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Ministro das finanças controla aquecimento global

Sr. ministro das finanças, sr. primeiro-ministro, sejamos justos: o sol quando brilha é para todos, a Terra quando aquece todos sentem. Então, venha o degelo para todos!
12 Outubro 2017, 10h51

Na próxima sexta-feira, dia 13, o ministro das finanças, rodeado por um séquito de secretários e assessores, percorrerá com passos seguros e cadenciados os corredores da Assembleia da República e, solenemente, depositará nas mãos acolhedoras do presidente da AR um objeto que julgamos ser muito precioso, pelo menos atendendo ao cerimonial envolvido e à presença de todas as televisões, rádios e demais órgãos de comunicação que se prezem.

A leveza do objeto entregue é inversamente proporcional ao peso do seu conteúdo na vida dos cidadãos do nosso país. Na verdade, naquela aparente insignificância, estão assinalados os ritmos a que respiraremos e a que baterão os nossos corações ao longo de 2018. Aquela pen, é disso que se trata, aparentemente tão igual a tantas outras que andam desprezadas pelas nossas mesas e pastas de trabalho, conterá ou não a combinação certa para derreter o gelo que nos tem mantido no ritmo mínimo de sobrevivência ao longo dos últimos sete anos.

Sete? Já passaram mesmo sete? Até parece incrível, mas é mesmo verdade, já lá vão sete, sem contarmos com os outros mais de dois entre 2005 e 2007. Afinal, as temperaturas negativas têm a virtude de andarmos tão ocupados com a sobrevivência que nem damos pela passagem do tempo. Pelo menos, uma vez recuperada a temperatura natural, que sejamos restituídos ao ritmo normal sem as marcas do tempo no corpo e no espírito!

No entanto, esta é que é a grande questão quando se revelar o conteúdo daquela preciosa pen: voltaremos todos a respirar normalmente em 2018, ou só alguns verão o seu ritmo cardíaco normalizar? Poucos sabem, ao contrário do que seria de esperar, já que os secretários que, orgulhosamente, acompanharão o ministro Mário Centeno no dia 13, têm-se revelados grandes negociadores do faz de conta. Sim, faz de conta que o descongelamento é para todos no dia 1 de janeiro de 2018, mas, na prática, poderá não ser. Faz de conta que este governo reconhece os enormes sacrifícios dos trabalhadores do Estado pela recuperação do país, ao longo de anos a fio, mas, coitadinhos, têm de aguentar mais dois, três ou, até, porque não, quatro? Faz de conta que agora, sim, a recuperação é consistente, mas isso é só para os mercados (essa sublime entidade divina que a todos nos governa e por nós olha!) verem e se aplacarem. Faz de conta…mas…

Sr. ministro das finanças, sr. primeiro-ministro, sejamos justos: o sol quando brilha é para todos, a Terra quando aquece todos sentem. Então, venha o degelo para todos!

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