxeram para as ruas uma onda de protestos, que fizeram de 2017 o ano mais violento no México de que há memória. O clima de insegurança também disparou. Desde que Penã Nieto subiu ao poder, em 2012, iniciou-se uma das fases de maior violência na história do país, com pelo menos 104 mil homicídios contabilizados.
O candidato acredita que o modelo neoliberal imposto nos últimos 30 anos fracassou e trouxe apenas benefícios para uma minoria “à custa da pobreza da maioria dos mexicanos”. Assim, Obrador quer acabar com os monopólios financeiros e os preços abusivos, tal como todos os benefícios fiscais. “A injustiça fiscal aprofunda a desigualdade social”, defende. A medida é vista como um entrave ao crescimento económico e ao investimento estrangeiro e há quem tema que as políticas de Obrador levem à formação de um Estado falido ao estilo da Venezuela. Numa afronta aos Estados Unidos, Obrador garante ainda ponderar uma revisão nos contratos petrolíferos com os norte-americanos e procurar novos aliados comerciais.
Entre outras medidas que estão a fazer correr tinta na imprensa, está a ideia de conceder amnistia a presos envolvidos em tráfico de droga e criar aquilo a que Obrador chamou de “Constituição moral”. O candidato de esquerda defende uma revolução de consciências e a criação de uma nova corrente de pensamento, que seja crítica e solidária. Essa corrente de pensamento tem como objetivo recuperar a ética política e garantir uma maior colaboração entre todos os mexicanos, para tornar a sociedade “mais democrática”. “Não aceitamos o predomínio do dinheiro, da mentira e da corrupção sobre a dignidade, a moral e o bem comum”, lê-se no programa eleitoral do Morena. “O México precisa de uma profunda mudança política, económica, social e cultural, que passa por uma mudança ética e moral”.
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