A ministra das Finanças de Moçambique, Carla Loveira, afirmou hoje que o cenário económico e financeiro do país permanece “desafiante”, reconhecendo que os impactos da tensão social pós-eleitoral no primeiro trimestre do ano.
Ao intervir num evento do Banco de Moçambique, hoje em Maputo, a ministra recordou que, “nos últimos anos”, a gestão macroeconómica do país tem enfrentado “desafios derivados de choques externos e internos que afetam profundamente” a economia, como o terrorismo em Cabo Delgado, eventos climáticos extremos e “as manifestações violentas” após as eleições gerais de 09 de outubro.
Estas culminaram na “destruição de infraestruturas públicas e privadas, o que levou a uma desaceleração da economia em 3,6 pontos percentuais em 2024, situando-se em 1,9% contra 5,5% projetados no PESOE [Plano Económico e Social e Orçamento do Estado] daquele ano. Esta situação teve seu respaldo no primeiro trimestre de 2025, tendo o PIB apresentado uma variação negativa de 3,9 % quando comparado ao mesmo período de 2024, influenciado por variações negativas no setor secundário de 16,2%, seguido do setor terciário com uma variação negativa de 8%”, acrescentou Carla Loveira.
“Isto demonstra que o contexto continua desafiante e foi neste âmbito que a Assembleia da República aprovou o PESOE para 2025 (…) [que] aponta para a consolidação fiscal como objetivo primário para equilibrar as contas do Estado. Nestes termos, foram aprovadas medidas de política para aumentar a eficiência na arrecadação de receitas, estabilizar o nível de dívida pública da massa salarial, de modo a reduzir o défice primário, criando espaço para o investimento produtivo”, sublinhou ainda a ministra.
A economia moçambicana recuou 3,92% no primeiro trimestre, em termos homólogos, após a queda de 5,73% nos últimos três meses de 2024, anunciou em 10 de junho o Instituto Nacional de Estatística (INE) de Moçambique.
No relatório das contas nacionais trimestrais, referente aos primeiros três meses de 2025 – período ainda marcado pela forte agitação social pós-eleitoral no país -, o INE explica este desempenho, “em primeiro lugar”, com o setor secundário, que recuou 16,18%.
O Produto Interno Bruto (PIB) moçambicano registou um crescimento de 3,56% no primeiro trimestre de 2024, seguindo-se novas subidas, de 4,28% e de 5,53%, no segundo e terceiro trimestres, respetivamente. Para 2025 o Governo perspetiva um crescimento de 2,9%.
Na sequência da agitação que se seguiu às eleições gerais de 09 de outubro, registaram-se quedas no PIB de 5,73% no último trimestre e de 3,92% no primeiro trimestre de 2025, segundo o INE.
Moçambique viveu quase cinco meses de tensão social, com manifestações, greves e barricadas em ruas de várias cidades, sobretudo Maputo, inicialmente em contestação aos resultados eleitorais de 09 de outubro, convocadas pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane.
Os protestos degeneraram em violência com a polícia e provocaram cerca de 400 mortos, bem como a destruição e saque de infraestruturas públicas e em empresas.
Em 23 de março, Daniel Chapo e Venâncio Mondlane, candidato presidencial que não reconhece os resultados das eleições gerais de outubro, encontraram-se pela primeira vez e assumiram o compromisso de acabar com a violência, tendo voltado a reunir-se em 21 de maio com uma agenda para pacificar o país.
Quase mil empresas moçambicanas foram afetadas pelas manifestações pós-eleitorais, com um impacto na economia superior a 32,2 mil milhões de meticais (480 milhões de euros) e 17 mil desempregados, segundo estimativa apresentada em fevereiro pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA).
De acordo com o levantamento feito pela CTA, foram afetadas de “forma direta” pelas manifestações e agitação social que se seguiu às eleições gerais de outubro 955 empresas, em que 51% “sofreram vandalizações totais e/ou saques das suas mercadorias”.
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