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Navigator vai investir 158 milhões até 2035 para atingir neutralidade carbónica

Os objetivos da produtora nacional de pasta e papel passam por 100% de produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis; substituição de tecnologias para reduzir emissões de CO2 fóssil; redução de 15% do consumo específico de energia, e para a compensação e ‘offset'” das emissões que não ser possível evitar em 2035, calculadas em 10% do total hoje emitido pelo grupo.
6 Fevereiro 2020, 08h10

A The Navigator Company (ex-Portucel) vai investir 158 milhões de euros até 2035 para a atingir a neutralidade carbónica da sua atividade industrial como produtora de pasta e papel.

“Observamos boas práticas no processo produtivo, que nos permitem, hoje, valorizar quase 90% dos nossos resíduos mediante produção energética, compostagem e incorporação a produtos de maior valor. Além disso, devolvemos ao ambiente, após tratamento de acordo com os mais exigentes parâmetros de controlo, cerca de 50% da águas que usamos”, revela João Castello Branco, presidente do conselho de administração da Navigator no último número da revista interna do grupo, a que o Jornal Económico teve acesso.

De acordo com este responsável, foi nesta quadro que a The Navigator Companhy “se tornou a primeira empresa portuguesa – e também uma das primeiras a nível internacional – a antecipar o compromisso de neutralidade carbónica para 2035, ou seja, 15 anos antes dos objetivos estabelecidos pela União Europeia e pelo Estado português”.

Até esse ano, a companhia irá mobilizar um investimento total de 158 milhões de euros, de modo a tornar os seus complexos industriais neutros em emissões de carbono no espaço de década e meia”, assume João Castello Branco na referida publicação interna do grupo.

Este responsável assinala ainda que “as florestas sob gestão da The Navigator Company em Portugal, por exemplo, tinham, em 2018, um ‘stock’ de carbono, excluindo o carbono no solo, equivalente a 5,2 milhões de toneladas de CO2 [dióxido de carbono], ou seja, o equivalente às emissões que seriam  geradas por 1,4 milhões de carros a percorrer uma distância equivalente ao perímetro do planeta Terra”.

De acordo com o referido número a da revista interna do grupo, “a estratégia da Navigator assenta em quatro objetivos de mudança nos seus processos produtivos, que se irão realizando em simultâneo, tendo em conta as condições específicas dos complexos industriais”.

“O primeiro implica 100% da produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis; o segundo, a substituição de tecnologias, no sentido de reduzir emissões de CO2 fóssil; o terceiro, a redução de 15% do consumo específico de energia, com base num ambicioso plano de eficiência energética (tendo como comparação o ano 2015); e o quarto reserva-se para as situações em que não é possível eliminar emissões, garantindo a sua compensação e ‘offset'”, revela o documento em questão.

“Desde há uns anos, começámos a avaliar a redução das nossas emissões de CO2 e a planear como progredir nesse aspeto”, adite Óscar Arantes, diretor de Ambiente e Energia da The Navigator Company na citada revista interna da produtora de pasta e papel.

Para este responsável, “a aplicação destas medidas, ao longo dos próximos 15 anos, vai permitir-nos reduzir as emissões de CO2 em 90 (menos 695 kt de 2018 para 2035)”.

“Ficamos apenas com uma quantidade residual de 10% (79 krt), que serão alvo de ‘offset’ e compensação”, explica Óscar Arantes.

A Navigator adianta ainda quem, em termos de emissões específicas, a redução será de 92% (de 0,25 t de CO2 por tonelada de produto em 2018, para cerca de 0,02 t de CO2 por tonelada de produto em 2035).

“O conjunto das medidas a implementar representa um investimento total de 158 milhões de euros, distribuídos pelos quatro complexos industriais da companhia”, acrescenta o referido documento.

“Escalonamos no tempo as intervenções, considerando as vidas úteis dos atuais equipamentos, assegura Óscar Arantes, acrescentando que, “(…) já a partir de 2022, as nossas fábricas vão começando, sequencialmente, a ser neutras”.

“A última atinge a neutralidade em 20’35”, revela Óscar Arantes.

De acordo com o documento a que o Jornal Económico teve acesso, “no plano de ação da Navigator para os próximos 15 anos destaca-se uma nova caldeira de biomassa , uma nova central de cogeração, a conversão dos fornos de cal para uso de biomassa e a substituição do uso do ‘fuel’ por gás natural”.

“Coo se nota, a energia é o centro nevrálgico desta estratégia, pois é da sua produção e utilização que resultam em grande parte as emissões de CO2 das unidades industriais do grupo”, admitem os responsáveis da Navigator.

Para Óscar Arantes, “é nesse campo que temos condições para inverter a situação, passando a ter energia produzida a partir de fontes renováveis, quer seja na grande caldeira de biomassa que desde o ano passado, estamos a construir na fábrica da Figueira da Foz, e que entra em operação em setembro de 2020, quer seja na nova cogeração que vamos instalar na fábrica de Aveiro, sendo que as cogerações são a forma mais eficiente de produzir energia térmica e elétrica”.

Segundo o diretor de Ambiente e Energia da Navigator, “estando nós negócio da floresta, temos condições ótimas para utilizar as biomassas residuais florestais, e esta utilização junta duas vantagens para o pais: menos importação de combustíveis fósseis e melhor gestão das florestas, aso contribuir para a sua limpeza e, consequentemente, reduzindo o risco de fogos florestais”.

A revista interna da Navigator sublinha que “a aposta nas energias renováveis é outra das medidas essenciais deste compromisso”.

“A Navigator tem, à data, três centrais fotovoltaicas em operação. uma na fábrica de Setúbal, outra nos viveiros de Espirra, e outra ainda, recém-inaugurada, no RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel. E estão já outras duas em construção: uma segunda no complexo industrial de Setúbal e uma no da figueira da Foz”, anuncia o documento em causa.

“Contamos, no próximo ano, avançar com uma em Aveiro”, anuncia Óscar Arantes, reiterando que “este é um caminho que estamos a desenvolver e queremos incrementar, complementando toda a energia elétrica que produzimos a partir de fontes renováveis”.

Os responsáveis da Navigator esclarecem ainda que neutralidade carbónica não significa zero emissões de carbono, “mas sim que as emissões devem ser na mesma ordem de grandeza dos sequestros e compensações conseguidas”.

“Assim, para os 10% de emissões que não vai conseguir evitar (pelo menos, até 2035 e nas atuais condições tecnológicas), a Navigator conta com a sua própria floresta para capturar CO2 e com a retenção no seu próprio produto papel”, destaca o referido documento.

Como já abordado, as florestas sob gestão da Navigator em Portugal têm neste momento um ‘stock’ de carbono, excluindo o do solo, de 5,2 milhões de toneladas de CO2, um valor relativamente estável.

“Na gestão sustentável da floresta, é mantido um nível de carbono relativamente constante, porque, ao colhermos um talhão de floresta de produção, outros estão a crescer ali ao lado, e o que foi colhido também volta a crescer. existem ainda zonas, no mosaico de uma floresta bem gerida, que são reservadas à conservação do equilíbrio do ecossistema, com vegetação e árvores que não são utilizadas para produção. além disso, temos o nosso próprio produto, o papel, que incorpora carbono da madeira ao longo da sua vida útil, que, em muitos casos, é longa”, defende Óscar Arantes.

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