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Mota-Engil deverá ganhar mil milhões com projetos de gás natural em Moçambique

Um estudo reservado da consultora Nau Securities prevê que o EBITDA da construtora nacional neste país possa ser crescer em 30% nos próximos cinco anos devido aos contratos estimados nesta área.
20 Janeiro 2020, 09h30

A Mota-Engil está na posição dianteira para ganhar contratos de construção de infraestruturas no âmbito dos diversos projetos de extração de gás natural liquefeito (GNL, ou LNG, em inglês) que estão a arrancar em Moçambique. De acordo com um research reservado da Nau Securities, a que o Jornal Económico teve acesso, as estimativas apontam para que a construtora nacional consiga garantir contratos no montante de cerca de 900 milhões de euros apenas no segmento de construção de infraestruturas onshore (em terra) para os projetos de GNL em Moçambique no período entre 2020 e 2025, ou seja, nos próximos cinco anos.

No entender da Nau Securities, se se concretizar esta previsão, a Mota-Engil, que já é líder de mercado no setor da construção em Moçambique, “iria acrescentar 30% ao valor das obras que compõem a sua carteira de encomendas, numa base proforma, e potencialmente gerar 180 milhões de euros de EBITDA adicional no mesmo período”, recordando que o EBITDA da Mota-Engil em Moçambique no final do primeiro semestre do ano passado se cifrou em 194 milhões de euros.

Num artigo de opinião sobre “O Futuro no setor das infraestruturas”, publicado no último número da revista trimestral “Prémio”, referente ao passado mês de dezembro, o CEO do grupo, Gonçalo Moura Martins destaca: “Quanto a Moçambique, verificamos que tem hoje um projeto de desenvolvimento transformacional para como será a exploração de gás liquefeito no norte do país e que terá na Mota-Engil um parceiro competente e comprometido para apoiar no que seja entendido pelos promotores privados como necessário para concretizar com qualidade e em devido tempo este projeto, a par de outros que temos em curso neste país”.

O estudo da Nau Securities adianta que as recentes descobertas de gás natural em Moçambique irão exigir o investimento em construção de infraestruturas associadas superior a 50 mil milhões de dólares (cerca de 44,9 mil milhões de euros ao câmbio atual). Estes projetos, já assegurados por diversos consórcios exploradores, em que se inclui a portuguesa Galp (ver tabela dos dois projetos de maior envergadura na área do GNL em Moçambique), deverão catapultar Moçambique para o top five mundial no ranking da produção de gás natural liquefeito no final deste período, ou seja, em 2025.

“O desenvolvimento [dos projetos] de LNG deverá tornar-se num verdadeiro game-changer para a economia de Moçambique. Não só esperamos que metade do investimento seja alocado a portos e equipamentos onshore, acelerando a atividade local, mas também antecipamos que as receitas fiscais decorrentes das exportações de LNG irão propulsionar o desenvolvimento do país como um todo. De acordo com um recente relatório do FMI [Fundo Monetário Internacional], à medida que as receitas fiscais comecem a fluir a partir da produção de LNG, o balanço fiscal primário deverá melhorar e tornar-se superavitário, atingindo cerca de 13% do PIB [Produto Interno Bruto de Moçambique] em 2038”, prevê a Nau Securities.

A Nau Securities é uma entidade sediada em Londres que cobre algumas empresas cotadas nacionais, tendo publicado no último trimestre de 2019 este relatório exclusivamente dedicado aos projetos de LNG (gás natural liquefeito) em Moçambique, de acesso restrito aos seus clientes.

Na indústria do oil & gas, tipicamente, estes projetos são atribuídos a quatro empresas a nível mundial: Bechtel, Fluor, Technip e Saipem, que celebram contratos EPC – Engineering, Procurement, Construction (engenharia, aquisição, construção), com uma solução chave-na-mão, ficando responsáveis pelas diferentes fases. São estas empresas que, numa terceira etapa do processo subcontratam as construtoras por especialidades. Sendo a Mota-Engil a líder destacada em Moçambique no setor da construção civil e obras públicas, tendo nos anos mais recentes reforçado a sua presença nos setores de mineração (mining) e energia (oil & gas), não só neste mercado, mas também nos diversos países em que está presente, desde África à Europa, passado pela América Latina.

A Nau faz o ponto da situação nesta matéria. A primeira infraestrutura destes projetos de LNG em Moçambique, uma plataforma flutuante, a Coral LNG, que teve uma FID (decisão final de investimento, com financiamento garantido) em 2017, já se encontra em contrução. O projeto da Anadarko, entretanto comprado pela Total, designado Mozambique LNG, conseguiram fechar a FID, num montante de cerca de 20 mil milhões de dólares, em junho do ano passado. Por seu turno, o projeto Rovuma LNG, liderado pela ExxonMobil e que integra a Galp, deverá conseguir fechar a FID durante o presente ano. O investimento previsto é idêntico, cerca de 21 mil milhões de dólares.

“(…) A Coral LNG deverá estar operacional em 2022, enquanto em relação aos outros dois projetos se tem divulgado a hipótese de estarem operacionais em 2025. A Anadarko (o braço de negócio africano do grupo foi adquirido pela Total), adjudicou um contrato de EPC a uma joint-venture entre a Saipem, McDermott e Chiyoda no valor de cerca de seis mil milhões de dólares em junho de 2019 para a construção de dois comboios especializados no transporte de GNL, com uma capacidade de 12,9 Mtpa, infraestruturas associadas, tanques de armazenagem e um cais de acostagem”, adianta a Nau.

O mesmo documento acrescenta que, “a 8 de outubro de 2019, a joint-venture da Exxon-Mobil adjudicou um contrato de EPC de 3,7 mil milhões de dólares a um consórcio liderado pela japonesa JGC e pela franco-norte-americana TechnipFMC para a construção do projeto de LNG do Rovuma, incluindo também a construção de dois comboios”.

“A ExxonMobil revelou que planeia investir mais de 500 milhões de dólares na fase inicial de construção do seu projeto de LNG em Moçambique, avaliado em cerca de 30 mil milhões de dólares”, acrescenta a Nau Securities.

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