Há mais de 300 milhões de anos existia um oceano no lugar de Portugal e da Europa. Primeiro, chamou-se Iapetus, depois Pantalassa, um super-oceano que rodeava o supercontinente Pangea. A intensa atividade vulcânica deu origem, na região do Alentejo, à acumulação de diversos minérios como ouro, prata, zinco ou cobre, mas também, mais tarde, a mármores ou granitos.
Estes minérios deram origem à Faixa Piritosa Ibérica (FPI), uma “província metalogenética” com 250 km de comprimento e 30-60 km de largura que abrange parte do Alentejo, Algarve e da Andaluzia. Esta Faixa é “mundialmente reconhecida pela sua riqueza em sulfuretos maciços vulcanogénicos, vulgarmente conhecidos por pirites”, segundo um artigo de Pedro Carvalho e Alfredo Ferreira.
Passados mais de 300 milhões de anos, explora-se agora cobre e zinco na mina de Neves-Corvo, em Castro Verde, distrito de Beja. Em 1977, foram descobertos vários depósitos, mas foi preciso esperar por 1988, quando uma parceria entre o Estado português e a mineira Rio Tinto arrancou com a exploração. Passou depois para as mãos da Eurozinc, até que, em 2006, a Lundin Mining e a Eurozinc fundiram-se.
A companhia canadiana vendeu agora a mina aos suecos da Boliden por um valor de 1.370 milhões de dólares (negócio que inclui a mina sueca de Zinkgruva), e 150 milhões de dólares extra, dependendo do cumprimento de determinadas condições. Para a mina de Neves-Corvo, esta quantia variável pode ascender aos 100 milhões de dólares em três anos, se o cobre e o zinco subirem acima dos 1,30 dólares/libra ou dos 4,50 dólares/libra, respetivamente.
Com esta aquisição, a companhia vai aumentar a sua produção de zinco em 95% e a de concentrado de cobre em mais de 40%.
A empresa sueca considera que a mina portuguesa vai “gerar dinheiro desde o primeiro dia” em que for consolidada nas suas contas, segundo o seu CEO, Mikael Staffas. “Neves-Corvo tem uma longa história de desenvolvimento contínuo, existem claramente ambos os recursos que podem ser convertidos, assim como potencial geológico na área. Vemos uma lógica industrial e estratégica muito forte. Existem claramente, tanto do ponto de vista de engenharia como comercial, mais-valias”.
A mina de Neves-Corvo foi a terceira a nível mundial em termos de produção de zinco em 2023, nos países Tier 1, com 109 mil toneladas extraídas, apenas superada pelas minas de Dugald River na Austrália e a Vazante no Brasil, segundo a companhia. No caso do cobre, encontra-se entre as maiores da Europa, com 34 mil toneladas extraídas em 2023, mas longe dos lugares cimeiros ocupados pela mina polaca da KGHM com 445 mil toneladas, ou da eslovaca Timok com 139 mil toneladas. A mina conta com 2 mil trabalhadores.
Questionado sobre o facto de a mina ter cerca de 10 anos de vida, em termos de reservas, o gestor apontou que “existem recursos que podem ser convertidos e existe potencial geológico”.
A Boliden espera acrescentar mais 300 a 350 milhões de dólares por ano ao seu EBITDA nos próximos cinco anos com a integração das duas novas minas. Neves-Corvo gerou um EBITDA de 91 milhões de dólares em 2023.
Em termos de conclusão de transação, a data apontada é meados de 2025, sendo necessárias algumas aprovações do lado português, incluindo no contrato de concessão e outras licenças.
A Boliden conta com sete minas e cinco fundições em países como Suécia, Noruega, Finlândia e Irlanda.
Sobre o que pode ser melhorado na mina portuguesa, em termos de custos (que estão acima de outras minas), o CEO disse: “Os custos são relativamente elevados, e sentimos que existe a possibilidade de trabalhar nos lados dos custos. Existe também a discussão sobre como podemos instalar a cultura de segurança certa para garantirmos que não temos mais mortes além das quatro registadas nos últimos anos. Existem muitas coisas que podem ser feitas. Não há uma coisa mágica a fazer, não há um investimento mágico que dê um retorno mágico. Mas vamos gerir e tentar melhorar”.
Fontes:
Geologia e Geomorfologia | Atlas do Sudoeste Português
História Geológica – Explorar – Geoparque Algarvensis – Municípios de Loulé, Silves e Albufeira
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