No seguimento da apresentação do Relatório da Primavera do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, o Jornal Económico questionou o bastonário da Ordem dos Médicos sobre algumas das suas conclusões. Miguel Guimarães diz que o mais importante seria fazer um levantamento exaustivo das necessidades do setor e que todas as áreas carecem de reforços.
Concorda com os orçamentos plurianuais e com a profissionalização da gestão dos hospitais?
Os orçamentos plurianuais só serão necessários em face da suborçamentação crónica do SNS. De facto, o mais importante seria fazer um levantamento sério das necessidades em capital humano, equipamentos, dispositivos, materiais e estruturais, e um planeamento e organização adequados para estabelecer orçamentos para a saúde que permitam recuperar as características genéticas do nosso SNS.
Concordo com a profissionalização da gestão dos hospitais, desde que enquadrada com a governação clínica adequada tendo como peça central diretores clínicos escolhidos interpares ou por concurso. É essencial criar um equilíbrio em que os interesses dos doentes possam ser realmente assegurados.
O modelo de financiamento dos hospitais deve ser alterado para dar maior relevância a indicadores de qualidade?
Estou plenamente de acordo que a saúde seja centrada nos doentes e não nas finanças. E um bom ponto de partida é a alteração do modelo de financiamento no sentido de valorizar mais a qualidade em detrimento dos números.
O que pode ser feito para combater o crescimento do uso de antibióticos em Portugal?
Mais formação específica nesta área crucial. Mais tempo para a relação médico-doente. Mais investigação que permita diminuir a resistência aos antibióticos. E mais literacia em saúde, que permita aos doentes entenderem melhor as diferentes situações clínicas.
Quais são as áreas que necessitam de maior reforço para garantir um melhor acesso dos cidadãos à saúde?
Todas as áreas. Diria que é fundamental promover as reformas necessárias a vários níveis. Continuar a reforma dos cuidados de saúde primários e dotar os mesmos do capital humano que permita uma resposta adequada a todos os portugueses, nomeadamente nas áreas de promoção da saúde e prevenção da doença. Iniciar a reforma hospitalar e da saúde pública no sentido de constituirmos unidades de saúde mais funcionais e melhor preparadas para responder às necessidades globais dos portugueses. O serviço de urgência é um excelente exemplo de uma área que necessita de uma reforma integrada entre os CSP, os hospitais e os cuidados continuados, para além de uma intervenção específica a nível de processos e procedimentos que permitam a existência de serviços de urgência com mais qualidade e mais funcionais.
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