O mercado argentino e a sua moeda passaram por dias de extrema turbulência, com a primeira intervenção do Banco Central, que se viu obrigado a gastar reservas para suportar o peso. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, prometeu que o seu país apoiaria a Argentina, o que atenuou as fortes subidas do risco-país e dos rendimentos da dívida (e a volatilidade do peso).
Esta estratégia deverá atingir um novo patamar, uma vez que, segundo o Financial Times, haverá uma conferência presencial entre os presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos, e Javier Milei, seu homólogo argentino, esta terça-feira, na qual o presidente norte-americano oferecerá um resgate económico ao líder sul-americano.
Após as eleições em Buenos Aires, que determinou uma pesada derrota para o governo e para as suas políticas, toda a confiança que sustentava aquilo a que alguns chamavam “o milagre argentino” ruiu subitamente. A chave para o sucesso do ‘modelo Milei’ assenta num afluxo sistemático de dólares, o que só é possível se os credores acreditarem no futuro do país.
A ideia por detrás da ajuda é que Milei estabilize o mercado até às eleições legislativas de outubro, altura em que, se vencer, a confiança poderá regressar. A Argentina já garantiu 40 mil milhões de dólares em financiamento bilateral de instituições financeiras globais, tendo o FMI aprovado 20 mil milhões de dólares em abril. Estas instituições querem pôr fim ao ciclo interminável de desvalorizações e caos financeiro no país em que depositavam a sua confiança; isso poderia pôr fim às políticas de Milei.
Agora, referem os analistas, todo o ‘milagre argentino’ está em jogo, e tudo o que o atual governo conquistou pode acabar em breve. De qualquer modo, a intervenção de Scott Bessent, que promete ações “amplas e enérgicas”, pretende estabilizar a instável moeda argentina usando um fundo de crise dos EUA com 91 anos de existência, que poderia ajudar o peso a recuperar, pelo menos por algum tempo.
O apoio de Bessent à Argentina, com o recurso ao Fundo de Estabilização Cambial do Tesouro, dotado de 219,5 mil milhões de dólares, fez o peso e outros ativos argentinos dispararem após grandes perdas na semana passada. Mas as decisões sobre qualquer intervenção dos EUA só surgirão, eventualmente, com o encontro entre Donald Trump e Javier Milei em Nova Iorque, esta terça-feira.
“O apoio dos EUA à Argentina dará um impulso de curto prazo tanto ao peso como à posição do governo nas eleições de meio de mandato”, disse, citado pela agência Reuters, Martin Muehleisen, ex-chefe de estratégia do Fundo Monetário Internacional que é agora é membro do Atlantic Council. Muehleisen disse que quaisquer condições que o Tesouro adicione a um empréstimo ou intervenção podem agravar uma situação de dívida já complicada para a Argentina.
Especialistas dizem que um empréstimo desse tipo de Washington pode também fazer com que outros credores, como a China, voltem à fila de pagamento e exijam o cumprimento dos seus créditos. A oferta de apoio de Bessent sem condições pode também ser uma forma de financiar a fuga de capitais sem nenhum propósito, refere Mark Sobel, ex-funcionário do Tesouro dos EUA e do FMI, que é agora é presidente do think tank Fórum Oficial de Instituições Monetárias e Financeiras, igualmente citado pela Reeuters.
O Fundo de Estabilização Cambial do Tesouro é uma ferramenta que ajudou a amenizar inúmeras crises, respaldando linhas de crédito da Reserva Federal (Fed) durante a pandemia de covid em 2020 e a crise financeira global de 2008-2009. Também foi utilizado para suportar crises financeiras no México e no Brasil na década de 1990 e no Uruguai em 2002.
Criado em 1934 para estabilizar o valor do dólar durante a Grande Depressão, após a redução da ponderação do dólar em relação ao ouro, o fundo, com autorização do Secretário do Tesouro, pode ser usado para a compra ou venda de moeda estrangeira, a emissão de empréstimos ou crédito a governos ou entidades estrangeiras ou a aquisição e utilização de Direitos Especiais de Saque (DES), o ativo de reserva do FMI.
A promessa de Bessent de apoiar Milei reflete, em parte, a afinidade de Trump pelo líder de extrema-direita, que compareceu à posse de Trump em janeiro e que decidiu uma série de reformas no setor privado para tentar reanimar a economia argentina.
A procura destes empréstimos diminuiu nos últimos anos devido a melhorias nos processos e programas do FMI e do Banco Mundial, mas também porque a sua utilização torna, no caso de o pedido vir de um país, o usufrutuário ‘refém’ do credor.
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