Os CEO do BPI, João Pedro Oliveira e Costa; do Crédito Agrícola, Licínio Pina; Miguel Maya, presidente do BCP; presidente da CGD, Paulo Macedo; e Pedro Leitão, presidente do Banco Montepio, falaram na conferência anual do Diário de Notícias e do Dinheiro Vivo sobre banca e setor financeiro – Money Conference 2025, num painel intitulado “A banca e o setor financeiro na era da incerteza”.
O tema da consolidação bancária atravessou todo o debate, numa altura em que o Novobanco vai para o mercado e já há vários bancos a posicionarem-se.
Sobre a consolidação bancária “há de acontecer ao longo do tempo. Ser grande não é ser ágil, não ganha o mais forte mas o mais ágil”, defendeu o presidente do BCP que reconheceu que “a dimensão também conta, e por isso olhamos para todas as oportunidades que surgirem mas com muito rigor”.
Já no fim da conferência e à margem dela, Miguel Maya disse que “analisamos essa oportunidade se os acionistas do Novobanco entenderem que a via ‘não IPO’ é uma via que é interessante para eles. Nessa altura analisaremos, sem nenhuma preocupação”.
Miguel Maya, sobre o alegado “excesso de banca espanhola”, disse que a preocupação deve ser com a “competência”. No entanto, “é muito bom haver banca nacional. É muito bom ter bancos portugueses”, acrescentando que sempre foi a favor de um banco público forte e de um banco privado como o BCP.
O CEO do BCP reconhece o papel dos bancos espanhóis para a economia portuguesa, no entanto “nunca me esqueço que quando foi preciso apoiar o Estado português [com subscrição de dívida pública], no tempo da troika, foram os bancos BCP, CGD e na altura o BES que avançaram com o apoio, os outros bancos não se opunham, mantinham a posição, mas tinham um enquadramento diferente”.
Miguel Maya explicou depois à margem da conferência que em 2011 “não foi um favor ao Estado, mas na altura era preciso salvar a economia portuguesa e o balanço dos bancos portugueses depende da economia portuguesa, ao contrário dos espanhóis que dependem da economia espanhola”.
Na resposta, João Pedro Oliveira e Costa, disse que “na altura o BPI tinha uma carteira de dívida pública de tal maneira, que teve de recomprar dívida à mesma entidade à qual tinha comprado antes, e pagar o dobro da taxa de juro”.
“Não foram só os três bancos que o Miguel [Maya] falou, pois todo o sistema financeiro português trabalhou na chamada “Operação Coração”, disse o presidente do BPI. Ora, “eu não concordo com ‘Operações Coração'”, disse lembrando que “ainda hoje estamos a pagar essa fatura”.
“Não concordo que os bancos sejam instrumentos do Estado, para, quando os políticos executam mal as suas funções, sejam chamados a pagar essa fatura e duas vezes. Recordo também que não correu bem aos três bancos [CGD, BCP e BES] e aos seus acionistas e por isso espero que o que aconteceu em 2011 não volte a acontecer”, disse o CEO do BPI.
João Pedro Oliveira e Costa considera que a consolidação da banca é um desígnio europeu, e, citando o Papa Francisco, defendeu que “nos devemos concentrar mais naquilo que nos une e não naquilo que nos afasta”.
“Recordo-me também que dois bancos estrangeiros saíram de Portugal (um inglês e outro alemão) e por acaso foram os bancos espanhóis que os compraram, porque não há capital nacional privado suficiente para ter um papel fundamental na banca portuguesa e por isso temos de nos centrar no que nos une e não no que nos separa”, referiu João Pedro Oliveira e Costa.
O CEO do BPI disse que “precisamos de ter um sistema financeiro forte e gerido por pessoas sérias e a intervenção do Estado deve ser equilibrada, não colocando nada diferente da competência à frente das decisões”, disse o banqueiro que frisou que “o BPI tem o centro de decisão em Portugal”.
João Pedro Oliveira e Costa fez ainda suas as palavras recentes de Paulo Macedo quando disse que não é em conferencia de imprensa que se anunciam aquisições.
O debate dos banqueiros começou com um comentário à frase da vice-governadora, Clara Raposo que disse que, no momento de incerteza atual, é ainda mais importante que os bancos “saibam investir os resultados acumulados nos últimos anos”.
Investir em algo que tenha um retorno atravessou assim o debate. Miguel Maya defendeu a importância de ter acionistas estáveis, e disse que isso consegue-se com a rentabilidade a superar o custo do capital.
Já Paulo Macedo lembrou que a CGD tem feito o seu trabalho, mas olhando para os últimos 15 anos a rentabilidade é de 1%; em 8 anos o ROE médio não ultrapassa os 9%, nos últimos 3 anos o ROE está acima de 15%
“A CGD quer investir no crédito, no talento, e depois na formação, e por fim na tecnologia”, disse o CEO da Caixa. Sobre a consolidação bancária, diz que há espaço e cita o BCE. “Vai ser tal exigência de investimento em tecnologias, que são precisos bancos e empresas com dimensão”, refere Paulo Macedo que lembra a necessidade de novas empresas na Europa e nos EUA de maior dimensão e de maior escala.
Mais investimento é, no caso do Banco Montepio, conceder mais crédito às empresas, disse Pedro Leitão. A expansão do balanço, das empresas comerciais e das empresas sociais, é um desígnio do banco da Associação Mutualista. A avaliação de risco ganha importância no atual contexto, disse.
“Internamente o maior investimento que temos é nas pessoas”, disse o CEO do Banco Montepio que antecipa que “na próxima década haverá uma grande transformação geracional na banca”.
“Há uma enorme liquidez no sistema”, sublinhou ainda Pedro Leitão, que lembrou que parte da liquidez está investido em divida pública.
Depois, João Pedro Oliveira e Costa disse que ao fim de termos eleições quase anualmente “está na altura de começar a trabalhar” e lembrou carga fiscal indesejada quer para empresas quer para os particulares (nomeadamente para a juventude).”
“Portugal tem um problema de burocracia, lembro que para construir uma casa são precisos sete anos só em licenças”, salientou o CEO do BPI que considera que falta na sociedade uma cultura de exigência. “Não há a cultura de exigir resultados, a gestão dos bancos é avaliada pelos acionistas e clientes e isso devia aplicar-se aos governos”, defendeu.
Miguel Maya, CEO do Millennium BCP, considera que a prosperidade é feita a partir do tecido empresarial. “A economia é mais global, mais digital e as empresas têm de ter capacidade de se capitalizarem, são precisas transformações de longo prazo para tornar a economia mais sustentável, o tema da falta de habitação só não viu há 15 anos, quem não quis”, disse Miguel Maya que sublinhou “as coisas antecipam-se, planeiam-se”.
Por fim Pedro Leitão, CEO do Banco Montepio, sobre as prioridades para o país destacou que “há outra bomba relógio em cima da mesa que é a demografia”, e que “toda a gente está a ver”. Há politicas publicas que têm de ser postas em prática, defendeu.
O Banco de Portugal disse hoje que a regulação e a supervisão “têm permitido que os bancos sejam mais resilientes” e estejam hoje mais preparados para eventuais crises. Já o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Vítor Bento, na mesma conferência, apontou a excessiva regulação e burocracia prejudicam “a competitividade e o bem-estar social” e promovem uma “cultura de excessiva aversão ao risco”.
Questionado o presidente do BCP defendeu uma regulação simples e não menos regulação. “Uma atividade bem regulada protege a trajetória de crescimento da economia. “Outra coisa são os excessos, e a complexidade, e é preciso garantir que todos os operam com o mesmo level playing field”, disse Miguel Maya.
O presidente da CGD, na sua intervenção, voltou ao tema da regulação dizendo que na banca portuguesa teve efeitos benéficos.
Paulo Macedo disse ainda que não é porque os seis maiores bancos norte americanos saíram de net zero que os bancos europeus vão atras, “mas tem de haver um certo level paying field”.
Pedro Leitão, do Banco Montepio, sobre a regulação concordou com o CEO do BCP de é preciso maior simplificação.
Recorde-se que na mesma conferência, Vítor Bento (presidente da APB) disse que “não ficaria surpreendido se me dissessem que aos bancos portugueses é exigido até 20% mais de capital do que à média dos concorrentes da zona euro. Capital que, obviamente e para atrair investidores, tem de ser adequadamente remunerado com lucros”.
Vítor Bento disse estar convencido “que a banca portuguesa está preparada para se confrontar com o actual contexto de incerteza. E atrever-me-ia a dizer que a preocupam mais as adversidades certas que enfrentam continuamente, e que a desfavorecem concorrencialmente, do que a incerteza que paira no horizonte”.
(atualizada)
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com