As notícias são o meio mais direto para saber o que foi, exatamente, discutido no Parlamento. No entanto, muitos assuntos não são noticiados e estes têm de ser explicados pois podem ter interesse para os cidadãos. Foi a partir desta ideia que nasceu a aplicação para smartphone meuParlamento.pt, de forma a que os eleitores se aproximem da política.
Os investigadores do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (INESC TEC) venceram o prémio Arquivo.pt com esta aplicação, cujo foi entregue por António Costa. O prémio monetário teve um valor de 10 mil euros.
Em entrevista ao Jornal Económico, um dos três criadores, Nuno Moniz, explica como surgiu esta ideia e de como ela passou para a realidade.
As aplicações móveis (apps), seja esta ou outras que possam surgir, são um meio eficaz de chegar às pessoas e de fazer com que estas se interessem pela política?
Enquanto meio eficaz para chegar às pessoas, as apps já demonstraram o seu valor, facilmente demonstrado pela grande quantidade de informação consumida ao longo do dia. Enquanto meio eficaz para que as pessoas se interessem pela política, esse é, na verdade, o grande desafio desta app, para o qual esperamos que a resposta venha a ser positiva.
O que motivou a nossa opção de fazer uma app foi exatamente a ideia de que, desta forma, a interação com utilizadores poderia ser mais dinâmica, criando uma nova maneira das pessoas lidarem com a memória das propostas que foram aprovadas no Parlamento, fomentando debates saudáveis.
Mais do que as propostas que são discutidas e votadas no Parlamento, o interesse na política está sobretudo relacionado com os seus protagonistas. O elenco parlamentar que temos atualmente ajuda a aproximar os cidadãos da política?
É verdade que assistimos muitas vezes à fulanização da política, em que as ideias e princípios são substituídos pelo seguir uma determinada pessoa, aquilo que ela propõe e diz. Não nos compete julgar o atual elenco parlamentar, até porque isso será feito daqui a dois meses individualmente, mas podemos afirmar que a ideia do meuParlamento.pt é centrar a interação das pessoas com o Parlamento, na base das propostas que são apresentadas, e não nos deputados e deputadas de forma individualizada.
É exatamente por essa razão que durante os jogos que disponibilizamos na app, tentamos que não se perceba qual o partido proponente, numa tentativa de evitar o enviesamento das respostas com essa base.
Acreditam que existe um interesse por parte dos deputados em que a grande maioria dos cidadãos perceba o que é votado e discutido dia-a-dia?
Acreditamos que sim. O contrário seria não acreditarmos nas instituições democráticas e, no limite, na própria democracia. Em apenas uma legislatura, são milhares as propostas que se colocam em cima da mesa dos parlamentares. Destas, naturalmente que apenas uma pequena parte tem cobertura mediática.
Acreditamos, por isso, que estamos a fazer serviço público e que os deputados e deputadas muito apreciarão. Tornar o trabalho dos parlamentares acessível a todos e de uma forma mais acessível parece-nos recolher muito entusiasmo não apenas por parte dos cidadãos, como também por parte da classe política.
Porque foi definido o ano de 2011 como base das propostas legislativas?
As propostas legislativas que podem ser votadas no meuParlamento.pt incluem todas as propostas que foram votadas entre o ano de 2011 e 2017. Este intervalo está relacionado com a informação existente no Arquivo.pt, repositório onde fomos recolher os dados. Além das propostas, também as notícias relacionadas e as capas de alguns meios de comunicação social são disponibilizadas, de modo a dar contexto sobre quais os temas que eram discutidos nos respetivos momentos de votação.
Este trabalho mostrou-nos que esta ideia era possível, dando-nos mais alento e força para o próximo passo, que é fazermos tudo isto em tempo real. A expectativa é que dentro de alguns meses os cidadãos possam receber uma notificação enquanto tomam o pequeno-almoço que as desafie a votar propostas que estarão em debate e votação nesse mesmo dia no Parlamento. É nisso que nos vamos concentrar.
Além do canal AR TV, o que deveria a Assembleia da República fazer para aproximar os cidadãos da atividade política?
Achamos que existe um grande diferencial entre a formalidade das discussões no Parlamento e a velocidade e síntese do consumo de informação atual. Ao criar esta aplicação, vimos que, por vezes, o conteúdo das propostas é extremamente técnico e de difícil entendimento, o que pode automaticamente gerar um distanciamento entre os representantes eleitos, e quem os elege.
Não existem poções mágicas para aproximar os cidadãos da política. Mas talvez pudesse haver mais proximidade na forma como a Assembleia da República comunica.
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