O outono vem encerrar um ano particularmente atribulado para a economia portuguesa, marcado por dois períodos de forte confinamento e a sucessiva revisão das regras de convívio social. Ainda que recheado de desafios, o quarto trimestre poderá assim reunir as condições para ser o melhor período económico de 2021, o único que pode antecipar uma redução continuada e até irreversível das restrições em vigor.

O anúncio de que cerca de 85% da população portuguesa está vacinada e um reporte diário baixo de novos casos de infeções por Covid-19 contribuem para um sentimento de confiança geral que, paulatinamente, tem impelindo a população portuguesa para uma atitude de desconfinamento, estimulando a retoma.

As previsões recentes da OCDE, que apontam para uma variação do PIB na zona euro de 5,3%, uma subida em um ponto percentual face aos valores avançados na primavera, e, em particular, a revisão em alta do crescimento da economia espanhola para 6,8%, parecem corroborar o sentimento geral português. A previsão de 3,9% para o crescimento do PIB divulgada no verão pela Comissão Europeia, deverá assim ser muito provavelmente ultrapassada, empurrada pelo dinamismo dos nossos parceiros preferenciais de troca.

Vários fatores, no entanto, influirão no curso dos acontecimentos. No plano do consumo, se o seu crescimento parece irreversível, impulsionado por um otimismo em crescendo, resta ainda determinar o efeito que o fim das moratórias de crédito terá sobre o rendimento das famílias e que dependerá do ritmo de recuperação económica e da capacidade de gerar novos postos de trabalho. A retoma do turismo, beneficiado pela imagem externa de que Portugal é dos países mais bem-sucedidos no seu plano nacional de vacinação, não será alheia a esta equação.

A decisão de manter o modelo de trabalho a distância ou regressar ao presencial será também decisiva. Maior atividade presencial permitirá corrigir as dinâmicas de desequilíbrio entre sectores, beneficiando transportes e restauração.

Do lado da produção, a evolução do preço da energia, com impacto também sobre o consumo das famílias, e dos fretes marítimos, marcarão o trimestre, fazendo-se sentir no custo das matérias-primas e afetando a competitividade das empresas exportadoras. Sendo um resultado da recuperação rápida da procura, são talvez a maior incógnita na evolução da economia global e contribuirão para um clima de incerteza.

Se todas estas dúvidas persistirão por mais um tempo, marcando o ritmo possível da recuperação, parece ser já certa uma taxa de crescimento anual para a economia portuguesa inferior à da zona euro. Sendo Portugal uma das economias mais afetadas pela pandemia, sairá assim do lado dos perdedores, em mais uma crise com efeitos assimétricos. É prioritário corrigir as divergências com a zona euro, o que exigirá capacidade por parte do plano de recuperação e resiliência de libertar a economia portuguesa dos seus anquilosados problemas estruturais.