Em primeiro lugar, é necessário rever todos os prazos absurdos que rodeiam as eleições. Porque é que os emigrantes não votam antecipadamente, de modo a que os seus votos estejam contados em simultâneo com os residentes?

Qual a vantagem de haver limites ao período em que pode haver dissolução do parlamento? Estamos mais protegidos por haver prazos definidos de forma burocrática do que pela eventual precipitação de um Presidente da República? Que estes prazos têm custos é evidente, não podendo haver eleições entre Julho de 2025 e Março de 2026.

Se não houver uma reviravolta eleitoral entretanto, a AD vai ter que formar um governo com urgência em apresentar resultados, sob pena de dois resultados negativos: acelerar ainda mais as próximas eleições, que deverão ser antecipadas; ter uma votação fraca na próxima consulta aos eleitores. Tem que se acrescentar que o PSD despertou demasiado tarde da sua letargia na oposição, deixou o terreno livre para o Chega, sobretudo no campo da corrupção e, por isso, teve um resultado insuficiente.

Pedro Nuno Santos assumiu a derrota com uma urgência um pouco surpreendente, quase sugerindo que preferiu não ganhar as eleições. De qualquer forma esteve muito bem ao reconhecer, finalmente, que nem todos os eleitores do Chega são perigosos extremistas, mas antes eleitores zangados, cujas razões é preciso atender.

No entanto, não parece ter consciência que a incapacidade de haver acordos de regime entre o PS e o PSD é uma das principais razões para os fracassos do regime, cujos maus resultados estão a deixar tantos eleitores furiosos, incluindo os que já tinham desistido de votar há décadas e que agora voltaram às urnas.

O Chega permanece um mistério, parecendo mais interessado em conseguir o máximo de votação possível, sem apresentar qualquer solução digna desse nome para os problemas mais sérios e centrais, como a saúde, a educação, a habitação e a justiça. Vamos ver em que medida irá colaborar com a AD, apesar de não ser bem-recebido.

A IL não conseguiu crescer, o que deve ser considerado um certo fracasso, provavelmente pela forma como mudou de líder e como lidou com a candidatura de Carla Castro.

O BE não conseguiu ficar com um único dos mais de 40 deputados que o PS perdeu, nem recuperar para os 19 deputados que tinha conseguido quer em 2015 quer em 2019, o que é humilhante. O Livre estará a ocupar este espaço ideológico, tendo subido em vez do BE.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.