[weglot_switcher]

Nigéria, Tunísia e Congo na fila para aderirem aos BRICS

Com capacidade de financiamento a crescer face ao aumento de países aderentes, mais três países emergentes africanos manifestaram vontade de aderir. No caso da Tunísia, a União Europeia mostra algumas reservas.
3 Julho 2024, 07h30

A esperança de um crescimento mais rápido da economia foi a alavanca para que a Nigéria tivesse decidido aproximar-se dos BRICS – grupo de economias emergentes inicialmente formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – no quadro de um encontro mantido em Nairóbi, Quénia, em conjunto com o grupo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD).

Segundo a organização, a Nigéria está “em posição privilegiada para aproveitar o enorme potencial oferecido pela aliança BRICS, especialmente porque o foco nacional se alinha com a estratégia de promover o crescimento económico, o desenvolvimento social e os avanços em infraestruturas”.

A Índia é o maior parceiro comercial da Nigéria que, por sua vez, é o maior parceiro comercial da Índia em África. O comércio bilateral total entre Índia e Nigéria durante o ano de 2021-22 registou 14,95 mil milhões de dólares, contra 8,81 mil milhões durante o ano anterior.

“Em coordenação e cooperação adequadas com os BRICS, a economia nigeriana será a melhor”. Na cimeira da União Africana realizada em março na Etiópia, o presidente nigeriano, Bola Tinubu, e seu homólogo brasileiro, Inácio Lula da Silva, concordaram em avivar os laços bilaterais.

O secretário-geral do BAD, Vincent Nmehielle, resumiu o potencial da aliança, afirmando que “os BRICS, juntamente com as novas adesões, oferecem imensas oportunidades de comércio e investimento ao continente africano. Esses países são economias emergentes com uma classe média crescente e um mercado consumidor substancial; a expansão para esses mercados levará a oportunidades de crescimento para o continente.”

Nmehielle enfatizou que acordos bilaterais de investimento podem melhorar as exportações e o desempenho das importações, acrescentando: “Este movimento estratégico pode aumentar a resiliência económica da Nigéria e a integração no mercado global”. A transformação da educação e o desenvolvimento de habilidades é outra área considerada crucial em que a Nigéria pode sair beneficiada dos BRICS. Aquele responsável sugeriu que a colaboração entre o Novo Banco de Desenvolvimento, o BAD e a ONU poderia ser fundamental para identificar, preparar e cofinanciar conjuntamente projetos de interesse mútuo. “Essa abordagem colaborativa pode ajudar a Nigéria a atender às suas necessidades de infraestrutura, promovendo o desenvolvimento económico”.

O desafio energético é uma grande preocupação para os países africanos, especialmente numa altura de transição para energias renováveis e limpas. É por isso que Nmehielle está convencido de que os países africanos precisam de fazer parceria com os BRICS para alcançar uma transição energética “justa e equitativa”.

Por outro lado, e ainda segundo a organização, a Tunísia disse que pretende juntar-se ao bloco de países emergentes. Mahmoud bin Mabrouk, responsável próximo do presidente Kais Saeid. “Não aceitaremos nenhuma interferência nos assuntos internos da Tunísia: estamos a negociar os termos, mas recusamos receber instruções da União Europeia” – que observa com reservas esta aproximação da Tunísia aos BRICS, depois de ter investido fortemente no regime.

Refira-se que, no final do verão passado, a União anunciou investimentos de pelo menos 127 milhões de euros na Tunísia para fortalecer a economia local e promover a diminuição dos fluxos de imigrantes que chegam à Europa pela rota tunisina. Na altura, Ursula Von der Leyen foi fustigada por várias formações políticas europeias, por estar a promover o financiamento de uma autocracia que está cada vez mais agastada dos princípios da democracia. Mas os países mais expostos às consequências da chegada dos refugiados ao território dos 27 apoiaram a iniciativa da Comissão.

Mabrouk descreveu os BRICS como “uma alternativa política, económica e financeira que permitirá à Tunísia abrir-se para o novo mundo”. E enfatizou que a adesão da Tunísia ao grupo daria ao país grandes ganhos económicos. Recorde-se que, em 2018, a Tunísia assinou um acordo para aderir à iniciativa ‘Uma Nova Rota da Seda’, criada pela China em 2013. Para Bin Mabrouk, depois da adesão da Argélia “também anunciaremos a nossa intenção de nos juntar aos BRICS”.

Finalmente, Denis Sassou Nguesso, presidente da República do Congo, chegou a Moscovo esta semana para se encontrar com o presidente russo, Vladimir Putin – a Rússia assegura atualmente a presidência rotativa dos BRICS – para explorar oportunidades de melhoria das relações bilaterais e discutir questões regionais e globais. A República do Congo está interessada em juntar-se aos BRICS ou pelo menos desenvolver laços com o grupo, disse o Sassou Nguesso à chegada à Rússia. “Existe essa perspetiva, está em aberto. Vários países já aderiram ao grupo. O Congo estaria interessado”, disse.

No início deste mês, Ingrid Ebouka-Babackas, ministra do Planejamento, Estatística e Integração Regional do Congo, mencionou que o seu país tem inúmeros projetos importantes que precisam de financiamento substancial – e enfatizou que a solidez financeira do novo banco de investimento BRICS+ pode atuar como um catalisador para ajudar a executar esses projetos de integração.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.