Vivemos tempos únicos, numa luta contínua pela nossa sobrevivência coletiva, no meio de uma das maiores crises de saúde pública que o mundo já conheceu e onde tentamos proteger e garantir a sobrevivência das famílias, do emprego e da economia. Compete assim a quem nos governa, muita coragem e determinação na ação e um planeamento meticuloso de todos os passos a dar na aplicação dos apoios que virão de uma bazuca europeia generosa, em que será necessário prever todos os riscos estruturais e conjunturais que existem como reais.

Na verdade, o que todos pretendemos, ao iniciar a vacinação da população contra este terrível vírus, é que exista um país no pós-pandemia, e que rapidamente consigamos retomar a produtividade e os índices de riqueza nacional.

Uma das medidas que tem sido aplicada e que incide sobre as empresas e os cidadãos, face aos créditos anteriores à crise concedidos pela banca, é a medida das moratórias legais bancárias, por outras palavras, o congelamento do montante de capital das prestações a pagar.

Apesar de aprovado (e bem) no Orçamento do Estado por proposta do PSD e já autorizado pela Autoridade Bancária Europeia (EBA), a possibilidade de adesão a esta modalidade vai até março próximo, mas até setembro passado já atingia o montante de 46 mil milhões de euros (24,4 mil milhões de crédito às famílias, e 21,6 mil milhões às empresas), o que representa, em termos práticos, adiar para o futuro o pagamento de 13 mil milhões de euros de prestações de empréstimos, que não serão pagas aos bancos até setembro de 2021 (11 mil das empresas e 2 mil das famílias), o que representa um peso muito significativo, mesmo quando comparado com os restantes países da zona euro.

Nas responsabilidades bancárias a pagar, o país real encontra-se, por agora, anestesiado. Será que a banca conseguirá acomodar para já um efeito de adiar o pagamento de quase 30% do crédito concedido?

O Estado, que pouco ou nada tem dado aos nossos empresários e às empresas para conseguirem ultrapassar e resistir ao atual momento, apenas proporciona a possibilidade dos nossos bancos atribuírem crédito à economia, através de linhas de financiamento protocoladas com garantia estatal e acesso a estas moratórias de crédito sobre os empréstimos existentes, mediante o cumprimento de várias normas e procedimentos.

Crédito protocolado ou moratórias, a estratégia do Governo é colocar a pressão inevitavelmente do lado da banca, e por isso é que estas medidas são para o setor muito maiores do que a média do conjunto da área do euro e da União Europeia.

No global, e essencialmente pela via das moratórias, o impacto na banca só se sentirá provavelmente após o final destes apoios impostos e será o momento da verdade para o setor financeiro. Perante esta incerteza da evolução pandémica, o prazo de um ano é suficiente, mas o que está a ser feito para garantir a reposição dos montantes de reembolso na banca?

Por ora, o Governo só assiste e nada faz para precaver esta hipotética, mas possível nova crise financeira, que poderá seguir-se à pandemia. Assistir não basta, o mais importante é agir.