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Mike Pompeo em périplo europeu contra a Turquia

O secretário de Estados norte-americano – um dos ‘últimos moicanos’ do grupo fiel a Donald Trump, está a tentar convencer os países europeus de que o ocidente precisa de fazer frente à Turquia. Mais um problema para a NATO resolver.
17 Novembro 2020, 17h25

O secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo, de visita, possivelmente a última, à Europa, tem tentado agregar os países do continente contra a Turquia e as suas mais recentes evoluções no quadro da crise no Médio Oriente. O périplo começou em Paris – o lugar certo para, na Europa, encontrar por estes dias um forte sentimento anti-turco – mas os Estados Unidos pretendes, com a colaboração da Europa, isolar as iniciativas da Turquia fora das suas fronteiras.

“O presidente de França, Emmanuel Macron, e eu concordámos que as ações recentes da Turquia foram muito agressivas”, disse Pompeo, citado pelos jornais franceses e referindo-se ao recente apoio da Turquia ao Azerbaijão no conflito de Nagorno-Karabakh com a Arménia, bem como aos movimentos militares turcos na Líbia e no Mediterrâneo Oriental.

“A Europa e os Estados Unidos devem trabalhar juntos para convencer Recep Erdogan de que tais ações não são do interesse de seu povo”, disse Pompeo, que se referiu ainda ao aumento da capacidade militar da Turquia, que considerou preocupante – como se o país não fosse um dos membros da NATO.

Aliás, dizem os observadores, este é o foco da questão: os Estados Unidos parecem apostados em fazer a Turquia sair da NATO, uma vez que o presidente Erdogan tem-se incompatibilizado com uma série de países que também fazem parte daquela organização – como a Grécia, Chipre, a França e os próprios Estados Unidos.

A Turquia, que aderiu à aliança militar entre 29 países norte-americanos e europeus em 1952, viu a adesão à NATO como algo que daria uma contribuição positiva para o desenvolvimento económico, militar e político do país. Desde então, a Turquia tem sido um aliado vital, fornecendo à NATO uma conexão com o leste e o controlo dos estreitos da Turquia – essenciais não só para o comércio, como para a geopolítica europeia.

Nos últimos anos, no entanto, a Turquia tem criticado a organização militar pelo seu fracasso em reconhecer as preocupações de segurança do país e agir como um verdadeiro aliado, nomeadamente no que tem a ver com a luta contra o terrorismo. O centro do problema é sempre o mesmo: os curdos do PKK/YPG e o Gulen Group (que segundo Ancara esteve por trás do golpe de Estado falhado do verão de 2015). A Turquia considera que os restantes países da NATO deveriam inscrever os dois grupos na lista do terrorismo internacional – mas não é nada disso que acontece.

Em relação aos curdos – o tema que envolve Fethullah Gülen, teólogo, literato, pensador, escritor, poeta e um influente erudito islâmico é mais impenetrável para o ocidente – há uma série de países da NATO que os apoiam (desde logo os Estados Unidos) uma vez que foram essenciais na luta contra o Estado Islâmico na Síria.

A recente tensão entre a Turquia e a Grécia sobre a exploração de hidrocarbonetos no Mediterrâneo Oriental tornou-se mais um ponto que causou desacordos dentro da NATO. A decisão da Turquia de comprar o sistema de defesa antimísseis russo S-400 no ano passado gerou novas tensões entre os dois – e muitos analistas consideram que o caminho mais certo é mesmo o do divórcio entre os turcos e a NATO.

Mas, apesar de todas essas críticas e tentativas de criar distância entre a Turquia e a organização militar, o certo é que Ancara expressou repetidamente a sua lealdade à NATO, não se vislumbrando qualquer decisão de Erdogan no sentido contrário.

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