A eleição de Donald Trump como presidente dos EUA é um preocupante marco de uma nova era: a maior e mais antiga democracia do mundo toma, explicitamente, um rumo não humanista.

A palavra chave é “explicitamente”. Na prática, os EUA nunca foram um país totalmente humanista, respeitador, na íntegra, da carta universal dos direitos humanos. Sabemos também que essa carta é mais um manifesto de intenções do que preceitos legais invioláveis e que nenhuma nação a cumpre escrupulosamente. Porém, uma coisa é estar-se no caminho de respeitar cada vez mais os direitos humanos, estar-se na senda do humanismo, outra é começar-se a divergir e fazer-se gala dessa mudança de rumo.

É precisamente isso que está a acontecer nos EUA. Ter o presidente da maior potência mundial (económica e militar) a verbalizar com regozijo o desrespeito pela imprensa, pelos direitos humanos e pela democracia é preocupante e assustador.

Esta retórica não é inócua: por um lado, não é só retórica, vem acompanhada de políticas; por outro, tem a capacidade de influenciar e de legitimar o desrespeito pelo humanismo. E não faltarão os seguidores de tal argumentário, ou aqueles que se sentirão mais confortáveis com a exibição das suas práticas não humanistas.

Aliás, outras grandes potências mundiais, actuais ou vindouras, como a China, a Rússia, a Índia ou o Brasil são já conhecidas por não respeitarem os direitos humanos: pena de morte, máfias, oligarquias, corrupção, pobreza, desigualdades extremas, assassinatos políticos, desrespeito pela imprensa e pela liberdade de expressão são características infelizes destas nações grandes.

Neste cenário, os países que ainda são bastiões da civilização (muitos Europeus e o Canadá) correm o risco de terem cada vez menos força e de assistirem, também dentro deles, a iguais movimentos de legitimação do retrocesso civilizacional.

Todos aqueles que defendem o humanismo acima de tudo (acima do capitalismo ou da ditadura das maiorias) estão, portanto, convocados para a militância: com palavras, com manifestações, nos partidos e fora deles, com exemplos e com a denúncia da insanidade, temos que perceber o mal que avança e resistir para que tal movimento cesse. Este é daqueles momentos em que as clivagens se tornam claras e onde a neutralidade deixa de ser uma opção.

Todos os humanistas têm que se unir em torno da causa humanista (sejam de esquerda ou de direita) e não ser complacentes com aqueles que prometem a salvação fora desse espaço ideológico. É, portanto, tempo de resistir, tempo de militar.