Em 1922, Albert Londres (1884-1932) encontra-se em Calcutá, no lendário Great Eastern Hotel. Prepara-se para descobrir um “império britânico” de 217 milhões de hindus, 77 milhões de muçulmanos, 11 milhões de budistas, 4 milhões de cristãos e 3 milhões de siques. Albert Londres é particularmente sensível às reivindicações nacionalistas que se exprimem através de três personagens invulgares: Nehru, Gandhi e o poeta Rabindranath Tagore.
Primeiro correspondente de guerra francês (encontrava-se em Reims quando os alemães bombardearam a catedral, em 1914), o tom livre das suas crónicas desagradaria sobremaneira aos militares, que o consideram insolente e incontrolável. É este estilo livre (e, por vezes, inflamado), que vai manter ao longo da sua vida e que lhe granjeia um sucesso crescente.
Em 1917, tenta obter financiamento para viajar até à Rússia, onde estalara a revolução. Chega a propor às autoridades francesas complementar a sua atividade enquanto jornalista com ações clandestinas de desestabilização do regime bolchevique, mas sem sucesso. Acaba por partir, sem fundos. Da Rússia segue para leste, visitando e escrevendo sobre a Índia e o Japão, sempre misturando géneros – por vezes os seus relatos assemelham-se mais a romances de aventuras do que a reportagens.
Em 1929, viaja pela Europa de leste, onde investiga a comunidade judaica, o que o leva a viajar até à Palestina. Aí, escreve de forma algo premonitória que, dada a hostilidade árabe e a falta de tato dos judeus recém-chegados, não seria fácil implementar a célebre declaração Balfour, onde a Grã-Bretanha dá, pela primeira vez, garantias para “o estabelecimento de um lar nacional para o povo judeu na Palestina”, declaração sobre a qual se cumpriram 100 anos no passado mês de novembro e cujas consequências perduram.
Escreverá ainda sobre a luta dos macedónios contra a divisão da sua pátria, mais uma das consequências da eterna instabilidade nos Balcãs. A sua morte a bordo de um navio no mar Vermelho, devido a um incêndio, impediu os seus leitores de conhecerem o que vira na China, país do qual regressava.
No ano da sua morte foi instituído o Prémio Albert Londres para jovens jornalistas (com menos de 40 anos), que é, de certa forma, o equivalente francês ao Pulitzer. Atribuído à melhor reportagem da imprensa escrita e, desde 1985, galardoa também o melhor documentário audiovisual. Entre os laureados, dois jornalistas que, para além de livros de ficção, têm também publicado relatos de viagem com bastante interesse: Jean Rolin (premiado em 1989) e Olivier Weber (1992).
A edição é da Livros de Bordo, com tradução de Ana Cristina Leonardo.
A sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante
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