António Francisco de Carvalho Quintela nasceu a 25 de Fevereiro de 1932, na então Vila de Torres Vedras (freguesia de Santa Maria), filho do casal António Marcos Leal Quintela e Ilda de Jesus Carvalho Quintela. Faleceu a 10 de Março de 2016.
A infância e adolescência de António de Quintela foram passadas naquela vila, onde completou os ensinos primário e liceal. Apenas em 1949 deixou Torres Vedras, a fim de frequentar em Lisboa o curso de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico, IST, que veio a concluir em 1955 (aluno n.º 2888). A Carta de Curso, emitida a 30 de Julho de 1957 – após a realização dos tirocínios regulamentares –menciona a classificação final no curso de 16 valores (Bom com distinção) e o direito ao uso do título de Engenheiro Civil.
Em 1958 casou com Editha Charlotte Matthes, de nacionalidade alemã. Desse matrimónio nasceram duas filhas: Ana Alexandra Matthes Quintela (1963) e Catarina Sofia Matthes Quintela (1967).
Com excepção da interrupção devida ao Serviço Militar (1956 a 1958), António Quintela desempenhou funções de docente do IST entre 1955 e a aposentação, em 2002: 2.º Assistente, 1.º Assistente, Professor Auxiliar, Professor Extraordinário de Hidráulica e Professor Catedrático de Hidráulica.
No início da sua carreira docente realizou estágios na IAESTE – International Association for the Exchange of Students for Technical Experience (1955, Itália) e na Divisão de Hidrologia do Centre de Recherches et d’Essais de Chatou, da Electricité de France (1964, França). Foi ainda bolseiro do Instituto de Alta Cultura no País (1965 a 1969).
Em 1968 obteve o grau de Doutor pelo Instituto Superior Técnico/Universidade Técnica de Lisboa com a apresentação da dissertação intitulada Recursos de Águas Superficiais em Portugal Continental (1967), de grande abrangência e pioneirismo ao nível da sistematização de conceitos, do rigor dos formalismos utilizados e da extensa caracterização hidrológica efectuada para Portugal Continental. António Quintela foi o nono Doutor pelo IST e o terceiro em Engenharia Civil.
No IST, para além da leccionação, foi Membro (1976 a 1979) e Presidente (1979 a 1983 e 1990 a 1992) da Mesa da Assembleia de Representantes; Coordenador da Secção de Hidráulica (1980 a 1983); Presidente do Departamento de Engenharia Civil (1984 a 1986); responsável pela proposta e pela preparação do Curso de Mestrado em Hidráulica e Recursos Hídricos e Coordenador desse curso (1983 a 1990 e 1993 a 1999); membro do grupo que preparou e apresentou a proposta de criação da Licenciatura em Engenharia do Ambiente (1992); membro da Comissão Coordenadora da Licenciatura em Engenharia do Ambiente (1993 a 1997); Membro (desde a sua fundação) e Presidente (1998 a 2000) do Centro de Estudos de Hidrossistemas, CEHIDRO; Membro do Senado da UTL (mandatos com início em 1990 e 1994); e Membro do Senado do Conselho Científico do IST (1994 a 2002).
António Quintela manteve continuada actividade de investigação, inicialmente relacionada fundamentalmente com a hidrologia de águas superficiais e, mais tarde, com a hidráulica de obras e instalações hidráulicas. Procurando colmatar uma carência que reconheceu existir no País, desenvolveu, a partir de 1982, assinalável investigação sobre história da Hidráulica, das obras hidráulicas e da utilização da água em Portugal e, em colaboração com uma equipa especializada, sobre arqueologia daquelas obras.
A par com a carreira de docente e de investigador, desenvolveu actividade de engenheiro projectista e consultor. Com efeito, em 1954, começou a sua colaboração, como estagiário, no Gabinete de Estudos e Projectos Prof. Eng. Alberto Abecasis Manzanares, a qual, após 1957 e até 1993, prosseguiu na Hidrotécnica Portuguesa, Consultores para Estudos e Projectos, Lda. (1957 a 1993), empresa que sucedeu àquele Gabinete e de que veio a ser sócio, a partir de 1963. Como importantes intervenções suas no âmbito das grandes obras hidráulicas mencionam-se os aproveitamentos hidroeléctricos de Lomaum (rio Catumbela, Angola) e de Gove (rio Cunene, Angola); os aproveitamentos hidroagrícolas de Corumana (rio Sabié, Moçambique) e de El Wahda (oued Ouerrha, Marrocos); e, muito especialmente, o mega aproveitamento hidroeléctrico de Cahora Bassa (rio Zambeze, Moçambique) pela grande magnitude das obras e dos equipamentos e pelos severos condicionamentos, nomeadamente hidrológicos.
No domínio da Engenharia, são-lhe reconhecidas perto de duas centenas de trabalhos, nos quais se inclui a edição ou co-edição de cincos livros e a autoria ou co-autoria de um opúsculo e de quatro livros, de entre os quais se destaca o seu livro Hidráulica com repetidas edições, perfazendo algumas dezenas de milhar de exemplares. No domínio das obras e das instalações hidráulicas romanas e pós-romanas, registaram-se cerca de trinta trabalhos, incluindo quatro livros e um opúsculo, em co-autoria. Tanto num, como noutro domínio realizou inúmeras conferências.
De entre as suas participações em conselhos e comissões exteriores ao IST destaca-se a Comissão Nacional de Segurança de Barragens (1990 a 2005) e o Conselho Nacional da Água (a partir da primeira reunião, em Novembro de 1994).
Era Vogal Efectivo da Academia de Engenharia desde 1996. Entre 1998 e 2003 foi Académico Correspondente da Academia Portuguesa da História, tendo-se tornado Académico de Número (Cadeira 23), facto bem indicativo da relevância da sua contribuição no âmbito da investigação histórica.
Em reconhecimento dos serviços prestados à causa da educação e do ensino, foi-lhe conferido, em 2006, o Grau de Grã-Cruz da Ordem de Instrução Pública. De entre os traços marcantes da personalidade de António de Carvalho Quintela destacam-se a sua percepção lúcida sobre os equilíbrios pertinentes em diferentes meios e em diferentes circunstâncias; a argúcia e, simultaneamente, o carácter contemporizador dos seus conselhos; a sua atitude de pedagogo atento, quer na Escola, quer fora dela; a sua dedicação à Escola; o seu extremo gosto pelo rigor da palavra escrita e oral; o seu intenso prazer no relacionamento humano; o seu apreço pela vida; a sua natural despretensão; o seu apurado sentido de ética; e o seu modo especial de relacionamento, que, ao longo de gerações, deixou indeléveis memórias.
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