À medida que a pandemia global se aproxima do seu primeiro inverno completo, estamos progressivamente mais familiarizados com a narrativa de mudanças repentinas e profundas de como vivemos, trabalhamos e socializamos.

 

Mobilidade desacelerada em perspetiva
Com as nossas vidas centradas mais nos bairros onde moramos e menos onde trabalhamos, as viagens tornaram-se menos frequentes, mais locais e mais focadas na esfera doméstica em vez de trabalho ou diversão. Para percebermos como os hábitos de mobilidade estão a mudar, lançámos o Índice de Mobilidade do Consumidor baseado em nove mercados principais que alimenta os principais dados aqui partilhados.

Com a forte redução das dinâmicas pendulares diárias, as viagens de trabalho tiveram uma diminuição geral de 61%. As viagens de lazer e entretenimento diminuíram 51%, sugerindo que as pessoas tomam a decisão de não viajar quando têm essa opção. As viagens com objetivos domésticos e sociais tiveram um declínio de 40%. A proporção de tempo gasto em viagens mais curtas de menos de 30 minutos aumentou substancialmente.

Dado o relativo sucesso do trabalho remoto durante a pandemia e o impacto de longos deslocamentos no bem-estar, um declínio de longo prazo no tempo de deslocamento pode significar uma menor procura de pico e menos pressão sobre os sistemas de transporte. Também pode significar maior autonomia individual sobre o horário de trabalho e a liberdade de viajar com mais frequência por motivos não relacionados ao trabalho. Mas também representaria um desafio permanente para a sustentabilidade dos operadores de transporte público.

O regresso da viatura privada
As pessoas estão a evitar modos de transporte que exijam compartilhar espaço. As viagens de táxi e transporte público tiveram as maiores quedas, enquanto as viagens em viaturas privadas e as viagens de micro mobilidade foram menos impactadas.

Atualmente os consumidores estão a redefinir o conceito segurança, para uma categoria abrangendo também higiene, limpeza e bem-estar. Nesta linha, o uso de táxis e transporte público diminuiu mais entre a geração x e baby boomers, as faixas etárias em maior risco de Covid-19.

Uma questão essencial é se essas mudanças serão permanentes ou temporárias. Possíveis atrasos crescentes e congestionamentos podem encorajar alguns a voltar ao transporte público. Contudo é desafiante imaginar um retorno aos níveis anteriores até que o Covid-19 esteja controlado.

 

Consumidor em conflito com mobilidade
Ainda é cedo para responder a perguntas conflitantes – um recomeçar baseado na família e na comunidade versus o retorno à vida normal, ou as preocupações com o risco de infeção e a economia versus um amanhã mais sustentável – mas deixamos aqui algumas considerações da primeira pesquisa do nosso Índice de Consumidor de Mobilidade:

l A segurança pessoal é o fator: reduzir o risco de infeção é agora o fator mais influente na tomada de decisão de viagens.
l Trabalho é o que se faz, e não onde: significativa parte das viagens de trabalho tornaram-se discricionárias.
l O consumidor está mais consciente do seu consumo de mobilidade: as pessoas estão a avaliar o risco/ benefício das viagens que fazem com mais cuidado.
l Menos é mais: as viagens mais curtas estão a aumentar, à medida que as pessoas passam mais tempo perto de casa.
l Há um golpe triplo no transporte público: redução das receitas, aumento dos custos operacionais e uma batalha de persuasão sobre segurança.
l A sustentabilidade não pode ser deixada para a escolha do consumidor: o espírito está preparado, mas a carne é fraca.