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Miguel Poiares Maduro: “Principais receitas das SAD estão reduzidas a zero. Vão haver muitas falências”

Miguel Poiares Maduro, professor universitário e antigo presidente do Comité de Governação da FIFA, olha para esta crise com muitas reservas e elenca vários riscos caso os clubes sejam deixados à sua sorte: um deles é a integridade das competições.
  • Cristina Bernardo
20 Abril 2020, 07h15

A FIFA deverá usar boa parte das suas reservas para ajudar os clubes, num bolo de mil milhões de euros; já a UEFA também condições financeiras para o fazer e com receitas de quatro mil milhões de euros, é de esperar uma fatia considerável para ajudar os emblemas em dificuldades. Em entrevista ao “Jornal Económico”, Miguel Poiares Maduro, professor universitário e antigo presidente do Comité de Governação da FIFA, olha para esta crise com muitas reservas e elenca vários riscos caso os clubes sejam deixados à sua sorte: um deles é a integridade das competições.

 

Como podem a FIFA e a UEFA ajudar os clubes?

A FIFA, por exemplo, já disse que estava disponível para usar boa parte das reservas que tem e fala-se de um plano superior a mil milhões de euros para apoio ao futebol, resta saber como é que esse plano pode ser organizado. A UEFA também tem seguramente condições financeiras para ajudar, recordo que as receitas anuais deste organismo chegam aos quatro mil milhões de euros e grande parte desse dinheiro é distribuído aos clubes através dos direitos que os clubes recebem com base na Liga dos Campeões e na Liga Europa. Creio que nesse sentido e usando essas verbas podia ser equacionada uma taxa de solidariedade de 50% ao longo do próximo ano que faria com que a UEFA pudesse desenvolver um fundo com uma quantia substancial destinada ao apoio aos clubes.

O que está em causa com esta crise?

É preciso perceber o que está em causa. Na minha perspetiva, estamos perante uma crise económica global mas que afeta de forma muito particular a indústria do futebol dada a circunstância desta modalidade por definição envolver uma agregação tão massiva de adeptos que fez com que a pandemia tivesse causado a paralisação total da atividade económica. Isto significa perda total das receitas de bilheteira e das receitas obtidas nos dias de jogo; provável suspensão dos direitos televisivos e em Portugal percebemos que os operadores, para já estão a pagar mas noutros países, esses pagamentos foram cessados; perda de receitas de publicidade já que este é um setor que é um dos primeiros a sofrer cortes e por último, menciono as perdas ao nível dos ativos principais dos clubes, que são as vendas de jogadores, como é o caso de Portugal. Isto significa que as quatro principais receitas das SADs desportivas são praticamente reduzidas a zero ou sofrem cortes substanciais. Vai implicar uma fragilidade económica e financeira nos clubes, vai colocar em causa a sustentabilidade financeira de muitos clubes que pode culminar em muitas falências, atrasos nos pagamentos aos jogadores e possibilidade de desemprego de jogadores e vai expor os clubes à possibilidade de estarem mais suscetíveis a aquisições e investimento de capital externo que muitas vezes pode ser de origem duvidosa.

E aí entramos no problema do matchfixing?

Sabemos que o matchfixing é um problema enorme e que em muitos casos, estas situações já não implicam a corrupção de árbitros ou de jogadores mas sim a compra de clubes de futebol, não apenas para lavagem de dinheiro mas também para ganhar dinheiro com o matchfixing. Desta forma, esta crise pode colocar em causa a integridade das competições e a forma como a FIFA e a UEFA lidarem com isto vai ser fundamental no sentido de saber se pretendem a integridade das competições desportivas e a sustentabilidade do modelo de futebol ou se este modelo vai deixar de ter como base as competições nacionais e evoluir-se para um sistema americano.

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